Jornal Estado de Minas

Minas combate os vilões do efeito estufa


A necessidade de diminuir o desmatamento, de melhorar o transporte público, de incentivar o uso de energias renováveis e a reciclagem é a principal evidência do 1º Inventário de Emissões de Gases do Efeito Estufa (GEE) de Minas Gerais, divulgado terça-feira pela Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam). Em 2005, Minas lançou na atmosfera 122,9 milhões de toneladas de gases, a maioria (60,6%) de gás carbônico. No estado detentor do maior rebanho leiteiro do país, com 20 milhões de cabeças de gado, a atividade pecuária é a principal fonte emissora, respondendo por 29,4% do total. Mas a contribuição do homem para o efeito estufa fica mais clara quando as outras fontes são identificadas: o desmatamento ou uso do solo para agricultura e pastagem responde por 19,8% das emissões, seguido pelo consumo de energia na indústria (16,8%), transportes (13,5%) e tratamento de resíduos (5,9%).



O lançamento excessivo na atmosfera de dióxido de carbono (CO2), metano (CH4) e o óxido nitroso (N2O), entre outros, leva ao aquecimento global. Esses gases formam uma espécie de cobertor cada dia mais espesso, que torna o planeta cada vez mais quente e não permite a saída da radiação solar. O resultado é o aumento da temperatura média do planeta e da intensidade de eventos climáticos extremos, como inundações, ondas de calor, secas e furacões. “O inventário é o primeiro passo para cada um dos setores de Minas tomar medidas para diminuir a emissão de gases. Reafirma a importância de se consumir energia com mais eficiência, usar fontes alternativas e recuperar áreas degradadas”, explica o diretor de Pesquisa e Desenvolvimento da Feam, Paulo Eduardo Fernandes de Almeida.

Em 2005, ano escolhido para a análise, a emissão per capita de Minas foi de 6,4 toneladas de gases por habitante, índice maior que o registrado no mesmo ano no Rio de Janeiro (4,5 toneladas/habitante), mas bem abaixo do registrado em 2003 nos países da União Européia (11 toneladas/hab) e nos Estados Unidos (23,4 toneladas/hab). O uso de combustíveis renováveis (álcool, biodiesel, entre outros) no estado supera o de combustíveis não-renováveis (carvão, petróleo, gás): 53 milhões de toneladas do primeiro, contra 42 milhões de toneladas do segundo, o que Paulo Eduardo considera uma excelente notícia.

O detalhamento dos combustíveis não-renováveis mostra que o uso de óleo diesel gerou os maiores níveis de emissão, com aproximadamente um terço de participação, devido ao seu uso nos transportes. Em seguida vem o coque de carvão mineral (24,5%) e gasolina (9,9%). A análise da participação de cada um dos setores da indústria na emissão dos gases em Minas põe a siderurgia como maior vilã. O setor é responsável por 72,7% das emissões entre as indústrias. A emissão de 36,1 milhões de toneladas de gases pela pecuária é explicada pela fermentação que ocorre durante o processo digestivo de bois e vacas e pelo manejo de dejetos, que resultam na emissão de gás metano, com 21 vezes mais poder de aquecimento na comparação com o gás carbônico.



Cenário

Iniciado em janeiro de 2008, o documento foi elaborado pela Feam com apoio do Instituto Estadual de Florestas (IEF) e consultoria do Centro de Estudos Integrados sobre Meio Ambiente e Mudanças Climáticas – Centro Clima/Coppe, vinculado à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). De acordo com o pesquisador Alexandre d’Avignon, um dos responsáveis pelo estudo, o próximo passo do trabalho será a construção dos cenários de emissão de gases em Minas, em 2010, 2015 e 2020. “Depois de conhecer o problema, é possível indicar como será a situação do estado a partir da estrutura de desenvolvimento que for seguida”, afirmou.

Embora o Centro Clima/Coppe ainda não tenha acertado com o governo de Minas a continuidade do trabalho, a Feam considera a iniciativa importante para que subsidie a proposição de uma política estadual de mudanças climáticas, em articulação com a nacional e outras ações públicas relacionadas. O órgão trata a construção do inventário como um marco institucional que contribui para que o Brasil cumpra seus compromissos como parte da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima (CQNUMC). O inventário de Minas foi elaborado a partir da metodologia do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas, da Organização das Nações Unidas (ONU).

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