Com pequena área para abrigar mais gente – com seus 331 quilômetros quadrados, é mais de 15 vezes menor do que Brasília, que tem 5.582 km2 –, taxa de fecundidade em queda e perdendo moradores para vizinhas da região metropolitana, BH foi a segunda capital que menos cresceu no país, segundo dados do IBGE. De acordo com o Censo 2010, a maior cidade de Minas teve, nos anos 2000, aumento de 6,12% no número de habitantes, taxa superior apenas à de Porto Alegre, que registou expansão de 3,63% em 10 anos.
A migração de belo-horizontinos para municípios da região metropolitana em busca de qualidade de vida é apontada pelos especialistas como uma das principais causas do crescimento tímido da cidade. A pequena área demográfica, que impede a expansão horizontal de BH, também é um dos motivos para o enxuto aumento do número de habitantes. Entre os municípios de Minas, o que mais cresceu, impulsionado pela atividade econômica, foi Nova Serrana, na Região Centro-Oeste do estado, que praticamente dobrou o número de moradores, chegando a 73,7 mil este ano. Já Rubelita, no Norte de Minas, enfrentou movimento contrário, ao perder 23,75% de sua população, que era de 10,1 mil em 2000 e hoje é de 7,7 mil.
Minas Gerais, estado que menos cresceu no Sudeste, teve 9,52% de aumento na população, que chegou a 19,5 milhões. O estado continua seguindo a tradição de exportar habitantes para outras unidades da federação. A análise é da coordenadora do IBGE-MG, Maria Antônia Esteves da Silva. “Muitos pensam que o povo nordestino é o que mais migra, mas, historicamente, dados comprovam que são os mineiros que mais mudam de estado em busca de novas oportunidades profissionais”, informa.
A capital também acompanha a fuga de seus moradores, rumo a cidades que acabam funcionando como dormitórios, localizadas na região metropolitana. Exemplos são Nova Lima, próxima à Zona Sul da metrópole, e Lagoa Santa, que tem como atrativo extra a vizinhança com a nova Cidade Administrativa do governo de Minas. São pessoas como o fisioterapeuta Paulo Guilherme Santos Chaves, de 42 anos, que buscam nesses municípios a qualidade de vida que BH já não oferece a eles. Paulo, que mora em um condomínio de Nova Lima, com a mulher e um filho, faz parte de um contingente cada vez maior de belo-horizontinos que vão à capital apenas para trabalhar e resolver problemas práticos do dia a dia. “Além da segurança oferecida, quero ter a sensação de chegar em casa e poder descansar, longe do burburinho de BH”, explica.
Segundo a demógrafa Laura Wong, do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional de Minas Gerais (Cedeplar), ligado à Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o comportamento migratório explica a redução notável no ritmo de crescimento de Belo Horizonte. “As pessoas hoje procuram cidades mais tranquilas e seguras para viver”, constata. Em contrapartida, esses municípios ainda não estão preparados para receber tanta gente, como aponta a especialista. “BH continua sendo o grande polo onde as pessoas buscam educação, saúde e outros serviços.” Para ela, o governo do estado e as grandes empresas deveriam investir mais em outras cidades, para que ofereçam, além de qualidade de vida, oportunidades de emprego e serviços. “Em algumas localidades europeias já há esse movimento de descentralização das metrópoles. É bom para todo mundo, pois desafoga a capital e gera emprego e renda nos arredores”, avalia.
De acordo com o diretor-geral da Agência de Desenvolvimento da Região Metropolitana de Belo Horizonte, José Osvaldo Lasmar, a criação de atrativos nesses municípios é uma ação traçada pelo governo. Porém, ele defende que isso seja feito com cautela. “Hoje, temos uma compreensão de que essas cidades vão crescer, mas com responsabilidade no uso do solo. A expansão da região metropolitana tem que ocorrer com planejamento, para evitar um crescimento desordenado, que gere problemas futuros, como invasões em áreas de risco, enchentes e dificuldades de saneamento”, explica. Segundo ele, 19 dos 34 municípios mineiros que compõem a Grande BH já assinaram um termo de compromisso que garante uso sustentável do solo nessas regiões.
Outra preocupação, segundo Lasmar, é com os rejeitos produzidos na expansão desses municípios. “Cerca de 40% dos resíduos sólidos urbanos vêm da construção civil e da demolição. Por isso, promovemos um curso para os gestores dessas localidades, ensinando como tratar e destinar melhor o material remanescente dos empreendimentos.” Um ponto fundamental para garantir a prosperidade das cidades dos arredores de BH é a melhora na mobilidade urbana. Segundo Lasmar, a proposta é de que Nova Lima, Lagoa Santa, Vespasiano e Pedro Leopoldo sejam referências urbanas, como Betim é atualmente. “Mas, para isso, precisamos investir em projetos de mobilidade urbana. Sem isso, a região metropolitana não conseguirá ser competitiva”, pondera.