Polêmica em torno do Mercado Distrital do Cruzeiro, no bairro de mesmo nome, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte, alvo de projeto de R$ 200 milhões, põe em lados opostos lideranças comunitárias e interessados em investir no centro de compras. Em uma das pontas, está a promessa de modernização da área de mais de 7 mil metros quadrados, com a construção de um complexo com dois hotéis, shopping e 2 mil vagas de estacionamento, além de um centro gastronômico. No outro extremo, o temor com relação à destruição do patrimônio cultural e ao impacto do megaempreendimento na área residencial. A desconfiança motivou o Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB) a enviar na quarta-feira ofício ao prefeito Marcio Lacerda (PSB), solicitando a apresentação formal do projeto à entidade.
A proposta de revitalização do espaço, a cujas imagens o Estado de Minas teve acesso, está sob a avaliação da prefeitura. No próximo mês, o Executivo diz se aceitará ou não a proposta. Também em março, ocorre audiência entre a Associação dos Cidadãos do Bairro Cruzeiro (Amoreiro) e o Ministério Público Estadual (MPE) para discutir a questão. O empreendimento responde a um chamado de procedimento de manifestação de interesse (PMI) aberto em junho pela prefeitura. O objetivo era viabilizar a revitalização do espaço sem o detrimento da atividade comercial dos atuais permissionários, mirando a Copa do Mundo de 2014.
Um consórcio firmado entre Santec Empreendimentos, com apoio da Associação de Comerciantes do Mercado Distrital do Cruzeiro e da antiga diretoria da Universidade Fumec, foi o único a apresentar proposta de revitalização da área. A crítica da Amoreiro, compartilhada por parte dos comerciantes do mercado, é de que o projeto apaga uma área tradicional do bairro, fundada há 36 anos. “Onde se implanta um shopping e abrem 2 mil vagas, o impacto sobre o trânsito é terrível. Além disso, não queremos que o mercado seja descaracterizado. Ele precisa ser revitalizado, mas com uma área de lazer e convivência para os moradores. Um mercado não é um shopping”, critica a presidente da entidade, Patrícia Caristo.
Para a presidente do IAB em Minas Gerais, Cláudia Pires, as ruas do bairro, caracterizadas como coletoras, não suportariam o impacto de um empreendimento deste porte. “Da forma como está sendo proposta, é como se estivessem demolindo o mercado e construindo outra coisa. Acaba com a história. O projeto tem que ser de revitalização e não de demolição”, analisa.
Defesa
O coordenador do projeto, Júlio Amaro, proprietário da Santec Empreendimentos, argumenta que, ao contrário de atrair mais carros, o projeto, ao criar 2 mil vagas de estacionamento, 800 delas voltadas para a Fumec, vizinha ao mercado, tiraria os veículos da rua, que sofrem com engarrafamentos e falta de vagas. Ele também garante que o estabelecimento comercial ganharia em expansão e conforto. “Vai ter mais espaço ao ar livre, com área de lazer e caminhada. Não vamos cortar nenhuma árvore”, afirma. Apesar de não retratar a opinião de todos os 48 concessionários, a opinião também é defendida pela presidente da associação dos comerciantes, Neusa Resende. “Essa é a única chance de revitalização do mercado”, acredita.
De acordo com o secretário adjunto municipal de Gestão Administrativa, Hipérides Ateniense, o projeto está sendo avaliado pela prefeitura. “Ainda não há definição se usaremos ou não, estamos analisando sob os aspectos arquitetônico, econômico e ambiental. Numa primeira análise, há muitos pontos positivos, pois ele resolve o problema de estacionamento na área e protege feirantes”, afirma o Ateniense, que prevê para março a tomada de decisão do Executivo. Segundo ele, a licitação das obras deve começar em junho, mas, antes disso, haverá uma rodada de consultas públicas para que a comunidade se manifeste.
Apesar do anseio de moradores com relação a um projeto que resgate o passado do mercado, o secretário é categórico: “Os mercados distritais de BH faliram. A prefeitura não investirá no Mercado Distrital do Cruzeiro, pois não há papel relevante de abastecimento. Também não consigo entender o que há de referência histórica”, afirma. Procurada pelo EM, a Fumec não se manifestou sobre o assunto.