Motoristas de Belo Horizonte devem começar se preparar. Vão precisar de muita paciência para enfrentar congestionamentos quilométricos ao atravessar a cidade, que começa a se transformar em um canteiro de obras. Aqueles que passaram pela avenida Antônio Carlos, próximo à trincheira da Avenida Santa Rosa, na Pampulha, nos últimos dias, puderam ter uma prévia do que os aguarda. A retenção, que vem causando transtornos, é reflexo das obras de duplicação da Avenida Pedro I e da implantação do transporte rápido por ônibus (BRT, na sigla em inglês). E esta é apenas a segunda de sete intervenções viárias previstas para o município até a Copa do Mundo em 2014 (veja arte). Apesar da magnitude dos empreendimentos, a BHTrans, empresa que gerencia o trânsito na cidade, admite não ter nenhum planejamento global que considere todas as obras para minimizar os impactos gerados no trânsito.
A BHTrans, por meio da assessoria de imprensa, informou que algumas alternativas serão criadas, como a retirada de alguns semáforos em locais onde há passarelas para pedestres. Mas argumenta que tais providências serão tomadas apenas à medida que as obras forem ocorrendo. O que, para o mestre em engenharia de transportes Renato Ribeiro, reflete a má administração do trânsito na capital. “Infelizmente, no Brasil não se tem o hábito de fazer gestão do trânsito com planos de contingência, ou seja, que faça um estudo para prever as consequências das intervenções e elaborar alternativas para a situação não chegar ao caos”.
Segundo Ribeiro, é possível minimizar os efeitos das obras, caso se faça um bom planejamento. “Hoje, já há tecnologia disponível no mercado que permite fazer simulação de tráfego. Mas os órgãos que administram o trânsito, lamentavelmente, não recorrem a essas ferramentas.” Para ele, a situação na capital só tende a piorar com a aproximação do calendário de eventos. Já para o consultor em transportes Osias Baptista Neto, tal plano é difícil de ser feito com tanta antecedência. “Em obras há muitas variantes mutáveis e nem sempre é possível prever tudo, principalmente quando se depende de liberação de recursos, licitações etc”.
Inaceitável
Na opinião do presidente do Instituto de Mobilidade Sustentável, João Luiz da Silva Dias, apesar da dificuldade de se prever os impactos de uma obra, algumas situações são inaceitáveis. “Não dá para intervir na Antônio Carlos e na Cristiano Machado no mesmo período, por exemplo. Seria repetir a tragédia que fizeram ao trabalhar os dois estádios da cidade ao mesmo tempo. Um absurdo”.
Mas os moradores podem esperar pela “tragédia” mencionada pelo especialista. De acordo com o presidente do Comitê Executivo da Copa 2014, Tiago Lacerda, provavelmente os empreendimentos para a implantação dos BRTs na Antônio Carlos e na Cristiano Machado ocorrerão simultaneamente. “São intervenções muito grandes, com prazo de entrega apertado. Não dá para esperar uma acabar, para iniciar as obras. A população vai ter que entender que os transtornos momentâneos são em prol de um benefício futuro permanente”, argumenta Lacerda.