Jornal Estado de Minas

Adolescentes representam 13% do total de cirurgias plásticas feitas em um ano

Enquanto outras meninas da idade dela ainda sonhavam com o primeiro sutiã, Gabriela Lopes de Souza já escondia as mamas enormes no número 46. “Apesar de só ter menstruado aos 14 anos, meus seios começaram a crescer aos 10.” Para não ser alvo de olhares alheios, ela ainda colocava um top por cima do sutiã e uma blusa enorme, que lhe dava aparência de mais gorda do que era. Com 1,60 metro, costas estreitas, Gabriela era infeliz demais. “O peso das mamas inclusive alterou minha postura”, explica.



Aos 16 anos, procurou a ajuda de um cirurgião plástico, que retirou 500 gramas de cada lado. Gabriela se livrou de um quilo de excessos. Terminado o período de recuperação, realizou outro sonho: ir à praia de biquíni, pois sempre desistia das viagens ao procurar um modelo que coubesse nos seios. “Certa vez, rodei a cidade inteira para encontrar um que me servisse, mas nada. Hoje é outra coisa. Todas as roupas ficam boas em mim. Foi a decisão mais acertada da minha vida. Se tivesse de fazer de novo, não teria a menor dúvida”, constata.

Gabriela faz parte das estatísticas que mostram um novo comportamento do jovem brasileiro. De acordo com dados da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), os adolescentes já representam 13% do total de 547 mil cirurgias estéticas realizadas no País entre setembro de 2007 a agosto de 2008, ou seja, mais de 70 mil fizeram correções cirúrgicas nesse período. Entenda-se por adolescente, meninos e meninas entre 12 e 18 anos.

Para o cirurgião plástico Ronan Horta, a presença constante de adolescentes nos consultórios começou no fim da década de 1990. Ele percebeu esse fenômeno já em 1992. “A maioria das meninas que me procurava já tinha corpo de mulher aos 15 anos, sendo que a primeira menstruação havia ocorrido há três, quatro anos. E todas apresentavam alterações corporais secundárias e morfológicas típicas de uma mulher.”



Foi essa constatação que levou o cirurgião a fazer um estudo, orientado por pedagogos, com 1 mil questionários que foram respondidos por adolescentes da rede pública de ensino. O resultado mostrou claramente a precocidade da primeira menstruação e, como consequência, das características sexuais secundárias. O estudo do médico mineiro foi publicado em revistas científicas e recebeu os prêmios nacionais Ariê e Ivo Pitanguy.

A partir daí, a presença dos adolescentes se solidificou. “Hoje, é comum encontrar jovens acompanhados das mães nos consultórios em busca das cirurgias estéticas. O que era raro antes, hoje não causa mais nenhuma surpresa”, diz Ronan.