Jornal Estado de Minas

Pesquisa de professor do Cefet-MG documenta tragédia da Gameleira

A mistura de depoimentos e pesquisas sobre o desabamento da Gameleira resultou num vasto documento da tragédia, em 396 páginas. O trabalho de quase sete anos do professor de Tecnologia da Construção Civil do Departamento Engenharia Civil do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (Cefet-MG) Antonio Libério Borba está na tese Lembrar para ter o direito de esquecer: a reconstrução histórico-sociológica da tragédia da Gameleira em Belo Horizonte e seus reflexos na trajetória de vida dos atores sociais nela envolvidos.



Veja a tese completa

Na época do acidente, Libério era servente de pedreiro. Anos depois, já professor, a impunidade em torno do episódio o motivou a pesquisar. O trabalho, segundo ele, dá voz a quem não tem voz – sobreviventes, órfãos e viúvas de vítimas do desabamento. Para cada hora de entrevista foram cerca de 40 horas de trabalho na abordagem científica dos depoimentos.

Veja as fotos da época

Confira o infográfico com números da tragédia

Ele afirma que lidou com a memória de trauma subterrâneo, um assunto delicado para a maioria dos entrevistados, que revelou se lembrar da tragédia ao ouvir barulho de ambulâncias, helicópteros ou ao passar pela Avenida Amazonas, onde ficaria o Parque de Exposições da Gameleira e hoje existe o Centro de Feiras e Exposições George Norman Kutova (Expominas). Uma demanda citada por familiares é a criação de um memorial em homenagem aos mortos.

Boa parte das entrevistas foi feita em 2006, época em que o Expominas recebeu uma reunião do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Um sobrevivente questionou se naquele espaço de celebração não haveria lugar para um “retratinho três por quatro” de cada um dos colegas dele que morreram. O próximo passo de Borba é o livro “Essa marmita é do João: nos escombros da Gameleira”, uma homenagem ao último operário retirado morto dos destroços. O trabalhador João Alves de Souza foi identificado pela marmita, quase 30 dias depois do acidente.

Ouça um trecho da entrevista com o professor:





audima