A leishmaniose visceral matou mais que a dengue em Belo Horizonte, no ano passado, e transformou a capital mineira em território de alto risco. No interior de Minas, a situação também é grave e, de acordo com dados preliminares do Ministério da Saúde (MS), o estado é o segundo com o maior número de casos da doença em 2010, atrás apenas do Ceará. Frente à grave situação instalada, uma caravana, em viagem por todo Brasil, estacionou em BH para, por meio de uma ferramenta lúdica, tentar combater uma doença com a qual não se brinca. O mosquito flebótomo, transmissor do mal, é o vilão da peça teatral O fim da picada, em cartaz até hoje no Parque das Mangabeiras, na Região Centro-Sul da capital.
Voltado para estudantes de 4 a 14 anos, o evento gratuito é promovido pelo laboratório veterinário Intervet/Schering-Plough e mostra como atacar de frente a doença que contamina gente de todas as idades. Apenas de 2009 para cá, foram 1.232 vítimas da leishmaniose em Minas, sendo que 132 morreram, segundo a Secretaria de Estado de Saúde (SES). Belo Horizonte concentrou, neste mesmo período, 22,8%, o equivalente a 282 casos, e 41% dos óbitos, num total de 55 vítimas, segundo dados da Secretaria Municipal de Saúde (SMSA). Para se ter ideia da letalidade da doença, a dengue, alvo de forte ação de governo, contaminou 51.755 e matou 15 pessoas em 2010 na capital; enquanto, a leishmaniose fez, ano passado, 131 vítimas e ceifou 22 vidas em BH.
De acordo com o coordenador da caravana contra a doença, o farmacêutico Marco Antônio de Castro, apesar de grave, a leishmaniose é negligenciada pelo governo. “Ela é a segunda doença que mais mata no mundo, ficando atrás somente da malária. Em Minas Gerais, a situação é gravíssima, por isso, o esforço de mobilização. Aqui a doença é endêmica, está instalada, mas tem muita gente que nem conhece a leishmaniose”, alerta. Apenas este ano, segundo a SES, Minas registrou 12 confirmações e um óbito pela doença. Em BH, são três casos de contaminação e nenhuma morte, por enquanto.
SEM CURA
O farmacêutico alerta que a leishmaniose não tem cura, mas tratamento e, por isso, a maior arma contra a doença é a prevenção. Segundo ele, é importante manter quintais limpos, evitar acúmulo de lixo, além de levar periodicamente os cães ao veterinário. Ele também recomenda o uso da coleira inseticida e repelente, que mata imediatamente o flebótomo. A coleira está sob avaliação do Ministério da Saúde (MS), que estuda a distribuição gratuita do material em cidades com alta incidência da doença. De acordo com o MS, o órgão encomendou pesquisa para este ano com objetivo de averiguar o uso de colares com o inseticida deltametrina em cães.
A estudante do Sesi Núcleo Antônio da Silva Pereira, Alice Abreu, de 6 anos, sabe muito bem os efeitos trágicos da leishmaniose. Marley, Barão e JJ, cachorros da garota, foram sacrificados por estarem infectados pelo parasita. “Eu até chorei. Tiveram que passar um remédio na minha casa. Mas, sábado, ganhei outro cachorrinho, a Otis. Desta vez, vou cuidar direitinho e ela não vai morrer. Ela vai receber três vacinas”, afirma Alice, atenta ao teatro. Já o estudante da Escola Municipal Levindo Coelho Igor Henrique Cerqueira, de 14, conhecia pouco da doença e pôde se informar sobre o assunto. “Sabia de cachorros, mas não de homens com a leishmaniose”, surpreendeu-se.
Em nota, a Secretaria Municipal de Saúde informou que faz cerca de 18 mil exames em cães por mês. O órgão ainda afirma que o tratamento em humanos terá nova ferramenta: as Unidades de Pronto Atendimento (UPA) passarão a contar com o exame ultrarrápido para leishmaniose, que mostra o resultado imediatamente.