Jornal Estado de Minas
entrevista Lúcia Helena Monteiro Machado - escritora

Mulheres Incríveis

 

 

Lúcia Helena Monteiro Machado começou sua vida no meio das artes como bailarina, com ninguém menos que o renomado Klauss Vianna e sua Angel. Fez psicologia, atuou na área por mais de 30 anos e sempre foi dona de uma qualidade que a levou a trilhar novos caminhos: a curiosidade. Amante das artes, sempre estudou muito sobre o tema e virou professora. O interesse em viajar e ver de perto as maravilhas expostas mundo afora a levou aos quatro cantos do mundo. Conhece quase todos os museus que existem. E decidiu compartilhar seu conhecimento escrevendo livros que apontam o que há de melhor e mais belo nos lugares por onde passou, com endereços imperdíveis. Há 25 anos, fez uma série de matérias sobre importantes mulheres da história, a pedido da editora deste caderno, e, no próximo sábado, ao meio dia, lança o livro “Mulheres Incríveis”, que reúne essas matérias, além de uma série de artigos, de temas diversificados, que escreveu para o Caderno Pensar.

 

Como foi sua vida de bailarina com Klauss Vianna?

Foi a melhor época da minha vida. A vida cultural de Belo Horizonte estava no seu período áureo com o Teatro Universitário, o Teatro Experimental e o Madrigal Renascentista.

Numa cidade ainda acanhada, com poucos teatros e pouco recursos, fazíamos coisas incríveis. O Teatro Experimental tinha a ousadia de levar Ionesco. Klauss era uma pessoa incrível. Fazia coreografias avançadíssimas para a época. Dançávamos sem música, apenas com um côro que recitava um poema de Drummond, o ritmo poético nos guiava. Dançávamos o Amanuence Belmiro, baseado em Cyro dos Anjos com barulho de máquinas de escrever, já que o romance se passa em uma repartição pública. Mesmo quando Klauss coreografava um balé nos moldes clássicos, como fez com o Concerto Barroco, com música de Vivaldi, ele dava uma interpretação nova, muito pessoal.
Em 2017 participei de uma semana toda dedicada a Klauss e Angel Vianna, na Sorbonne Saint Denis, que é a parte da famosa universidade francesa que se dedica às Artes Cênicas. Havia um enorme cartaz com a foto do casal e o título do seminário que se chamava “Créer a Deux- Klauss e Angel Viana”. Fiquei muito orgulhosa de participar e dar meu depoimento, me emocionei vendo a famosa universidade francesa dando tanta importância a dois mineiros esquecidos no Brasil.

 

Em qual área atuou como psicóloga?

Trabalhei como psicóloga durante 30 anos no ramo do ensino, trabalhando em escolas. Gostei muito deste período, que me deu muita vivência.

 

O que te levou a escrever livros dando dicas preciosas para quem gosta de fazer uma viagem diferenciada?

Quando comecei a viajar, percebi que as pessoas viajavam muito mal, sem saber nada sobre o lugar que visitariam e perdendo muito tempo. Curiosa que sou, cada vez que viajava, fazia um bom plano e estudava muito sobre os lugares que ia conhecer. Parti de um princípio: Por que viajo? e concluí que, se você sabe o por quê, vai saber como. No intuito de ajudar as pessoas a viajar melhor, publiquei meu primeiro “Guia de Paris para brasileiros”. Foi um sucesso, apesar de eu não gostar do nome, pois não há uma Paris para brasileiros, outra para americanos ou espanhóis etc, mas a editora insistiu no nome.

Daí para os outros livros foi um passo.

 

Você vai lançar nova edição do livro “Mulheres Incríveis”. Como está esse “novo” trabalho?

O Álvaro Gentil, da editora Ramalhete, leu a primeira edição, que saiu cheia de falhas, apesar do belo prefácio do amigo Silviano Santiago, e me disse que gostaria de fazer uma segunda edição, mais caprichada. Todas as matérias foram publicadas, anteriormente, no Estado de Minas. Há 25 anos, Anna Marina me pediu para escrever sobre mulheres que ultrapassaram seu tempo. Foi o que fiz. Comecei com Christine de Pisan, uma escritora do século 14. Passei para Artemisia Gentileschi, grande pintora do Renascimento Italiano e que foi a primeira mulher na história a abrir um processo por estupro. E ganhou a causa. Passei para Elizabeth Vigée Le Brun, a pintora preferida de Maria Antonieta. Visitei as escritoras inglesas do século 19 até chegar a algumas excelentes impressionistas que ficaram “escondidas” atrás de seus companheiros homens, Renoir, Monet etc...

Quando João Paulo Cunha era editor do Caderno Pensar, do Estado de Minas, ele me pedia para colaborar, o que eu fazia com o maior prazer. Foi assim que escrevi sobre os temas mais variados, ao sabor das ondas. Escrevi sobre cinema, psicologia, arte (entre minhas atividades, houve um período em que dei cursos sobre história da arte). Sendo “rato de museu”, acabei lendo muito sobre o assunto a ponto de me aventurar e ensinar o que sabia a outras pessoas.

 

Você é uma mulher inquieta. Quais são os novos planos?

Tenho pensado muito em escrever sobre outras mulheres incríveis. Uma é uma santa do século 12, que fez coisas impressionantes e acabou sendo conselheira de papas e imperadores. Trata-se de Hildegard Von Binguen. Ela escreveu músicas e livros, um deles é a incrível Teologia do Feminino. Outra é Isabelle Eberhart, que morreu aos 26 anos. Mas o livro que tenho sobre ela tem 1,2 mil páginas! Uma mulher incrível.

Outra é Alexandra David Neel, mais próxima do nosso tempo. Mas a lista é grande e pode terminar com uma nossa contemporânea, Simone Veil, que foi a pessoa que mais rapidamente foi colocada no panteon de Paris, apenas três meses depois de sua morte. Tenho vontade também de escrever sobre as mais belas praças e pontes da Europa. São apenas planos... 

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