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Estado de Minas Belo Horizonte

Gatos ameaçam equilíbrio ambiental no Parque Municipal

Cerca de 140 gatos que vivem no Parque Municipal, Centro de BH, recebem cuidado especial, mas a prefeitura os quer longe de lá por considerá-los exterminadores de aves predadoras de cupins


10/04/2011 07:24 - atualizado 10/04/2011 08:02

(foto: Jefferson da Fonseca Coutinho/EM/D.A Press)

Nem mocinhos nem bandidos. Sobreviventes. Pode-se chamar assim os cerca de 140 felinos habitantes do metro quadrado mais puro do Centro de Belo Horizonte. O Parque Municipal Américo Renné Gianetti, antiga Chácara do Sapo, que em 1908 viu nascer o time do Galo, há muito é abrigo de luxo de gatos abandonados. Na calada da noite, geralmente aos sábados, domingos e feriados, pretos, fêmeas e filhotes – os mais rejeitados – são largados à beira do cercado de ferro do complexo que faz divisa com as avenidas Afonso Pena e dos Andradas, a Rua da Bahia e a Alameda Ezequiel Dias.

A legião de gatos, enturmada, segue marota entre pombos e marrecos no patrimônio ambiental mais antigo da capital, inaugurado em 1897. Não é preciso esforço para vê-los imponentes, esparramados sob o verde que rodeia o Teatro Francisco Nunes, o coreto, o lago, entre as pequenas vias que cortam o parque, que, em fins de semana, chega a receber 60 mil visitantes. Mas eles podem perder esse privilégio de viver em liberdade. São predadores de pássaros e a prefeitura quer tirá-los de lá porque, sem pássaros, os cupins se proliferam e atacam as árvores.

Odiados e rejeitados por uns e amados por outros, os bichanos do parque não passam fome nem se multiplicam desordenadamente graças ao trabalho de voluntários como Jane Penna, da Associação Bichos Gerais, organização não governamental vinculada à Sociedade Mundial de Proteção Animal (WSPA). Há 15 anos, ao menos três vezes por semana, Jane é protetora dos pequenos domesticados do parque. Acompanha e alimenta os bichos, dá carinho a eles e os leva ao veterinário. Também os leva para casa, quando se envolve além da conta. O que não é raro.

“Às vezes, não resisto. Tenho dó. Muitos são maltratados. Eles não precisam de muito. Só respeito. Desde pequena, gosto de gatos.” E como gosta. Em casa, mostra com orgulho fotografias em preto e branco, dos tempos de criança, vestida de gatinha, fazendo pose, abraçada a filhotes de variados tamanhos, raças e cores. No Bairro Sion, na Rua Washington, em ampla morada de andar inteiro, vivem com ela Catira, Minalva, Lolita, Baiana e outros tantos temporários,
(foto: Jefferson da Fonseca Coutinho/EM/D.A Press)
em recuperação ou à espera de adoção. A ambientalista não quer aparecer. Não permite ser fotografada e pede publicidade apenas para a defesa dos animais. Aposentada, acometida por um acidente vascular cerebral (AVC), Jane se emociona: “São os gatos que me mantêm viva”.

Os recursos financeiros vêm do próprio bolso. Média de R$ 5 mil por mês, gastos com ração, remédios e castrações. Quem ajuda a fazer as contas é a socióloga Marília Andrade, outra voluntária apaixonada por felinos, amiga e fiel escudeira de Jane. Mesmo com o espaço fechado ao público por 81 dias – de 14 de janeiro a 4 abril –, Jane Penna teve autorização especial da administração para, no período, transitar pelo parque na companhia de funcionário da prefeitura. De táxi, dentro dos 182 mil metros quadrados de diversificada vegetação, são horas de trajeto e empenho sistemáticos, além de dois sacos de 10 quilos de ração da melhor qualidade.

Às segundas-feiras, Jane captura para castração e cuidados clínicos. O resto da semana fica para visita e alimentação. Generosa, explica que os gatos são marcados para controle do agrupamento: furo na orelha esquerda para os machos e na direita para as fêmeas. Lamenta, especialmente, o enorme preconceito contra os gatos negros. “São os mais dóceis. É muita ignorância.” No porta-malas do carro branco, de aluguel, ela mostra a comida superpremium e a gaiola especial, americana, para captura e transporte dos mais necessitados. “É preciso uma tampa na parte de cima. Por baixo, eles não entram de jeito nenhum.” O atendimento médico também é de primeira e cabe ao especialista Marcelo Lobão, da Clínica Veterinária de Urgência, na Rua Aquiles Lobo, 39, Bairro Floresta, Região Leste de BH.

Liberdade ameaçada

Com a reabertura dos portões do parque, terça-feira, depois de tempos de paz com o fechamento para vistoria de quase 4 mil árvores, os gatos estão para ganhar nova morada. É um gatil, segundo projeto da Fundação de Parques Municipais, ainda em fase de estudos. Solução para um problema de desequilíbrio natural, que pode ter contribuído com a proliferação dos cupins, comprometendo árvores. A explicação parece simples: os gatos exterminam pássaros e répteis que se alimentam de cupins. Os cupins se proliferam e atacam árvores. Com isso, segundo o ambientalista Homero Brasil, diretor do parque, a situação fica delicada e a fundação está tomando os cuidados necessários para que os gatos recebam um novo espaço, com instalações apropriadas e mão de obra qualificada. “Tudo com a maior dignidade possível”, ressalta.
Para Jane Penna os gatos não podem ser responsabilizados pela população de cupins. “Se há um vilão, ele é o pessoal que abandona os bichos no parque. Os gatos são muito bem alimentados e estão sob controle. Eles não precisam caçar passarinhos. Os pássaros estão lá. Sempre os vejo, os ouço. Não basta retirar os gatos. O que precisa ser feito é uma grande campanha de conscientização, caso contrário as pessoas vão continuar abandonando seus animais.”

O outro lado, a gestão pública, pisa em ovos e trabalha para não dar brechas aos defensores dos animais. Paixão à parte, para a chefe da Divisão de Manejo e Operações do Parque Municipal, Tatiani Cordeiro, é preciso ir além e considerar tudo o que envolve a questão. Segundo a bióloga, de fato, levantamentos mostram redução significativa de répteis e aves que ajudariam no combate aos cupins. Indicam também que o parque não é o melhor lugar para a sobrevivência dos gatos, considerando que lá eles também sofrem maus-tratos.

SOS bichos
Todos os animais são protegidos por lei. Abandoná-los ou maltratá-los é crime e pode render pena de três meses a um ano de detenção e multa (Lei Federal 9.605/98 e Decreto-Lei 24.645/34).

Para denunciar maus-tratos

Cia. de Polícia Militar de Meio Ambiente: 2123-1600, 2123-1610, 2123-1614, 2123-1616

Polícia Militar: 190

Disque-denúncia : 181

Delegacia de Ecologia – Divisão do Meio Ambiente, Rua Piratininga, 105: (31) 3212-1339;

Ibama – Linha Verde: 0800-61-8080 linhaverde@ibama.gov.br

Contato para adoção

Marília Andrade: (31) 2516-7386 ou 9924-4699

Como eles vivem

>> Em média, o gato tem de seis a quatro quilos e 80cm de comprimento, da cabeça ao rabo. É formado por 245 ossos e 517 músculos

>>Plantas venenosas representam perigo. Alguns gatos gostam de mastigar folhas

>>A expectativa de gastos com veterinário para um gato é de cerca de R$ 160 por ano

>>A expectativa de vida do gato dobrou desde 1930: de oito para 16 anos

>>Um gato criado em casa vive, em média, 15 anos. Expectativa que baixa para no máximo cinco anos para o gato de rua

>>O gato passa mais de 30% de seu tempo cuidando de higiene e beleza

>>Diferentemente dos cães, os gatos têm muito pouco ou nenhum cheiro

>>Os gatos têm cerca de 100 sons vocais e os cães apenas 10

>>Por ser um animal do deserto, o gato bebe pouca água e é capaz de concentrar muita urina

>>O gato pode ficar vários dias sem comer

>>Chega a dormir 16 horas por dia, divididas em vários períodos

>>Assim como os humanos, os gatos roncam desde a primeira semana de vida, especialmente quando estão felizes


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