Ricardo Maciel, coordenador da Divisão de Imunobiológicos da Fundação Ezequiel Dias, já sofreu um acidente de trabalho. Num momento de distração, foi picado por uma coral, o que lhe rendeu “dores insuportáveis” e atrofia em dois dedos. Ele explica que a aplicação do soro deve ser feita em hospital, pois o medicamento pode causar choque no paciente.
A fundação mantém um serpentário, com várias espécies, para coletar veneno, inoculá-los em cavalos, retirar o sangue dos animais, transformá-lo em plasma e, daí, partir para a fabricação do antídoto.
Para o presidente da Funed, Carlos Alberto Pereira Gomes, os caçadores de cobras são mais que voluntários. “Eles são nossos parceiros”, explica.
No caso brasileiro é prudente lembrar que o número de picadas representa apenas a contagem oficial (casos notificados). Muitos pessoas preferem tratamentos alternativos à aplicação do soro ou simplesmente não têm meios ou tempo suficientes para se deslocar até um hospital. É aí que entra o benzedor, figura folclórica, abundante no interior de Minas e do Brasil, quando o assunto é cobra e seu comportamento. As lendas e ‘causos’ dão para preencher uma enciclopédia.
Oswaldo Alípio Fugueiredo, de 68 anos, sempre morou em Curvelo e trabalhou na roça. Cedo, aprendeu o ofício de benzedor e ficou conhecido na região. Sua especialidade é benzer animais feridos por picadas de cobra, mas já fez o mesmo com pessoas. Ele conta casos incríveis e diz que pode benzer até a distância, se não for possível chegar a tempo. Oswaldo diz que a arte de benzer, as palavras ditas em voz baixa, são passadas de uma pessoa para outra. “O benzedor só pode ensinar as palavras para uma única pessoa. E essa, por sua vez, só pode passar para uma outra.