Aos 17 anos, ainda em seu primeiro emprego, André Namitala, que hoje ocupa a posição de diretor-criativo na Handred, se deparou com uma obra assinada pelo maior nome do design de mobiliário nacional, Sérgio Rodrigues. Nesse momento, percebeu imediatamente a harmonia entre seus futuros interesses pessoais e profissionais e a linguagem do móvel. Influenciado pelas referências do século 20, no qual o Modernismo desempenhava um papel central, André fundou a Handred em 2012, incorporando a atmosfera daquela época ao conceito de sua marca de moda, trabalhando com insinuações do design, das artes e da arquitetura.
Ao longo dessa trajetória, o estilista construiu sua carreira em paralelo com as influências do designer. Ao adquirir sua primeira poltrona assinada pelo mestre, compreendeu que o mobiliário conversava diretamente com as roupas da marca devido à simplicidade. No lançamento da primeira fase da sua coleção verão 2024, André apresentou a união entre moda, mobiliário e sua profunda admiração por Rodrigues, intitulada Handred Sérgio Rodrigues.
"Esse projeto com a Handred foi, desde o início, um desafio inédito. A primeira parceria que fizemos no Instituto Sérgio Rodrigues num formato comercial, e a primeira vez que associamos a obra de Sérgio ao mundo da moda. O entusiasmo legítimo, a forma séria e criativa como André Namitala conduz seu trabalho, nos deram a confiança para seguirmos em frente", revela Fernando Mendes, nome-chave quando se fala no legado do designer, com quem trabalhou e conviveu por quase trinta anos, sendo sócio-proprietário da marca Sérgio Rodrigues Atelier.
Por motivos de escala e proporção, as roupas e os móveis são classificados de formas distintas, sem deixar evidentes as tantas intersecções, encontros e coincidências que revelam semelhanças. Segundo Mendes, os incontáveis personagens que Sergio desenhou, assim como ele próprio nas suas autocaricaturas durante seus 60 anos de criação, expressam humanidade com gestos, movimentos, e vestes. Por esse motivo, pode-se dizer que o designer tinha algum encanto pela moda.
padrões estéticos
A identidade da Handred é baseada em roupas amplas, confortáveis, para que o corpo possa dançar, respirar e se esparramar. A mesma ideia era aplicada no mobiliário de Sérgio Rodrigues, tornando a parceria complementar. Há dois anos, André projeta e executa o transporte de todo o universo criativo de Rodrigues aos seus suportes de ofício – o linho, a seda, a organza e o algodão –, mergulhando em um mar de documentos do Instituto que homenageia o designer. Ao mirar nos desenhos de arquitetura e de interiores, o estilista transforma as perspectivas de Sergio, encontrando novas linhas e novos pontos de fuga. A partir dos objetos concebidos, a Handred imagina aplicações que recriam padrões estéticos e transformam a utilidade que foi idealizada pelo designer.
A coleção é uma das mais robustas da marca, tendo mais de 100 peças limitadas, nos seus característicos materiais como linho, seda, e também no inesperado couro, trabalhado de uma forma bem suave e nada invernal. São destaques os bordados de madeira, fruto da expertise entre os ateliês, além dos que reproduzem objetos e móveis em pequenas escalas 2D. Somados à silhueta livre e despretensiosa das peças, foram agregados novos volumes e proporções, principalmente nas peças que protagonizam o olhar feminino, já que a linha abrange os primeiros vestidos da marca, além das túnicas e chemises.
Na cartela, além dos esperados tons de madeira, há uma combinação bem rodriguiana de vermelho vibrante e pistache (cores preferidas de Sérgio). As estampas são divididas em três nomes: Perspectivas, Personagens e Cuiabá. A primeira, como a palavra sugere, traz episódios do cotidiano em versões coloridas com detalhes de aquarela. Em Personagens são evidenciadas referências dos anos 70, em preto e branco, enriquecidas por minuciosas estampas. E Cuiabá celebra uma das linhas mais renomadas de Sérgio, sendo menos figurativa e mais gráfica.
A linha promete ser utilitária e com olhar modernista. As criações serão desfiladas no SPFW, na próxima edição N56 e, além de apoiar, durante todo um semestre, o núcleo de arquivamento do Instituto Sérgio Rodrigues, todas as cinco lojas da Handred serão mobiliadas com peças SR. Parte do resultado das vendas será revertida ao instituto.
Esta parceria celebrada na Coleção Handred Sérgio Rodrigues não é apenas sobre roupas, mas sobre identificação, sobre legado e sobre fazeres. Apresenta o Modernismo despido do passado e vestido de liberdade, no seu sentido mais amplo. Do Instituto aos ateliês, o lançamento não é apenas para trazer algo novo, mas tem o propósito de celebrar os encontros e enxergar coincidências que unem possibilidade. n
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