Jornal Estado de Minas

Pacientes e gestores apostam na aliança para reduzir problemas na saúde

Luciane Evans Flávia Ayer
O Consórcio Intermunicipal Aliança para a Saúde (Cias), que amplia serviços em seis cidades da região metropolitana, tem em Belo Horizonte um desafio pontual: desafogar a tão esgotada rede. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde (SMSA), 50% dos atendimentos na capital são para moradores de fora. A demanda é considerada por usuários do Sistema Único de Saúde (SUS) e reconhecida por autoridades como o maior gargalo de BH. Com a criação do Cias, que teve a lei sancionada na quinta-feira pelo prefeito Marcio Lacerda e publicada ontem no Diário Oficial do Município (DOM), a esperança de cidadãos é de que as dificuldades sejam menores daqui para a frente.
À medida que o consórcio vai buscar soluções e serviços comuns em Sabará, Caeté, Ribeirão das Neves, Santa Luzia, Vespasiano, Nova Lima e Belo Horizonte, a tendência, segundo aposta o secretário municipal de Saúde da capital, Marcelo Teixeira, é racionalizar o fluxo. Em vez de se deslocar, o paciente seria atendido próximo ao local onde mora. Para isso, com a força dos municípios envolvidos, de acordo com ele, o potencial de arrecadação de recursos estaduais, federais e parcerias aumenta. “Não ter que sair da minha casa para vir para BH será o ideal. Em Ribeirão das Neves, onde moro, a situação é precária, principalmente nas unidades básicas. Falta até médico, e eu prefiro aqui, apesar de estar esperando há três horas”, desabafa Valdete Pereira. Desconfiada, ela emenda: “Será que não é mais uma promessa?”.

Na pele

Na sexta, a cantora Rita Silva e o ator Dino Maragoni sentiram na pele esse sufoco. Com um dedo machucado, Dino teve que esperar cerca de cinco horas na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Venda Nova para ser atendido. “Somos de BH, mas aqui há gente de todos os cantos. Se esse consórcio vingar, todo mundo tem a ganhar”, aposta Rita. Dino completa: “Não só diminuirá o número de pacientes na capital, como amenizará até mesmo o trânsito, pois haverá menos pessoas circulando”.

Mas o secretário de Estado de Saúde, Antônio Jorge de Souza Marques, lembra que, no caso de demandas de alta complexidade, como cirurgias eletivas, há ainda a necessidade de encaminhamento a cidades de maior porte. "Muitas pessoas se queixam da sobrecarga, mas certas áreas, como oncologia e cirurgias, precisam de uma escala grande de usuários para manter o médico e o serviço", afirma.

Marcelo Teixeira acredita que a busca deverá ser amenizada. Reconhecendo que a capital é referência para serviços de alta complexidade, não descarta a hipótese de uma rede solidária auxiliar. “Podemos, por exemplo, fazer com que leitos hospitalares da Grande BH sirvam de retaguarda para os serviços de alta complexidade hospitalar da capital. Isso abriria vagas aqui e aumentaria a capacidade de atender quem precisa. Além disso, manteria o serviço dessas cidades em pleno vapor”, exemplifica.

A criação do consórcio não agradou somente aos usuários. O diretor-geral da Agência de Desenvolvimento da Região Metropolitana de Belo Horizonte, Ubiraci Prata Lima, está otimista. “No caso da alta complexidade, nem todo município tem condição de arcar com determinados procedimentos. Uma cidade pode não ter uma clínica de olhos, mas o consórcio pode", afirma. O atendimento de urgência e emergência, com o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) regionalizado, será, para ele, outro ganho. "Só BH tem Samu. O restante das cidades fica dependendo da boa vontade da capital".

Mais cidades

Apesar de começar abrangendo sete cidades, o Cias poderá, aos poucos, abraçar outros municípios. A região metropolitana já conta com um consórcio nesses moldes, formado por Betim e mais 10 municípios. Segundo Ubiraci, a intenção é que haja uma interação entre os dois consórcios e a criação de um terceiro, mais amplo.