Jornal Estado de Minas

Moradores do entorno da Praça do Papa reclamam da movimentação na madrugada

Ernesto Braga
O juiz de direito Carlos da Conceição Nunes, de 68 anos, há 10 morando na praça, reclama da situação no local - Foto: Túlio Santos/Esp.Em
Como se não bastasse o som ensurdecedor dos alto-falantes dos carros estacionados na Praça do Papa, varando a madrugada, e o forte cheiro de maconha que exala das áreas mal iluminadas, os moradores do Bairro Mangabeiras vizinhos ao problema são obrigados a conviver com a violência e situações constrangedoras. “Aqui ficou insustentável. É som alto de baile funk, rachas de carros, casais fazendo sexo atrás das árvores e pessoas urinando na porta da nossa casa, até pelo vão do portão. Eles tampam a entrada da garagem com as motos e, se pedimos para retirá-las, usam armas para nos intimidar”, denunciou o juiz de direito Carlos da Conceição Nunes, de 68 anos, há 10 morando na praça.

A mulher do magistrado, Marta Vieira Nunes, de 58, disse que já fez várias denúncias à prefeitura e à Polícia Militar, mas continua passando as noites em claro. “A praça virou terra de ninguém. Eles fumam maconha na nossa porta e tem até cavalo mecânico acelerando de madrugada”, afirmou. O filho do casal, o advogado Carlos Eduardo Vieira Nunes, de 30, passou recentemente por um momento de grande aperto: “Cheguei em casa com minha namorada, no início da madrugada, e não tinha como entrar na garagem, pois havia uma fila de motos na frente. Quando pedi ao grupo para tirar as motos,um deles ficou insatisfeito e, para me intimidar, levantou a blusa e me mostrou um revólver”, disse. Para se livrar do incômodo, o casal tem que sair de casa nos fins de semana. “Estamos indo para a roça em busca de sossego. Para que a casa não fique sozinha, revezamos nos fins de semana. Pago R$ 8 mil de Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) e minha família não pode usufruir da nossa casa com tranquilidade. Mas, se colocamos o lixo na porta pouco antes do horário previsto, os fiscais da prefeitura vêm aqui e ameaçam nos autuar”, desabafou o juiz.

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O estudante João César Ayres, de 18, mora com os pais e uma irmã na Praça do Papa há seis anos. Segundo ele, a bagunça causa transtornos desde 2008. “Já cogitamos até a possibilidade de mudar daqui. O ambiente familiar não existe mais, falta educação e higiene na praça. Estão jogando latas de bebida e outros tipos de lixo nos jardins internos das nossas casas. O bairro é cheio de idosos, inclusive nossos vizinhos dos dois lados, e ninguém está aguentando mais tanta bagunça”, reclamou o estudante.

O presidente da União das Associações de Bairros da Zona Sul, Marcelo Marinho, afirma que o incômodo causado pelo barulho dos alto-falantes dos carros extrapola os limites da Praça do Papa. “O som alto faz ressonância no paredão da Serra do Curral, transformando-se em um barulho infernal em plena madrugada, que é propagado para os bairros vizinhos, como Anchieta, Sion e Serra. O atentado à Lei do Silêncio se agravou nos últimos seis meses”, disse.

Propostas

Diante da inércia do poder público em solucionar o leque de problemas que atormenta a Praça do Papa, moradores apresentam propostas. As principais são instalação de um posto fixo da PM no local, fiscalização por homens da Guarda Municipal, fechamento com barreiras físicas da rua que divide as duas partes da praça, nos fins de semana, melhorias na iluminação pública e blitze de trânsito nas madrugadas para coibir os abusos.

“Do jeito que está, sem iluminação e fiscalização adequadas, a praça se tornou um ambiente favorável para a bagunça. Fechando a via entre as partes superior e inferior e instalando mais postes de iluminação acabariam os excessos, desde que tudo seja acompanhado de um policiamento permanente”, avaliou Marcelo Marinho. Ele disse que após reunião dos moradores com o Comando de Policiamento da Capital (CPC), há dois anos, foi feita uma grande “operação abafa” para coibir a baderna na Praça do Papa. “A paz durou cerca de um ano, mas voltou com a mesma intensidade. Notamos uma certa imobilidade e acomodamento por parte dos militares quando denunciamos os problemas. A demonstração dos policiais é de que eles trabalham ‘enxugando gelo’”, disse.