Jornal Estado de Minas

Jovens transformam Praça do Papa em baile funk durante a madrugada

Ernesto Braga

Adolescente dança na frente de automóvel na Praça do Papa - Foto: Tulio Santos/Esp. EM/D.A Press

Localizada aos pés da Serra do Curral, a Praça Governador Israel Pinheiro, conhecida como Praça do Papa, no Bairro Mangabeiras, um dos endereços mais nobres da capital, na Região Centro-Sul, deixa de ser ponto turístico privilegiado para contemplação de Belo Horizonte e se transforma, principalmente nas madrugadas de quinta-feira a domingo, em terra sem lei. Um dos principais cartões-postais da cidade é invadido por um mar de pessoas, muitas menores de 18 anos, em busca de diversão regada a álcool, drogas e barulho.

Galeria: confira as imagens dos bailes na Praça

Veículos com potentes equipamentos de som disputam qual é o mais barulhento. Na trilha sonora prevalece o funk, mas também há quem prefira ouvir música sertaneja e outros ritmos. O cheiro de maconha vindo das áreas verdes e escuras da praça paira sobre o ambiente, e a impressão que se tem é de que os usuários da erva fumam um baseado infinito. No asfalto, motoqueiros fazem acrobacias e carros andam em alta velocidade, na contramão, colocando em risco a vida de quem frequenta o espaço.

- Foto: Tulio Santos/Esp. EM/D.A PressO Estado de Minas esteve na Praça do Papa no fim de semana passado, de madrugada, e constatou a balbúrdia que está tirando o sono dos moradores do Mangabeiras, bairro com metro quadrado construído e Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) entre os mais caros da cidade. Eles denunciam ameaças feitas pelos baderneiros, que fecham as entradas das garagens das luxuosas casas com filas de carros e motos e usam até armas de fogo para intimidar quem “ousa” reclamar. “A Praça do Papa é a área de lazer mais procurada por toda a população de Belo Horizonte, municípios vizinhos e turistas de todos os cantos. Mas ela se transformou num bordel, e as famílias estão se afastando por causa da bagunça e com medo da criminalidade”, afirmou o presidente da União das Associações de Bairros da Zona Sul, Marcelo Marinho.

A aglomeração de veículos e gente é maior na rua que divide o topo (onde estão o monumento e a cruz esculpidos pelo artista plástico Ricardo Carvão) da base da praça (parte gramada com um parque de lazer de madeira). É nessa via que ficam estacionados os veículos equipados com potentes cornetas e amplificadores de som, verdadeiros trios elétricos que propagam para muito além daquele ponto músicas quase sempre com letras obscenas. Uma das preferidas pela multidão e, portanto, mais tocadas, tem o seguinte refrão: “Na arte do sexo, pode crer que eu esculacho. Faço tudo que ele gosta e ainda dou meu (...) de cabeça para baixo.”

O secretário municipal da Regional Centro-Sul, Fernando Cabral, reconhece os incômodos causados aos moradores da Praça do Papa e admite que não estão previstas intervenções no ponto turístico. Cabral afirma que a Prefeitura de Belo Horizonte está aberta a receber sugestões dos contribuintes afetados. “Estamos dispostos a acatar tudo que possa preservar o bem-estar da comunidade.”