Jornal Estado de Minas

PMs são investigados por mais uma morte violenta em BH

Paulo Henrique Lobato Flávia Ayer
Há duas versões para o que ocorreu com o desconhecido, detido e algemado por militares dentro do motel no Centro de BH - Foto: Tulio Santos/Esp. EM/D.A PressNa mesma madrugada em que policiais militares do Batalhão de Rondas Táticas Metropolitanas (Rotam) mataram duas pessoas no Aglomerado da Serra, numa ação que a cúpula da Polícia Militar trata como possível execução, um homem que, segundo testemunhas, carregava grande quantidade de dinheiro morreu depois de ser detido por sete PMs em um motel no Centro de Belo Horizonte. As circunstâncias do crime ainda não foram esclarecidas, mas a Polícia Civil abriu inquérito e investiga a hipótese de que a vítima, de aparentes 32 anos, moreno, tenha sido espancada.
Câmeras do circuito interno de TV do motel mostram o momento em que ele foi contido e algemado, na Avenida Paraná, por volta das 3h de sábado. Em torno das 6h, foi deixado no Hospital Psiquiátrico Galba Veloso, no Bairro Gameleira, Região Oeste da capital, com vários ferimentos, morrendo às 6h55, com parada cardiorrespiratória. O corpo do homem ainda não identificado está no Instituto Médico Legal (IML), com a etiqueta de número 134.

O comandante do 1º Batalhão, tenente-coronel Márcio Cassavari, confirma que instaurou Inquérito Policial Militar (IPM) para apurar o caso, ligado a PMs da 6ª Companhia, mas sob a versão de que o homem, supostamente viciado em drogas, teria se envolvido numa briga dentro de um ônibus e, na fuga, sido atropelado e, em seguida, invadido o motel. Na ocorrência da PM não há menção ao suposto pacote de dinheiro. Ele trajava uma calça do Cruzeiro, camisa e tênis brancos. Para uma fonte da Polícia Civil, ouvida pelo Estado de Minas, o desconhecido foi agredido pelos militares e deixado no Galba Veloso. “Desceram o cacete nele e o entregaram, dizendo que era um doido. Eles já têm o costume de fazer isso com outras pessoas que espancam.”

Na manhã de quinta-feira, a Divisão de Crimes contra a Vida (DCcV) recebeu cópias das imagens da detenção e, numa investigação preliminar, aponta incoerência entre o que foi apurado pela Polícia Civil e o boletim de ocorrência redigido pelos militares. Os investigadores constataram que o homem entrou às pressas no Motel Star-Day na tentativa de escapar de policiais que o perseguiam. A causa da perseguição é desconhecida pela Civil. A vítima, de acordo com a recepcionista do estabelecimento, ofereceu a ela parte da quantia que carregava para que mentisse e que contasse que ele estava hospedado no local, mas a funcionária recusou a oferta.

Ainda assim, o rapaz correu para o quarto 21. Minutos depois, os militares entraram e o dominaram, saindo de lá por volta das 3h, algemado. A testemunha revelou aos policiais civis que, imobilizado pelos PMs, ele “gritava muito por socorro e dizia que os militares iriam matá-lo”. E acrescentou que “a vítima não estava com sangue nem tinha sinais de agressão pelo corpo” quando deixou o motel. O segurança de um estabelecimento vizinho, que também presenciou a prisão, confirmou não ter visto escoriações. No texto da ocorrência, redigido pelos militares, o horário da prisão teria sido às 5h, e não há menção a dinheiro nem ao hospital. Há referências a um homem “que não portava documentos e, totalmente descontrolado, tinha quebrado tudo por ali”.

Antes que fosse deixado no Galba Veloso, os PMs o encaminharam ao Hospital Psiquiátrico Raul Soares, no Bairro Santa Efigênia, Região Leste, mas ele não foi aceito. A médica de plantão alegou não ter vagas. O desconhecido já estava machucado e com ferimentos nos pulsos causados pelas algemas. “A informação que obtive é que ele foi levado ao Galba Veloso e recebeu todo o atendimento médico necessário. Informalmente, o hospital nos disse que ele morreu de parada cardiorrespiratória, mas apenas o laudo da necropsia vai apontar a causa da morte”, disse o major Alfredo Veloso, da 6ª Companhia do Centro, designado por Cassavari para presidir o IPM.

A Fundação Hospitalar de Minas Gerais (Fhemig), que administra o Hospital Galba Veloso, informou que vai se pronunciar quando receber o laudo de necropsia do IML. A informação da Fhemig é que o homem deu entrada no hospital às 3h30 de sábado e morreu às 6h55. O corpo chegou ao IML às 19h33, segundo a Polícia Civil, como desconhecido 134. Impressões digitais do morto foram colhidas para a polícia tentar identificá-lo.

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