Prisão de serial killer aumenta ansiedade de famílias por respostas

A roseira de flores amarelas plantada na entrada da casa da aposentada Senir Paiva de Souza, de 69 anos, tem para ela um significado muito mais especial do que um mero enfeite de jardim. Simboliza a lembrança da filha, a secretária da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Elizabeth de Souza Pinheiro, que tinha 38 anos quando desapareceu, em 10 de março de 1999, ao sair do trabalho, no câmpus da Pampulha, em Belo Horizonte. A ossada de Elizabeth foi encontrada, por acaso, por operários que em 2005 faziam escavações na mata da UFMG. O crime completa 11 anos nesta semana e, até hoje, não há pistas ou indícios que levem à identificação e prisão do autor.

A resposta dada pela Polícia Civil à sociedade ao prender, em 24 de fevereiro, após três meses de investigação, Marcos Antunes Trigueiro – maníaco que confessou ter estuprado e estrangulado cinco mulheres na Grande BH – contrasta com a ineficiência na elucidação de assassinatos ocorridos há mais tempo, como o da secretária Elizabeth. De 1999 a 2009, a Secretaria de Estado de Defesa Social contabiliza 8.827 homicídios na capital, média de 802 crimes por ano. No ano passado, apenas cerca de 350 acusados, que foram identificados e indiciados, sentaram-se no banco dos réus do Fórum Lafayette, segundo o promotor Herman Lott, do 2º Tribunal do Júri. O fórum não informou dados de anos anteriores.

Além de Elizabeth Pinheiro, pelo menos outras 17 mulheres desapareceram entre março de 1999 e março de 2001, na capital e em Contagem, na região metropolitana. Muitas sumiram próximo ao Shopping Del Rey, no Bairro Caiçara, e às margens do Anel Rodoviário e Via Expressa, na Região Noroeste de BH, o que gerou a suspeita da ação de um serial killer. Corpos ou ossadas de 14 vítimas foram localizados posteriormente, mas as investigações policiais não avançaram e os assassinatos continuam sem esclarecimento ou punição. Quatro mulheres permanecem desaparecidas. A impunidade nesses casos representa 11 anos de angústia e frustração para pessoas como dona Senir, que ganhou a muda de roseira do marido na ocasião em que a filha desapareceu. “Quando ele me deu, disse que as rosas se chamariam Beth. Quando um botão se abre, eu converso com ele. São perfumados, como a minha filha era. Quanto à investigação, nunca mais nos informaram nada”, resumiu a aposentada, bastante emocionada.

De janeiro a setembro de 2006, pelo menos 25 crianças, de 3 meses a 14 anos, também sumiram em Belo Horizonte e região metropolitana. Até agora, quase nada se sabe sobre os crimes. Entre as vítimas está Pedro Augusto Prates Beltrão, que desapareceu em agosto de 2006, aos 11 anos, quando saiu de casa, na Região Centro-Sul de BH, para comprar lápis de cor. A ossada do garoto foi encontrada em 17 de agosto de 2007, na Mata do Camargos, na Noroeste.



Para famílias como a do garoto, que espera por justiça há anos, a prisão de Marcos Antunes Trigueiro aumenta ainda mais a angústia. “Continuamos sem novidades. Sempre que um fato como esse vem à tona, vivemos a mesma dor, o mesmo pesadelo. Será que os familiares destas mulheres (vítimas do serial killer) ficaram mais confortados com a prisão dele?”, pergunta-se a socióloga Cléia Santos, de 46, mãe de Pedro Augusto. Uma dúvida com que ela continuará convivendo até que seja preso quem tirou a vida do seu filho.

Paradeiro

Se dona Senir e Cléia têm a certeza de que seus filhos estão mortos, a dona de casa Ione Augusta da Silva, de 41, ainda espera reencontrar a filha Carla Emanuelle da Silva, que tinha 11 anos quando saiu de casa para comprar macarrão num supermercado do Shopping Del Rey. O desaparecimento completou 11 anos no dia 5 e até hoje não foram levantadas pistas do paradeiro da menina. “Há 15 dias a polícia me pediu fotos de parentes, para fazer uma imagem envelhecida da Carla, mas não há pistas concretas. Desde que ela sumiu, meu coração de mãe não vale um tostão”, disse.

Por meio da assessoria de imprensa da Polícia Civil, o chefe da Divisão de Crimes Contra a Vida, Wagner Pinto, informou que, devido ao excesso de trabalho das delegacias, não seria possível comentar cada um dos inquéritos sobre desaparecimentos e assassinatos das 18 mulheres e 25 crianças. O delegado ressalta que as investigações estão em andamento e que todas as informações que chegam são checadas.

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