Jandir Simões Vieira, de 64 anos, afirma que o corpo do filho apresentava claros sinais de violência. “Ele estava muito feio, todo machucado, a barriga furada. A parte direita da cabeça estava afundada. Já servi ao Exército e acho que aquilo é coronhada”, suspeita. Maria da Glória descreve outras marcas no corpo do filho: “Ele estava com as mãos e os pés quebrados e com vários cortes”, diz.
Dinheiro
O pai confirma que Carlos Roberto pegou R$ 1 mil emprestados com à mãe em 18 de fevereiro, um dia antes de morrer. Segundo Maria das Graças, o filho não disse o que faria com o dinheiro. No entanto, os familiares confirmaram que ele era viciado em crack e que em outras oportunidades já havia pedido dinheiro para comprar drogas. O Boletim de Ocorrência da PM não faz qualquer menção à apreensão de valores com o preso. Testemunhas confirmaram que Carlos Roberto carregava uma grande quantia, quando foi levado pelos policiais.
Outro indagação intriga a família do morto: Por que ele foi levado para o Galba Veloso, um hospital psiquiátrico, e não para um pronto-socorro, como os hospitais João XXIII e Hospital Odilon Behrens, este no Bairro Lagoinha, perto do local da prisão? Na unidade da Gameleira, o óbito foi constatado às 6h55 do dia 19 – a prisão ocorreu por volta das 3h – por parada cardiorrespiratória, que pode ser desencadeada por uma infinidade de causas. Antes que fosse deixado no Galba Veloso, os PMs o encaminharam ao Hospital Psiquiátrico Raul Soares, no Bairro Santa Efigênia, Região Leste, que não o aceitou. A médica de plantão alegou falta de vagas.
Somente o laudo da necropsia poderá esclarecer a real causa do óbito, documento que ainda não foi entregue pelo IML. Segundo a Polícia Civil, o prazo para que isso ocorra varia de 15 e 30 dias. O delegado Fausto Eustáquio Ferraz, que investiga o caso, diz que somente depois de receber o laudo poderá avançar na apuração do caso.
Carlos Roberto cumpria pena por furto na Penitenciária Dutra Ladeira, em Ribeirão das Neves, na Grande BH, quando recebeu o benefício da condicional no fim do ano. Porém, devido a um machucado no pé, ele deixou de comparecer ao trabalho e permaneceu em casa, passando à condição de foragido, de acordo com a família. Para Jandir Vieira, a morte do filho permanece inexplicada. “Sinceramente, acho que ele estava no lugar errado, na hora errada. Ele pode ter visto algo que não deveria”, acredita o pai.
Segundo o tenente-coronel Alberto Luiz Alves, a versão relatada à PM é de que Carlos Roberto foi agredido num ônibus na Região Central, desceu e entrou no motel, onde, bastante agitado, teria iniciado um quebra-quebra, motivo pelo qual os policiais foram chamados. Acrescentou que o Inquérito Policial Militar (IPM) corre em sigilo e que todas as testemunhas e envolvidos estão sendo ouvidos. “O inquérito não descarta nenhuma hipótese. Vamos atrás dos contornos dessa história”, garantiu. Sobre os traços de agressão no corpo, o oficial alertou que qualquer comentário é prematuro, antes do laudo de necropsia.
O caso
Na mesma madrugada em que militares da Rotam mataram duas pessoas no Aglomerado da Serra, Carlos Roberto morreu depois de ser detido por sete PMs em um motel no Centro da capital. Câmeras do circuito interno de TV do local mostram o momento em que ele foi contido e algemado, na Avenida Paraná, por volta das 3h. Em torno das 6h, foi deixado no Hospital Psiquiátrico Galba Veloso, no Bairro Gameleira, Região Oeste, com vários ferimentos, morrendo às 6h55, com parada cardiorrespiratória. Antes de identificado, o corpo carregava a etiqueta de número 134.