Com quase 30 anos de carreira, já realizada na profissão, Eduarda Correa viveu uma emoção inesperada. A arquiteta de Belo Horizonte recebeu dois prêmios no concurso The International Property Awards – Américas com o projeto da casa Vila Angatu, em Itacaré, na Bahia. Brilhou aos olhos dos estrangeiros o uso de materiais locais, como tala de dendê, folha de bananeira e palha. Detalhista ao extremo, Eduarda se destacou ao longo desses anos com um trabalho de design de interiores que privilegia elementos atemporais.
O que levou você para a arquitetura?
A minha mãe era dona da loja de móveis e decoração Tetum e, de certa forma, ela me influenciou. Sempre gostei de desenhar, de fazer trabalhos manuais e falava que ia ser artista plástica. Foi a minha mãe que disse: “quem sabe você não faz arquitetura, é uma profissão que abrange muitas áreas”. Fui estudar arquitetura, me formei no fim de 1994 e montei meu escritório nos jardins da casa dos meus pais, no Bairro Sion. Na época, a arquitetura era bem manual, então trabalhava com prancheta, papel vegetal, tinta e nanquim.
Você se especializou em algum tipo específico de projeto?
Teve um fato que foi decisivo para a minha carreira. Fui fazer estágio em São Paulo com um grande arquiteto de edifícios e ele me falou: “Não tenha preconceito de trabalhar com interiores. Enquanto tem um arquiteto fazendo edifício, aparecem 30 oportunidades de decoração”. Ainda não existia o nome design de interiores. Isso abriu a minha cabeça.
O que tem em comum nos seus projetos?
Os meus projetos são muito atemporais.
Fale de algum projeto que te marcou.
Com a Tetum, a loja da minha mãe, que depois virou Líder, tive a oportunidade de fazer um projeto sustentável. Contei com a consultoria de uma empresa para conseguir a certificação LEED de sustentabilidade. Foi o primeiro edifício comercial de Minas Gerais que recebeu esse selo. Isso foi em 2013. Fiz uma imersão no mundo da sustentabilidade, então considero esse um trabalho muito interessante e enriquecedor.
Como surgiu a oportunidade de participar do prêmio?
Um representante da empresa que faz o The International Property Awards, com sede em Londres, entrou em contato comigo há dois anos falando que tinha visto o meu trabalho e que achava que eu tinha potencial para entrar nesse concurso. Falei que tinha interesse, mas que ia terminar um projeto para me inscrever. Terminei a casa na Bahia e, no início do ano, comecei a montar o portfólio para mandar para o concurso.
O que esses prêmios significam para você?
Esse reconhecimento no exterior é muito gratificante. Já tinha recebido vários prêmios aqui no Brasil, mas a premiação internacional foi a coroação do meu trabalho. Vou fazer 30 anos de formada e essa era uma conquista que não tinha. Acho que tudo isso abriu minha visão para levar meu trabalho para o mundo.
Conte um pouco da história do projeto da casa em Itacaré.
Os clientes são mineiros e queriam uma casa de praia grande para receber família e amigos. Apesar de ser uma casa muito contemporânea, com linhas muito modernas e cosmopolitas, usamos muitos materiais locais. Acho que por isso o projeto brilhou aos olhos dos estrangeiros. Lá tem painéis com revestimento de tala de dendê, feito na Bahia mesmo; tem papel de parede feito com folha de bananeira; tem palha revestindo mobiliário; tem um painel grande com flores de cerâmica feitas por artesãs do Vale do Jequitinhonha, trazendo um pouco do artesanato brasileiro.
Depois dessa conquista, o que você quer para o futuro?
Para ser sincera, estou bem satisfeita com o que desenvolvi até agora.