O corredor formado pelos vasos de oliveiras no Bar Mediterrâneo, ambiente criado por Ana Machado e sua filha Paula Salum na mostra Modernos Eternos, funcionou como cenário perfeito para que Valéria Mansur apresentasse as novidades da sua marca homônima. O que se viu na passarela foi uma seleção de modelos que conta bem a história de uma estilista autoral, intuitiva, que acredita no minimalismo e prioriza o trabalho com fibras naturais.
Certamente, esse amor tem ligação estreita com as suas origens: o pai era dono da Tecidos Belo Horizonte, voltada para o atacado, e desde cedo, como ela conta, manteve o contato com essa matéria-prima. Valéria até tentou ser psicanalista, formou-se em psicologia e encaminhou-se para a formação psicanalítica, mas a moda falou mais alto.
“Desde menina desenhava o que queria vestir, minha mãe era arquiteta, mas chegou a ter uma confecção e, na faculdade, eu fazia roupa com tecidos de Bali para movimentar a conta bancária”, explica Valéria, que delegou a Zeca Perdigão a tarefa de editar a coleção que foi desfilada no prédio verde do Iepha, na praça da Liberdade.
Tirando partido do estilo do Valéria Mansur Atelier, cuja aposta é versátil e urbana, e na própria essência da mostra decorativa, que reúne o moderno e eterno, ele pensou em bailarinas modernistas, inspirando-se, sobretudo em duas divas importantes: Isadora Duncan e Anna Pavlova.
O resultado foi uma imagem fresh e romântica, com as modelos usando sapatilhas e faixas nas cabeças, peles claras e bocas vermelhas. “Tentei transportar o dia a dia das bailarinas para a passarela pensando na roupa que elas usariam para ensaiar, para viajar, para ir a uma première ou ao teatro”, ele explica. Embalado pela ambientação do local e pela tarde ensolarada de inverno, o desfile passou leve e cool como a moda que Valéria faz.
Ao lado da pesquisa têxtil que empreende junto aos melhores fornecedores do Brasil, quem conhece o trabalho da estilista sabe que o forte do seu trabalho é a modelagem bem pensada e sofisticada. O exercício da moulage movimenta e valoriza os tecidos, principalmente os planos e lisos, que ela tanto aprecia. Aliado a isso, junta-se uma cartela de cores na qual o preto, o branco, o off white, o azul-marinho, não podem faltar.
Dessa vez, as novidades na paleta são o vermelho e o roxo, que deram dramaticidade ao conjunto desfilado, apoiados pela neutralidade do caqui. Entre os diferenciais, Valéria investiu em uma estampa prateada em forma de listras com efeito meio enrugado e apresentou uma linha de jeans com novas proporções. “Usei também um linho listrado”, pontua, enumerando as outras matérias-primas eleitas para a estação: tricoline, sarja de algodão, voil de algodão, seda pura, crepe e cetim, além do jeans, que está sempre presente.
“Penso sempre na roupa em situações de uso, quando elaboro as peças. Foco na mulher que trabalha, que tem filho, que tem que se deslocar para uma ocasião mais importante. Nada é para ficar no armário, mas sim para transitar pelo dia a dia”, ressalta. E, ao que parece, essa versatilidade é o que garante clientes fiéis, que compram por meio do site ou no atelier que ela mantém em casa. São consumidoras descoladas, que se identificam com o estilo e não abrem mão de um produto bonito, bem-feito e durável.
A divulgação é feita sobretudo pelo Instagram, que canaliza as vendas para o site. “Cuido da produção, que é totalmente terceirizada, o que exige muito cuidado para viabilizar a qualidade”. Vivência em chão de fábrica é o que não lhe falta. Durante os anos 1990, comandou a Formas, uma empresa de moda que teve showrooms nos bairros São Pedro e Prado.
Paralelamente, abriu a loja Cubo, na Savassi, em sociedade com Tatiana Queiróz e Renata Correia, que durou quatro anos, de 2000 a 2004. Em 2010, fechou a fábrica e foi fazer estilo para outras marcas. “Há oito anos, lancei a Valéria Mansur e optei pelas vendas no varejo. Finalmente, encontrei a possibilidade de fazer um produto que eu gosto, que a cliente gosta e, o principal, que faz meu olho brilhar”.
Atenção É acompanhando o movimento de um negócio pequeno, mas ordenado, que Valéria vai lançando as peças na rede. “Sempre desenho a coleção completa e começo a fabricar, mas vou atendendo às demandas. Sei, por exemplo, que vendo muita calça, mas há saída também dos vestidos mais impactantes. E quem trabalha com venda online tem que ter agilidade no atendimento”.
A Valéria Mansur começou assim. Quando a marca ganhou o primeiro lugar no Ready to Go – concurso promovido pelo Sindivest-MG – Sindicato das Indústrias de Vestuário de Minas Gerais e organizado pelo TS Studio, no Minas Trend, com o objetivo de revelar novos talentos –, a estilista já havia optado por esse modelo.
A premiação aconteceu na edição de 2016 e contribuiu, como ela admite, para dar uma grande visibilidade ao trabalho. Entre as fãs de carteirinha, conquistou a blogueira Consuelo Blocker, detentora de milhões de seguidores no instagram, que se tornou admiradora e passou a usar as peças e postar na rede.
O próximo passo foi abrir junto a duas amigas uma loja colaborativa, a Aro, na rua Antônio de Albuquerque, na Savassi. As parceiras eram Tatiana Queiróz, com a marca homônima, especializada em joalheria, cujas criações também foram mostradas, agora, no desfile, e Luisa Jordá, do ramo de calçados veganos, cujo negócio foi encerrado.
Para surpresa do trio, tudo ia correndo muito bem até que o imóvel que alugavam foi vendido para uma construtora e, logo depois, derrubado. “Foi no final de 2019 e, logo depois, veio a pandemia. Voltei para a venda online e tive um resultado muito bom. Essa época foi importante porque trouxe muito aprimoramento tecnológico. Aprendemos a lidar com o virtual de forma inteligente e dinâmica”, conta Valéria.
No entanto, apesar dos bons resultados financeiros, ela não descarta o retorno a um ponto comercial “Acho muito positivo a experiência física, o contato com o produto, experimentar a roupa, conhecer a coleção completa nas araras”, garante. Então, aguardem: brevemente, Valéria terá novidades para contar.
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