Amigos de longa data, desses que, na infância e adolescência, se aventuram mato adentro para conhecer as riquezas de sua terra, os integrantes do Movimento Comunitário, Cultural, Esportivo e Ecológico Saudade e Adjacências conhecem de cor e salteado as histórias e belezas da Serra do Curral. Com dois deles, Dirson Ovídio Borges, de 63 anos, e Edson Batista Barbosa, de 50, moradores das proximidades do Cemitério da Saudade, no Bairro Saudade, na Região Leste, o Estado de Minas conheceu o muro com as pedras sobrepostas sem argamassa. Felizmente, é preciso admitir, o difícil acesso e o desconhecimento do lugar impediram que ele ficasse em situação precária ou sumisse do mapa.
A cada momento, Dirson chama a atenção para um ponto importante que se avista, pois o marco está nas proximidades dos limites da capital com Sabará, Nova Lima e Raposos: a Serra da Piedade, coberta de nuvens; o Bairro General Carneiro, onde o Ribeirão Arrudas deságua no Rio das Velhas, em Sabará; o Pico Belo Horizonte; o paredão de concreto formado pelos prédios; a Mata da Baleia; a massa verde do Museu de História Natural e Jardim Botânico da UFMG, entre as regiões Leste e Nordeste; e o antigo Hotel Taquaril, bem perto dos olhos. “Esse ponto é de grande valor turístico. Olhem como a temperatura aqui muda”, compara Dirson, lembrando-se do calor escaldante no Centro da cidade.
Quem conhece as trilhas sabe que silêncio e um cenário deslumbrante vão acompanhá-lo durante todo o trajeto. Depois de uma queda com a sua bicicleta, no caminho de pedras soltas, o agente penitenciário Wesley Rodrigues Melo, de 29, morador do Bairro Jardim dos Pirineus, na Região Leste. “Minha bike está preparada para qualquer derrapagem”, brinca Wesley, carregando a magrela ladeira acima. Mas tudo vale a pena: “Estudei a história de BH no colégio, passo aqui meus dias de folga, e gostaria de saber mais sobre este muro”.
Convite
A diretora do Patrimônio Cultural da Fundação Municipal de Cultura (FMC), Michele Arroyo, se disse surpresa com a existência do muro. “Na época do tombamento, em 2002, percorremos todo o perímetro da Serra do Curral para mapeá-lo, mas não percebemos essa construção”, disse. Ele faz convite aos integrante do Movimento Comunitário, Cultural, Esportivo e Ecológico Saudade e Adjacências, para que compareçam à FMC com documentos, fotografias ou abaixo-assinado pedindo o tombamento, e mostrem a localização exata do monumento, para posterior vistoria. Michele diz que a fundação tem um programa de inventário para localizar antigas fazendas, mapeá-las e tentar identificar algumas reminiscências.