Jornal Estado de Minas

Tragédia no Anel Rodoviário completa um mês e perigo continua na pista

Luciane Evans
Um mês depois do trágico acidente que matou cinco pessoas e deixou 12 feridas, a segurança no Anel Rodoviário continua precária. O alerta é de Frederico Rodrigues, doutor em engenharia de transporte, professor de pós-graduação em transporte e trânsito do Cefet/MG e diretor de uma empresa de projetos de engenharia. A convite do Estado de Minas, o especialista percorreu, em companhia de uma equipe de reportagem, os 26,5 quilômetros da via e constatou que o risco de ocorrer novas tragédias continua muito alto. E, o que é pior, algumas interferências no corredor, feitas depois do acidente de 28 de janeiro, trouxeram novos perigos para os motoristas dos 100 mil veículos que circulam diariamente pelo Anel Rodoviário.
De acordo com Frederico Rodrigues, a preocupação com o trecho de sete quilômetros onde ocorreu o desastre do mês passado, na descida entre os bairros Olhos d’Água e Madre Gertrudes, na Região Oeste, no qual foram feitas várias intervenções para diminuir o risco de acidentes, não é suficiente para acabar com o problema. E, ao longo da via há muitos trechos esquecidos, que não receberam até hoje a atenção devida e são verdadeiras armadilhas para quem é obrigado a passar pelo Anel.

“As medidas adotadas são como tijolos na construção de um muro. Contribuem para que ele seja erguido, mas não o constroem por inteiro”, comparou Frederico. Ao avaliar as características do corredor, uma mistura de via urbana com rodovia, ele apontou os riscos que continuam e os que surgiram com as obras feitas no começo deste mês (veja arte). Após o acidente, três lombadas foram implantadas, um radar tipo pardal e dois painéis eletrônicos foram instalados na temida descida de sete quilômetros.

Frederico elogiou algumas iniciativas do Departamento Nacional de Infraestrura de Transportes (Dnit), apontando que podem trazer bons resultados. Mas também destacou as falhas. As faixas que avisam os motoristas sobre a presença de radares e lembram que os veículos pesados devem transitar pela direita, segundo ele, por serem de pano, não cumprem o papel de alerta. “Este tipo de sinalização é para ser usada em no máximo uma semana, já deveria ter sido trocada por aquelas de aço definitivas e ainda implantadas em um número maior”, avaliou. Quanto ao radar tipo pardal, disse que o equipamento não é eficiente. Em um estudo feito por ele, não se comprova que os pardais contribuam para diminuir o número de acidentes. “Em um trecho onde há muitos usuários que não conhecem a pista, a detecção do radar em cima da hora pode gerar uma série de frenagens bruscas, o que é perigoso.”

A presença ostensiva de policiais rodoviários e de outros mecanismos de fiscalização acaba alguns quilômetros à frente e é como se os riscos presentes nos demais trechos do Anel Rodoviário tivessem sido totalmente esquecidos pelo Dnit e pelos condutores que circulam na região. Na Vila Oeste, acaba a fila indiana e os caminhoneiros passam a usar a faixa da esquerda sem qualquer cuidado. A velocidade também aumenta, assim como as ultrapassagens irregulares. Os radares são poucos, não há presença dos policiais e sequer uma faixa de sinalização. Na avaliação do especialista, é um convite à imprudência.

Apesar de o Dnit ter reduzido de 70km/h para 60km/h a velocidade máxima permitida para veículos pesados no Anel Rodoviário, não há faixas ou placas que informem a alteração. A falha chamou a atenção de Frederico. “Aqui é um lugar de passagem de condutores de vários lugares do país e muitos podem não saber das modificações .” Em menos de 20 minutos de percurso pelo Anel, no sentido Vitória-Rio de Janeiro, o EM flagrou uma colisão traseira envolvendo três carros. O responsável pelo acidente contou que estava a 90km/h e se surpreendeu com os outros que estavam mais devagar, não conseguiu frear e acabou batendo. Desta vez, não houve feridos.

À medida em que se avança pela via, as péssimas condições do corredor se tornam mais evidentes. Muitas delas, de acordo com Frederico, são um risco real e sério de acidentes. “Há acessos para bairros sem que haja a marginal para manobras. Além disso há paradas de embarque e desembarque de ônibus”, alertou, apontando ainda a variação dos limites de velocidade, que oscilam entre 70km/h e 80 km/h. “Isso confunde condutores. Deveria ser limite único, pois torna intuitiva a forma de se portar naquele trecho da viagem”, sugeriu.

Promessas


O engenheiro supervisor do Dnit, Alexandre de Oliveira, diz que estão previstos mais radares para a rodovia. “Já estamos confeccionando as placas de ferro que serão colocadas no lugar das faixas de pano. O radar do tipo pardal também será melhor estruturado.” Em relação aos outros trechos do anel, ele assegura que haverá sinalizações e afirma que as oscilações de velocidade máxima permitida preocupam também o órgão. “Isso vai ser resolvido”, promete.

Nos próximos dias, um balanço parcial do número de motoristas multados desde as medidas implantadas será divulgado pelo Dnit. Desde 11 de setembro de 2009, quando cinco pessoas morreram no acidente em que um caminhão desenfreado arrastou 12 veículos na descida do Bairro Betânia, até a tragédia de 28 de janeiro, 52 mortes foram registra da no anel.