Jornal Estado de Minas

Afonso Pena é corredor aberto para brigas, tráfico de drogas e atos obscenos

Vista da janela de casa, a Avenida Afonso Pena, no relato de moradores, é traduzida como um corredor aberto para brigas, tráfico de drogas e atos obscenos. Mas, para quem vive do mercado do sexo, o principal eixo viário de Belo Horizonte e mais importante reduto de prostituição da capital é território marcado por regras ditadas por garotas de programas e travestis e frequentado por clientes fiéis. Na madrugada de ontem, o Estado de Minas percorreu o trecho conhecido como alto da Afonso Pena, que corta diversos bairros nobres da Região Centro-Sul de BH, no primeiro dia de ação mais incisiva da Polícia Militar (PM) depois do assassinato de um travesti com nove tiros, na quarta-feira, na Rua Piauí, numa das esquinas da via.



A investigação aponta para o envolvimento com o tráfico de drogas. Mas, há um mês se prostituindo na Afonso Pena, a manicure T., de 21 anos, de Contagem, na Grande BH, que faz ponto próximo ao local do crime, afirma desconhecer a vinculação. " Essa história de cafetões e traficantes que espalharam medo aqui é ficção. Não fico aqui até o fim da madrugada e, por isso, não vejo violência. Nunca fui ameaçada e nem tive que pagar nada a ninguém", contou a manicure, que cobra R$ 100 por uma hora e meia de programa em motéis. Na parte mais alta do trajeto, acima da Avenida do Contorno, as prostitutas esperam seus clientes dentro de carros de luxo.

Entre os travestis, no entanto, o clima não é amistoso, segundo o universitário V., de 27 anos. Há dois anos atuando na Afonso Pena, ele admite que agressões e brigas são frequentes. "Fico na minha, evito os grupos, pois as bichas são violentas. Basta um comentário para que se sinta ofendida e parta para agressão, com facadas ou até mesmo ácido. Eu vim para cá porque uma amiga me convidou e ela já tinha seu território delimitado. Mas não pensa que um travesti chega aqui e vai fazendo ponto, sem a permissão dos grupos que dominam a área", revelou.

V. é evasivo sobre o esquema de tráfico de drogas. "Não uso e desconheço. Pelo estilo mais escandaloso dos travestis, as pessoas acham que estamos todos envolvidos com crimes. Venho aqui para trabalhar, pois preciso. Queria muito ter um apartamento luxuoso para receber meus clientes, cujo contato faria pela internet. Mas não é o caso e acho que não podemos ser todos discriminados”, afirma, emendando com a afirmação de que o público na Afonso Pena é diverso e formado por uma clientela fiel.

Policiamento

Na sexta à noite, policiais militares voltaram a reforçar a fiscalização ao longo da Avenida Afonso Pena e também no Bairro Mangabeiras. Uma blitz do BPTran foi montada na Avenida Agulhas Negras, inclusive com bafômetro. As ações policiais vão continuar durante todo o feriado de carnaval na região. (Com Flávia Ayer)



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