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Estado de Minas NOSSO TSUNAMI

Estradas brasileiras matam tanto quanto catástrofes naturais


postado em 13/03/2011 06:55 / atualizado em 13/03/2011 07:22

Protegido, por uma posição geográfica privilegiada, das forças mais destruidoras da natureza, como o terremoto seguido de tsunamis que arrasou parte do Japão, o Brasil convive com uma tragédia que se repete a cada ano, cujos resultados se aproximam das grandes catástrofes naturais que assolam o planeta. Anualmente, o país conta na casa dos milhares as vidas perdidas em uma combinação de omissão, estruturas rodoviárias ultrapassadas, traçados criminosos e imprudência que faz o número de vítimas do descaso ser superado a cada feriado prolongado. As proporções do desastre podem ser medidas pela situação de Minas, com a maior malha viária nacional. Apenas no ano passado, foram 1.344 mortos nos caminhos que cortam o estado, número que, sozinho, já se aproxima das primeiras estimativas de vidas tragadas pelo desastre natural no extremo oposto do planeta.

Mas, em contraste com a imprevisibilidade das forças da natureza, os ingredientes dessa receita mortal brasileira são bem conhecidos: rodovias sinuosas, pistas malconservadas, inexistência de equipamentos como divisórias centrais e sinalização precária. Para usar essa estrutura, veículos leves em número a cada ano maior e cada vez mais potentes, sem contar os de carga e de transporte coletivo de passageiros. Com porções generosas da irresponsabilidade de motoristas e do descaso da União com as BRs mineiras, o resultado são dados como os que contabilizam 27.366 acidentes nos limites de Minas em 2010, que, além dos mortos, deixaram 16.695 pessoas feridas. A média geral nas BRs do estado, de 3,6 mortes por dia, ainda não inclui as registradas do Anel Rodoviário de Belo Horizonte, onde houve 39 óbitos no ano passado em apenas 26,5 quilômetros do corredor mais movimentado da capital, com fluxo diário de 120 mil automóveis.

O drama que espalha luto não só pelo estado, mas em todo o país, se repete em 2011, principalmente nos feriados prolongados. Em seis dias da Operação Carnaval (4 a 9 de março), a Polícia Rodoviária Federal (PRF) registrou 29 mortes nas BRs. Houve mais sete nas rodovias federais delegadas ao estado, totalizando 36 óbitos. Por trás dos números, famílias que continuam sendo despedaçadas, como a da médica Sílvia Bastos Heringer, que perdeu dois filhos, de 8 e 11 anos, e a mãe, de 66, na batida frontal entre o Meriva em que as vítimas viajavam e um caminhão na BR-381, em São Gonçalo do Rio Abaixo, na Região Central, em 26 de janeiro. O motorista do veículo de passeio e amigo da família, de 57 anos, também perdeu a vida no violento trecho entre BH e João Monlevade, conhecido como Rodovia da Morte. Foi exatamente nas curvas da BR-381 que a PRF registrou a maioria dos óbitos no ano passado: 334.

O governo federal assiste, inerte, a essa previsível carnificina. Prometida há mais de oito anos, a duplicação da 381, entre a capital e Governador Valadares, no Vale do Rio Doce, continua no papel. O descaso com as rodovias federais, no entanto, pode ser contado em décadas, como testemunham especialistas no setor.


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