Jornal Estado de Minas

Um ano depois do crime no Sion, veja como está a vida dos membros do Bando da Degola

Depois de um ano dos crimes cometidos pelo Bando da Degola nenhum dos oito acusados foi julgado pelas mortes dos empresários Fabiano Ferreira Moura, de 36 anos, e Rayder Santos Rodrigues, de 39. A rotina de cada um dos acusados mostra diferentes tratamentos da Justiça aos membros da quadrilha. O líder do bando e estudante de direito Frederico Flores está preso. Na mesma situação estão os cabos PM Renato Mozer e André Bartolomeu, o garçom Adrian Grigorcea e o advogado Arlindo Lobo. A médica Gabriela Costa, o advogado Luiz Astolfo e o pastor evangélico Sidney Beijamin respondem em liberdade.



O grupo é acusado de torturar, assassinar e decapitar os empresários em abril de 2010 num apartamento no Bairro Sion, na Região Centro-Sul de BH. Eles foram denunciados pelo Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) por homicídio qualificado, cárcere privado, extorsão, destruição e ocultação de cadáver e formação de quadrilha. Segundo o inquérito da Polícia Civil, a trama macabra do crime começou no dia 7 com a captura e tortura de Rayder. O empresário foi extorquido e ameaçado no apartamento. As mortes dele e do sócio aconteceram no dia 9. Depois de matar as vítimas, integrantes do bando teriam cortado dedos e cabeças deles, para dificultar a identificação. (Veja a cronologia do crime).

Veja como qual é a situação de cada um dos acusados um ano depois dos crimes:

(foto: Jair Amaral/EM DA PRESS)
Frederico Flores:

Ele cumpre pena em uma cela individual da Penitenciária Nelson Hungria, em Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Flores passa o tempo vendo uma TV de 14 polegadas e ouvindo um rádio relógio pequeno. Os materiais foram levados pela irmã e a mãe dele. Na penitenciária as visitas acontecem semanalmente, alternando sábados e domingos. O horário de visita é das 8h às 17h, podendo entrar até às 14h. As visitas mais recebidas por ele são da mãe e da irmã. Todos os dias, como todos os outros presos, Frederico tem direito a duas horas de banho de sol por dia.

Frederico Flores faz uso de medicamentos controlados, o que consta no processo. De acordo com o advogado Manuel de Oliveira Júnior, que defende Flores, o seu cliente recebe acompanhamento psicológico dentro da penitenciária, mas é deficiente. “O tratamento é esporádico, ele não faz exames periódicos”, diz.



No último dia 28, o MPMG avaliou o laudo de sanidade mental do estudante de direito. O que mais chama atenção no laudo, segundo o ministério, é que Frederico Flores fez uso de maconha no dia em que realizou o exame, quando já estava preso. Para Zanone, o fato de o cliente ter usado drogas dentro da cadeia reforça a tese de que ele não pode ser mantido como um preso comum. “Ele precisa de tratamento médico-psiquiátrico com urgência. O sistema prisional é voltado para a culpabilidade, não traz condições de tratamento adequado e, infelizmente, Frederico teve acesso a substância entorpecente. Ele devia ir para um hospital de custódia, que também é um estabelecimento prisional, mas a categoria de tratamento é curativa, não punitiva. Lá ele receberia o tratamento que merece. Acredito que após a homologação do laudo de sanidade, a autoridade judiciária e o sistema prisional vão tomar uma atitude no sentido de procurar a melhor saída”, explica Zanone. Frederico aguarda a sentença de pronúncia da Justiça. O laudo de sanidade mental atrasou o andamento do processo.

Gabriela Ferreira da Costa

A médica apontada como gerente do Bando da Degola está livre. Ela foi solta no dia 6 de junho de 2010 depois de um habeas corpus que a tirou do Presídio São Joaquim de Bicas II. Em dezembro do ano passado Gabriela foi flagrada trabalhando normalmente na emergência do hospital municipal Miguel Couto, um dos maiores do Brasil, que fica na zona Sul do Rio de Janeiro. As investigações do crime contra os empresários complica a situação de Gabriela. Embora a defesa da jovem sustente que todos os atos dela ocorreram sob ameaça e coerção, na lista de atividades da organização, a médica responderá pela emissão de receitas de medicamentos usados para dopar as vítimas, em alguns casos comprados por ela própria. Além disso, investigações apontam que ela cuidava pessoalmente da administração das contas e do controle da movimentação financeira do grupo, assistindo ainda a várias sessões de tortura de pessoas extorquidas. A acusada ainda aguarda a sentença de pronúncia.

Sidney Eduardo Beijamin

As investigações apontaram que a participação do pastor no crime teria sido apenas serviços de entrega para Frederico Flores em troca da promessa de gravação de um CD de música evangélica. Ele está respondendo ao processo pela morte dos empresário no Sion em liberdade. Sidney foi liberado, por meio de um alvará de soltura, no dia 8 do junho de 2010, do Centro de Remanejamento de Presos (Ceresp) em BH. Segundo o advogado de Sidney, Antônio da Costa Rolim, o cliente trabalha como segurança e continua pregando com o pastor. “Desde que saiu da prisão leva a vida dentro da normalidade”, afirma Rolim. Sidney ainda aguarda a sentença de pronúncia.



Luiz Astolfo

O advogado Luiz Astolfo ficou preso no Centro de Remanejamento de Presos (Ceresp) durante a fase de investigações do crime. Ele foi liberado em junho de 2010 e agora responde ao processo em liberdade. De acordo como defensor de Astolfo, Guilherme Marinho, o acusado trabalha normalmente. Depois da acusação de envolvimento no crime, precisou retomar a vida e os cliente lentamente. Astolfo ainda não foi pronunciado e o processo dele, segundo Guilherme Marinho, está na fase de alegações finais da defesa. O defensor do acusado afirma que Astolfo não faz parte de o Bando da Degola. “Nenhuma testemunha o conhece, nem mesmo os réus o conhecem. Ele não deve ser considerado um integrante do bando. Não há nenhum depoimento que o inclua no grupo“, disse Guilherme Marinho.

Adrian Gabriel Grigorcea

O garçom está detido no Presídio São Joaquim de Bicas I numa cela coletiva onde aguarda julgamento. Depois da pronúncia proferida no dia 12 de dezembro de 2010 pela juíza Maria Luiza de Andrade Rangel Pires, do 2º Tribunal do Júri de Belo Horizonte, ele vai a júri popular.

(foto: Sidney Lopes/EM DA PRESS)
Arlindo Soares Lobo


O advogado está detido no Presídio São Joaquim de Bicas II, assim como Adrian, numa cela coletiva. Durante a fase de instrução e julgamento do processo sobre as mortes de Rayder e Fabiano, Arlindo afirmou no tribunal que foi contratado como motorista de Frederico Flores. O advogado ainda confessou que esteve no apartamento no dia do assassinato de Rayder e Fabiano. Porém, Arlindo negou a participação no crime.



Renato Mozer

O ex-policial militar foi pronunciado no dia 4 de março de 2011 pelo o 2º Tribunal do Júri do Fórum Lafayette e vai a júri popular. Segundo o Tribunal de Justiça de Minas Gerais, não há dúvida de que o ex-militar participou dos assassinatos das duas vítimas. O réu vai aguardar o julgamento na prisão, ele está detido no 41º Batalhão da Polícia Militar, na Região do Barreiro, em Belo Horizonte. Segundo o assessor da Polícia Militar de Minas Gerais, capitão Gedir, o relatório do processo solicitou a exclusão dos militares. A decisão da expulsão deles, será julgada pela Polícia Militar. Os réus continuam presos em um quartel da PM.  Juntamente com o ex-policial André Bartolomeu, Mozer possui uma lista de queixas que vão além das acusações de envolvimento na morte dos empresários. Extorsão, ameaça, agressão, invasão de domicílio, arbitrariedade, lesão corporal, ofensa e roubo, são alguns dos itens que compõem a lista de queixas.

André Bartolomeu

O ex-cabo da PM vai a júri popular depois da pronúncia proferida no dia 12 de dezembro de 2010 pela juíza Maria Luiza de Andrade Rangel Pires, do 2º Tribunal do Júri de Belo Horizonte. Assim com o ex-cabo Renato Mozer, Bartolomeu está preso num batalhão da PM. O réu foi afastado da corporação cerca de 90 dias depois os crime com uma investigação na Corregedoria da PM. Antes de se envolver no Bando da Degola, Bartolomeu já era acusado de extorsão, ameaça, agressão, invasão de domicílio, arbitrariedade, lesão corporal, ofensa e roubo. Apesar das oito denúncias contra sua atuação, a ficha criminal do cabo Bartolomeu, que era lotado no 22º Batalhão da PM, permanece limpa por falta de provas dos denunciantes.

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