O comandante do 1º Batalhão, tenente-coronel Márcio Cassavari, confirma que instaurou Inquérito Policial Militar (IPM) para apurar o caso, ligado a PMs da 6ª Companhia, mas sob a versão de que o homem, supostamente viciado em drogas, teria se envolvido numa briga dentro de um ônibus e, na fuga, sido atropelado e, em seguida, invadido o motel. Na ocorrência da PM não há menção ao suposto pacote de dinheiro. Ele trajava uma calça do Cruzeiro, camisa e tênis brancos. Para uma fonte da Polícia Civil, ouvida pelo Estado de Minas, o desconhecido foi agredido pelos militares e deixado no Galba Veloso. “Desceram o cacete nele e o entregaram, dizendo que era um doido. Eles já têm o costume de fazer isso com outras pessoas que espancam.”
Na manhã de quinta-feira, a Divisão de Crimes contra a Vida (DCcV) recebeu cópias das imagens da detenção e, numa investigação preliminar, aponta incoerência entre o que foi apurado pela Polícia Civil e o boletim de ocorrência redigido pelos militares. Os investigadores constataram que o homem entrou às pressas no Motel Star-Day na tentativa de escapar de policiais que o perseguiam. A causa da perseguição é desconhecida pela Civil. A vítima, de acordo com a recepcionista do estabelecimento, ofereceu a ela parte da quantia que carregava para que mentisse e que contasse que ele estava hospedado no local, mas a funcionária recusou a oferta.
Ainda assim, o rapaz correu para o quarto 21. Minutos depois, os militares entraram e o dominaram, saindo de lá por volta das 3h, algemado. A testemunha revelou aos policiais civis que, imobilizado pelos PMs, ele “gritava muito por socorro e dizia que os militares iriam matá-lo”. E acrescentou que “a vítima não estava com sangue nem tinha sinais de agressão pelo corpo” quando deixou o motel. O segurança de um estabelecimento vizinho, que também presenciou a prisão, confirmou não ter visto escoriações. No texto da ocorrência, redigido pelos militares, o horário da prisão teria sido às 5h, e não há menção a dinheiro nem ao hospital. Há referências a um homem “que não portava documentos e, totalmente descontrolado, tinha quebrado tudo por ali”.
Antes que fosse deixado no Galba Veloso, os PMs o encaminharam ao Hospital Psiquiátrico Raul Soares, no Bairro Santa Efigênia, Região Leste, mas ele não foi aceito. A médica de plantão alegou não ter vagas. O desconhecido já estava machucado e com ferimentos nos pulsos causados pelas algemas. “A informação que obtive é que ele foi levado ao Galba Veloso e recebeu todo o atendimento médico necessário. Informalmente, o hospital nos disse que ele morreu de parada cardiorrespiratória, mas apenas o laudo da necropsia vai apontar a causa da morte”, disse o major Alfredo Veloso, da 6ª Companhia do Centro, designado por Cassavari para presidir o IPM.
A Fundação Hospitalar de Minas Gerais (Fhemig), que administra o Hospital Galba Veloso, informou que vai se pronunciar quando receber o laudo de necropsia do IML. A informação da Fhemig é que o homem deu entrada no hospital às 3h30 de sábado e morreu às 6h55. O corpo chegou ao IML às 19h33, segundo a Polícia Civil, como desconhecido 134. Impressões digitais do morto foram colhidas para a polícia tentar identificá-lo.
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