Audiência pública promovida nesta terça-feira na Câmara Municipal de Belo Horizonte expõe racha entre moradores do entorno do Mercado Distrital do Cruzeiro sobre projeto de revitalização do centro de compras. As duas associações com atuação no Bairro Cruzeiro, na Região Centro-Sul da capital, batem de frente quanto à proposta de modernização. Sob análise da prefeitura, o projeto prevê, além da permanência dos atuais feirantes, a construção de dois hotéis, centro gastronômico, shopping e 2 mil vagas de estacionamento. Diante das divergências, o secretário-adjunto municipal de Gestão Administrativa, Hipérides Ateniense, garante que nenhuma providência em relação ao imóvel, tratado como um problema pelo poder público, será tomada sem a consulta da comunidade.
Depois de quatro meses de PMI aberto e apenas um projeto em mãos, a prefeitura está numa sinuca de bico e se vê diante do desafio de conciliar interesses de moradores, que não se entendem sobre o assunto. “Somos obrigados a dar uma resposta a quem atende ao PMI, negativa, positiva ou com considerações, por isso contratamos a consultoria. Vimos pontos interessantes, como a oferta de vagas de estacionamento, mas ainda é prematura expor qualquer opinião sobre o projeto”, afirma Ateniense.
Favorável ao projeto, a Associação dos Moradores dos Bairros Anchieta e Cruzeiro (Amoran) participou do consórcio que apresentou a proposta de modernização, junto da Associação de Comerciantes do Mercado Distrital do Cruzeiro (Acomec), da Santec Empreendimentos e da antiga diretoria da Fundação Mineira de Cultura (Fumec), vizinha ao mercado e que causa grande impacto no trânsito da região. Pelo projeto, 800 das 2 mil vagas seriam destinadas apenas à Fumec. “Até agora, só vimos benefícios, pois tira os carros da rua. Também traz atrativos para a região”, afirma o presidente da Amoran, Saulo Lages Jardim.
Opinião Contrária
Do outro lado do ringue, a Associação dos Cidadãos do Bairro Cruzeiro (Amoreiro), fundada recentemente e que conta com apoio de entidades profissionais de arquitetos e urbanistas, repudia o projeto e teme a descaracterização do patrimônio histórico e os impactos no trânsito. “Esse projeto não interessa à população. Ali é o nosso quintal e não se mexe no quintal do povo dessa forma. Queremos a revitalização, mas não com uma proposta que cria conflitos no trânsito e destrói o mercado”, afirma a presidente da Amoreiro, Patrícia Caristo.
O presidente do Sindicato dos Arquitetos, Eduardo Fajardo, aponta que a proposta de modernização do mercado pode apagar uma das obras de um dos mais renomados arquitetos mineiros, Éolo Maia, que assina o projeto original do Distrital do Cruzeiro, fundado há 36 anos. “É um galpão com solução arquitetônica de êxito e que precisa de uma recuperação”, ressalta, afirmando que o projeto futurista vai “emburguesar” o mercado.