Veja as fotos do aglomerado nesta terça-feira
No dia seguinte ao fim de semana de conflito com a PM no aglomerado, moradores “cansados dos abusos” revelaram ao Estado de Minas o suposto esquema envolvendo policiais do Batalhão de Rondas Táticas Metropolitanas (Rotam) e do 22º Batalhão de Polícia Militar em matanças, agressões – inclusive com a possível existência de um grupo de extermínio – e tráfico e consumo de drogas. Num grave erro de percurso, segundo testemunhas, eles teriam executado sumariamente Jeferson e Renilson ao confundi-los com traficantes que comandam uma boca da região do Arara – um dos maiores pontos de venda de drogas numa das favelas que compõem o Aglomerado da Serra.
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Até então, ela só tinha conseguido ver uma pessoa baleada. Mas, segundo a mulher, um PM chamou reforço, via rádio, avisando que havia duas pessoas baleadas no aglomerado. Pouco depois, um policial a viu e disse: “Você quer morrer? Para dentro de casa agora. Quer morrer?”, recorda Fabiana, que, imediatamente, obedeceu à ordem, antes de ouvir mais dois tiros. “Foi uma covardia. Era um menino que não tinha maldade. Já vi muitas mortes na porta da minha casa, mas essa foi aterrorizante”, diz a testemunha.
Minutos depois do duplo assassinato, equipes da PM chegaram ao local para tentar ajudar a acobertar o caso. Um cabo do 22º Batalhão, identificado pelo apelido de “Cabeça de Repolho”, reconheceu o erro cometido pela guarnição do Rotam e, segundo o líder comunitário Paulo, disse: “Vocês fizeram a maior m… da vida. Desce com os corpos”, orientou o experiente militar. A recomendação era para que os policiais pusessem os corpos nos carros e os levassem para o hospital, simulando que as vítimas estariam somente feridas. Assim, evitariam o trabalho da perícia no local e teriam tempo suficiente para inventar uma história.
Antes disso, segundo o denunciante, “eles tiraram duas fardas de uma mochila que se encontrava na viatura e as usaram para incriminar as vítimas”. A partir de então, o tenente Clayton Santana, do Rotam, relatou à imprensa a versão que, entre 15 e 20 homens, armados e fardados como PMs, teriam atirado nos militares e que só revidaram. Mas, mesmo em número bem inferior – só quatro policiais –, apenas um tiro teria acertado um deles, e dois inocentes civis eram mortos. Além disso, nenhum dos outros 15 ou 20 bandidos foi preso.
Depois de conflitos com moradores revoltados com a execução de Jeferson e Renilson, o subcomandante do 22º Batalhão, major Luís José Francisco Filho, responsável pela operação no Aglomerado da Serra, o Rotam não estaria envolvido na ação, para evitar maiores confusões. Mas, segundo os dois denunciantes da comunidade, os militares subiram o morro pela parte de trás e desceram a Rua Bandoneon fazendo ameaças. “Eles gritaram com fuzil na mão: ‘Quem abrir a boca vai morrer. Nós vamos matar mesmo’”, relatou Paulo.
O chefe do Comando de Policiamento Especializado, tenente-coronel Antônio Carvalho, confirmou o afastamento dos quatro militares do Rotam acusados da execução de Jeferson e Renilson, enquanto as denúncias são investigadas. “A PM não quer encobrir nada e é preciso que se mostre isso à comunidade”, disse o oficial. Ele confirmou ainda que a antiga guarnição de um dos militares é investigada por outros quatro homicídios no Aglomerado da Serra, restando definir se a participação nos crimes foi direta ou indireta.