Jornal Estado de Minas

Casarão do Bar do Bolão, em Santa Tereza, agora é patrimônio cultural

Luciane Evans

Imóvel imponente da Praça Duque de Caxias é composto por três edificações num único bloco, construídas em 1927 e em 1943 - Foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press - 19/1/11

O casarão que durante 42 anos esteve de portas abertas para a boemia nos fins de noite agora é patrimônio da capital. Localizado na Praça Duque de Caxias, na esquina das ruas Mármore e Adamina, no Bairro Santa Tereza, na Região Leste, o imóvel, composto por três moradias, que abriga o Restaurante do Bolão, foi tombado pelo Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural de Belo Horizonte. Em dezembro, antigas proprietárias pediram o espaço de volta, para colocá-lo à venda por R$ 3,5 milhões, o que obrigou a família Rocha, que comanda o estabelecimento, a fazer mudança. A Diretoria de Patrimônio Cultural da Fundação Municipal de Cultura providenciou, então, um dossiê sobre o casarão, pedindo a sua preservação. Ontem, o tombamento foi publicado no Diário Oficial do Município (DOM).

Segundo a diretora do Patrimônio Cultural da Fundação Municipal de Cultura, Michele Arroyo, o imóvel é composto por três edificações que formam um bloco único. “O primeiro espaço foi construído em 1927, no estilo eclético. Os outros dois são do estilo art decó e foram erguidos em 1943. O lugar foi construído para que na parte de baixo funcionasse um comércio e, em cima, residência”, destaca Michele, acrescentando que, somente em 1959, a Família Rocha mudou-se para lá para dar início ao restaurante Bolão, e as partes superior e inferior ficaram por conta do bar. Ela revelou que as casas sofreram poucas alterações e há muito tempo já tinham indicação para tombamento”, ressalta.

Apesar de a decisão trazer alívio para moradores do bairro, que temiam a construção de um prédio no local, ela não preocupa as antigas donas. Segundo o advogado das proprietárias do imóvel, Ivan Andrade, o casarão já foi vendido ao preço pedido, e o tombamento não afeta em nada os rumos que serão dados ao patrimônio. O destino do restaurante ainda é mistério. O advogado não revela o nome dos compradores das três casas nem sua destinação. De acordo com a publicação do DOM, a edificação, ao ser tombada, não poderá ser destruída ou mutilada. Somente com autorização do conselho, o local pode ser reformado, pintado ou restaurado.

Enquanto não há definição sobre o destino do casarão da Praça Duque de Caxias, o restaurante ainda permanece no local. Sem condições de pagar os R$ 3,5 milhões pedidos pelo casarão, onde há 42 anos paga aluguel de cerca de R$ 16 mil mensais, José Maria Rocha, o Bolão, se surpreendeu ao saber que as três casas já foram vendidas. “Temos um prazo para sair daqui, mas não nos avisaram que a venda já tinha sido concluída”, afirma. Segundo Ivan, como o comprador ainda não registrou o imóvel, não há pressa. “Só quando ele entrar com ação para retomada do imóvel, teremos prazo de 90 dias para sair.”

Mudança

Sílvio Rocha, irmão do Bolão, e um dos que comandam o bar, conta que a reforma de outro imóvel para o restaurante ainda vai demorar. O novo espaço está a poucos metros do atual endereço, ainda na Praça Duque de Caxias. No local já funcionaram uma floricultura, outro restaurante e uma cafeteria. O imóvel foi comprado pela família Rocha, que comanda o Bolão, por R$ R$ 740 mil, mas é bem menor que o espaço de 1,2 mil metros quadrados do casarão. “Mas o Bolão II, que funciona na Rua Mármore, a dois quarteirões da praça, foi reformado e, em breve, antes mesmo do carnaval, vai abrir as portas”, revela Silvio.