Jornal Estado de Minas
Arte

Novo capítulo da história



Flávia Albuquerque entra com a experiência e o olhar apurado para a arte. Lucas Albuquerque contribui com a juventude e os estudos na Europa. Juntos, mãe e filho conduzem o novo momento da galeria Celma Albuquerque, na Savassi, com 25 anos de história, que agora se chama Albuquerque Contemporânea. Ao mesmo tempo em que planejam a internacionalização dos negócios, eles querem se abrir cada vez mais para a cidade. O desejo é transformar Belo Horizonte em um centro mundial de arte.
 
“Precisei dessa mudança, de me reinventar. O Lucas entrou com energia nova, vontade de fazer diferente, achando o trabalho interessante, então é um momento muito especial para mim e para a marca”, destaca Flávia. Lucas também sentia que era a hora de mudar. “Estava na hora de a galeria se modernizar, ficar mais conectada com as tendências e com novas maneiras de mostrar a arte.”
As histórias de mãe e filho, que são muito parecidas, se cruzam profissionalmente neste momento.
Flávia convive com arte desde criança e começou a trabalhar na galeria ainda adolescente. Mais tarde, ela e o irmão, Lucio, assumiriam a direção, dando continuidade ao trabalho da mãe, Celma Albuquerque. “Nunca pensei em outra profissão ou outra maneira de viver a vida”, comenta Flávia. Seu irmão comanda em Brasília a galeria Casa Albuquerque.
 
Uma das apostas dos galeristas, a multiartista Chris Tigra trabalha muito com tecidos - Foto: Daniel Mansur/Divulgação 
 
Com Lucas, o caminho não foi muito diferente. Ele não consegue se lembrar da vida sem estar totalmente rodeado por arte. A galeria era o quintal de casa. “Frequentava todos os dias, sempre muito envolvido, mesmo sem entender o que estava acontecendo.” Na fase mais rebelde da adolescência, o filho se afastou, por não querer fazer o mesmo que a mãe, mas não demorou a voltar ao seu habitat.
Viagens em família eram (e ainda são) para ver arte.
 
Com uma agenda contínua de exposições, como a da artista Efe Godoy (foto), o espaço mostra que está de portas abertas para o público em geral - Foto: Daniel Mansur/Divulgação 
 
Desde então, Lucas nunca mais se distanciou da galeria. Mas não pensava nisso como profissão, pelo menos não naquele momento. Estudou relações internacionais e trabalhou com marketing digital até se dar conta de que não estava feliz. “Um dia, chamei a minha mãe para conversar, disse que não estava gostando do rumo que a minha vida profissional tinha tomado e estava pensando em estudar arte. Ela ficou muito feliz e me ajudou a escolher o curso.”
 
Foram quase dois anos fora do Brasil. Primeiro ele estudou artes e negócios na Sotheby’s, em Londres. “Esse curso me despertou a vontade de trabalhar com arte, só que não queria voltar para a galeria e sentir que estava lá só por ser filho da minha mãe. Queria estar como uma pessoa que pudesse agregar”, conta Lucas, que emendou um curso de gestão cultural em Florença, seguido por um estágio na Galleria Continua, uma das maiores do mundo, e pós-graduação em arte e gestão em Paris.
 
Quando estava no meio do último curso, veio a pandemia e ele teve que voltar para BH.
Enquanto terminava as aulas à distância, conversava com a mãe sobre como seria sua atuação na galeria. Há mais ou menos um ano, eles oficializaram a parceria, que revolucionou a marca.
 
As mudanças começaram pelo nome, de Celma Albuquerque para Albuquerque Contemporânea. Flávia conta que foi muito sofrido tirar o nome da mãe, “a grande fundadora e idealizadora do projeto da nossa vida”, mas, no fim, eles conseguiram fazer isso com sensibilidade e agregando tudo o que era importante para a história da família.
 
A marca agora é formada por três círculos azuis, que remetem a uma jabuticabeira. “A minha mãe tinha uma história incrível com essa árvore. Ela mudou o projeto da galeria por causa da jabuticabeira e a protegia como se fosse uma pessoa da família. Vejo muito a presença da minha mãe nela”, explica Flávia. Três “jabuticabas” indicam que o negócio está na terceira geração.
 
“Isso deixou as coisas mais leves e sem o peso de negar algo feito pela minha mãe. Estamos dando continuidade ao sonho dela, que achava que a arte salvava o mundo e queria ver a galeria com a quarta, quinta geração da família, então ela está feliz com essa história.” Celma se envolveu com arte como colecionadora e se tornou uma grande galerista. Em 1988, abriu a Cromos e, 10 anos depois, a Celma Albuquerque, no mesmo endereço de hoje, onde começou a fazer exposições. Ela morreu em 2015.
 
A palavra contemporânea não está ali por acaso.
Sinaliza que a galeria trabalha com arte contemporânea e que está comprometida em divulgar o trabalho de artistas contemporâneos. Flávia sempre teve o olhar para os jovens, em início de carreira, que acabam sendo representados pela primeira vez pela sua galeria. Segundo ela, isso é “extremamente importante” para qualquer galerista que queira trabalhar com arte contemporânea.

EXPOSIÇÕES Foi coincidência, mas a exposição que inaugurou oficialmente o novo momento da galeria, na última quarta-feira, é de Alan Fontes, que fez sua estreia em 2004, representado pela então Celma Albuquerque. Seu trabalho de pintura em várias superfícies ocupa neste mês o piso térreo com a mostra “A Casa do Finito”. Já o artista visual Eduardo Hargreaves exibe no mezanino uma coletânea de obras das suas recentes exposições “Brasil, Hy Brasil” e “Cartas para um lugar”.
Sempre em busca de novos talentos, a galeria revela suas apostas: o pintor Mateus Moreira, a artista multimídia Chris Tigra e o escultor Iago Gouvêa.
 
O caminho para a internacionalização tem sido construído aos poucos. Passa pela nova marca, pelo novo site (que está mais dinâmico) e pelos contatos que Lucas fez na temporada na Europa. O desejo de ampliar fronteiras não considera apenas o alcance que a galeria terá, mas também a relevância que a cidade pode ganhar. Por que não transformar BH em um centro importante de arte no mundo?
 
“As pessoas acham que, para ser relevante no mercado da arte, você tem que ir para São Paulo. Queremos fazer com que esse movimento não seja mais necessário. Que as pessoas sintam que em BH já tem um lugar que possibilite alcançar os seus objetivos, seja um artista querendo construir uma carreira internacional, um colecionador ou um morador que queira ver uma exposição”, analisa Lucas.
Flávia acrescenta: “BH é um celeiro de artistas incríveis e acho que é um presente sermos vizinhos do Inhotim, um dos maiores museus-parque do mundo.”
 
Voltando o olhar para a cidade, mãe e filho querem se aproximar do público em geral.
Mostrar que o endereço não é só uma loja, mas um lugar de exposições, encontros e discussões. Flávia defende que a galeria pode ser tão frequentada quanto praças e museus.
 
“Temos que acabar com essa visão de que somos um espaço de comércio de arte. A galeria fica fechada por questão de segurança, mas está totalmente aberta à visitação do público em geral. Não precisa querer comprar, basta entrar que todos vão ser bem-recebidos. Aqui não tem nenhum tipo de afetação. Queremos receber muitos visitantes”, avisa.
 
Juntos nessa caminhada, Flávia e Lucas unem esforços e habilidades. “Além de toda competência e esforço, o Lucas é um cara muito boa praça, com quem todo mundo gosta de lidar. Isso traz leveza para o nosso trabalho”, derrete-se a mãe. E o filho não poupa elogios. “Admiro muito o jeito que ela encara a vida. É a pessoa mais batalhadora que conheço. Profissionalmente, tem o talento para descobrir artistas novos e montar expografias. Todo mundo que vem à galeria elogia o espaço.”
 
Serviço

Albuquerque Contemporânea
Rua Antônio de Albuquerque, 885, Savassi
(31) 3227-6494 
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