Jornal Estado de Minas

Comunidade dos Arturos celebra 119 anos da libertação dos escravos no Brasil

A Comunidade dos Arturos, formada por afro-descendentes e sediada em Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, promove neste sábado e domingo uma série de atividades para celebrar os 119 anos da libertação dos escravos no Brasil, em 13 de maio de 1888. A Festa da Abolição, realizada desde 1972, é uma manifestação folclórica da comunidade, marcada por encenações que retratam a época do cativeiro, e terá seu ápice com a apresentação, no Espaço Popular, da cena da quebra das correntes pelos escravos, depois da assinatura simbólica da Lei Áurea. A programação começa às 19h e é aberta à população. Todos os anos, cerca de 2 mil pessoas participam da festividade, que está incluída no calendário oficial da Prefeitura de Contagem. A Comunidade dos Arturos é formada por 45 famílias, aproximadamente 450 pessoas, todos negros, descendentes de Artur Camilo Silvério, nascido em 1885. Morando na sede histórica de Contagem, eles constituem um grupo folclórico-cultural que se preocupa em divulgar as tradições herdadas dos ancestrais, por meio da música e dança religiosas de origem africana, de acordo com Jorge Antônio dos Santos, de 39 anos, diretor de eventos da Irmandade Nossa Senhora do Rosário da Comunidade dos Arturos, e capitão da Guarda de Moçambique. As celebrações e ritos são feitos por meio do candombe, congado, festa do João do Mato, folia de reis, eventos festivos de batuque, além do grupo de percussão e dança afro Arturos Filhos de Zambi, formado por jovens da comunidade. A festa da abolição faz parte das celebrações do congado, que inclui também as homenagens à Nossa Senhora do Rosário, padroeira dos escravos, no mês de outubro. Todo ritual é sagrado e a fé é demonstrada no vestuário, nos instrumentos e na dança. Como fator de aliança, a festa é o momento sublime e sacrossanto , disse Jorge Antônio. A comunidade foi fundada há cerca de 120 anos por Artur Camilo Silvério, filho do escravo Camilo Silvério, que veio de Angola em navio negreiro em meados do século 19. Ao chegar ao Brasil, Camilo Silvério conseguiu sua carta de alforria e se estabeleceu em Minas Gerais, no povoado Vila de Santa Quitéria, em um lugarejo chamado Ilha do Macuco, atualmente a cidade de Esmeraldas. Casou-se com a escrava alforriada Felisbina Rita Cândida, com quem teve seis filhos. Desses, destacou-se Artur Camilo Silvério, que mais tarde fundou uma comunidade em seis hectares de terra no povoado Domingos Pereira, hoje Jardim Vera Cruz, em Contagem. Artur Camilo casou-se com a negra Carmelinda Maria da Silva, e desse casamento nasceram 10 filhos. Os arturos representam o resgate da memória, a preservação das tradições culturais afro, na religiosidade e união da comunidade, no sentido da liberdade de todo o povo negro , ressaltou Jorge. Mais informações sobre as festividades na Comunidade dos Arturos na Rua Capelinha, 50, Jardim Vera Cruz, Contagem - (31) 3398-2900, 3395-8373, com Jorge Antônio, ou na Coordenadoria de Cultura de Contagem, telefone (31) 3352-5343, com Nádia Pereira.