A sustentabilidade vai para a lata de lixo em Belo Horizonte. Garrafas PET, isopor, latas, copos descartáveis, sacolas plásticas e todo tipo de embalagem engrossam cada vez mais o volume de resíduos sólidos descartados pelos 2,3 milhões de moradores da capital e põem em risco as políticas de tratamento de dejetos da cidade. É uma carga pesada, se for considerado o aumento de 22% na quantidade recolhida e aterrada na capital na última década. O lixo domiciliar coletado pela Superintendência de Limpeza Urbana (SLU) saltou de 513,9 mil toneladas em 2000 para 629,4 mil toneladas em 2010. Isso representa cerca de 300 toneladas diárias a mais, ou seja, de 1.407 toneladas coletadas por dia no início da década, BH pulou para 1.720 no ano passado. Apesar de estar atrás de outras capitais do mesmo porte, como Brasília, onde o aumento na geração de lixo foi de 45% no mesmo período (de 538,6 mil para 781,3 mil toneladas), o crescimento na capital é três vezes maior do que o da população no período (6%) e preocupa ambientalistas e a prefeitura.
“É uma situação especial e quero acreditar que momentânea, motivada pelo crescimento da economia. Mas, se essa curva crescer com a inclinação que ela aponta, isso será o caos. Em 10 anos, vamos passar a produzir mais do que o dobro das 3,3 mil toneladas diárias atuais, se considerarmos o lixo domiciliar, o da varrição de ruas, da poda e das deposições clandestinas. Podemos chegar a até 7 mil toneladas/dia. Nenhuma cidade suporta isso”, explica o diretor de operações da SLU, Rogério Siqueira, que ainda faz um alerta: “Para os próximos três anos, a projeção de crescimento já é de 20%. Vamos atingir 4 mil toneladas/dia de lixo”, afirma.
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A explicação para tanto lixo, conforme o professor de economia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Mário Rodarte, está relacionada à mudança dos hábitos de consumo da população e à elevação do poder de compra. “O poder aquisitivo cresceu. O desemprego diminuiu e a renda média da população brasileira aumentou 25% ao longo da década, saltando de R$ 1.087 em 2000 para R$ 1.360 em 2010. Isso tem um impacto direto no consumo de bens duráveis e não duráveis, mas sobretudo na alimentação”, afirmou.
Dados da Fundação João Pinheiro mostram que a taxa de desemprego na Grande BH caiu de 17,8% em 2000 para 8,4% no ano passado. “Houve ainda o aumento do emprego formal, o que resultou em um recorde no índice de pessoas formalizadas. Hoje, 62,7% da população ocupada está no setor privado com carteira assinada ou no setor público. Esse número nunca foi tão alto desde 1996”, explica o professor.
A mudança no consumo, segundo Rodarte, atingiu todas as classes sociais. As de menor poder aquisitivo passaram a ter na geladeira mais produtos industrializados, como iogurtes e refrigerantes. Nas classes com uma dinâmica econômica mais ativa, o consumo de produtos cada vez mais embalados se tornou ainda maior.
Outro fator que influenciou no aumento da geração de lixo, segundo Rodarte, foi a entrada da mulher no mercado de trabalho. “A figura da dona de casa está cada vez mais rara. Com isso, as pessoas consomem produtos mais elaborados, como comida congelada, sucos industrializados, molhos e sopas semiprontos, que têm uma grande quantidade de embalagens”, disse. O professor lembra que os reflexos da estabilidade econômica atingiram ainda o setor de automóveis e da construção civil.
Custo alto
A conta para tratamento de tanto resíduo é cara e paga pelo gerador do lixo. De acordo com o diretor operacional da Superintendência de Limpeza Urbana (SLU), Rogério Siqueira, são gastos R$ 76 milhões por ano para a coleta e destinação do lixo domiciliar em Belo Horizonte. O valor leva em conta as taxas diárias de R$ 83 para coleta e transporte do lixo das residências até o aterro em Sabará e o valor de R$ 35 para aterramento. “Com esse dinheiro seria possível construir 1,9 mil casas ou aumentar a frota da prefeitura com 3 mil carros populares”, afirma.
Se o aumento na produção de lixo tivesse crescido na mesma proporção dos habitantes (6%), o gasto seria de R$ 65 milhões por ano, ou seja, R$ 11 milhões a menos. Com o montante seria possível erguer 275 casas populares. A taxa de limpeza urbana é cobrada na guia do Imposto Predial Territorial Urbano (IPTU). Para as residências com coleta diária, o valor é de R$ 261,34. Onde a coleta ocorre três vezes por semana, a taxa cai para R$ 130,67.
LIXO domiciliar....................População
2010 – 629,4t.........................2.375.444
2009 – 594,8t........................2.452.617
2008 – 574,1t.........................2.434.642
2007 – 552,7t.........................2.412.937
2006 – 546,2t........................2.399.920
2005 – 515,6t.........................2.375.329
2004 – 505,6t........................2.350.564
2003 – 498,7t........................2.305.812
2002 – 535,0t........................2.284.468
2001 – 523,4t.........................2.258.857
2000 – 513,9t........................2.238.526
Custo de coleta e aterramento
R$ 121 por tonelada
(R$ 86 de coleta e R$ 35 de aterramento)
Coleta Seletiva
2010 ...................7,8t
2009 ..................10,7t
2008 ..................9,8t
2007 ...................8,1t
2006 ...................6,9t
2005 ...................7,2t
2004 ...................6,5t
2003 ...................7,5t
2002 ...................5,7t
2001 ....................6,5t
2000 ....................6,7t
Seletiva porta a porta
30 dos 324 bairros atendidos
354 mil pessoas beneficiadas
15% da população de BH
Como funciona
Papel, metal, vidro e plástico são separados pelos moradores e recolhidos no domicílio ou estabelecimento comercial por caminhão baú, carrinho de mão motorizado ou caminhão compactador. O materiaL é destinado a associações ou cooperativas de catadores.
Bairros da seletiva
Anchieta (terça e sexta-feira)
Barreiro (parte da região, quinta-feira)
Barroca (parte do bairro, sábado)
Belvedere (quinta-feira)
Buritis (quarta e sexta-feira)
Carmo (terça e sexta-feira)
Cidade Jardim (quarta-feira)
Cidade Nova (terça-feira)
Comiteco (quinta e sexta-feira)
Coração de Jesus (quarta-feira)
Cruzeiro (terça e sexta-feira)
Estoril (parte do bairro, quarta-feira)
Grajaú (parte do bairro, sábado)
Gutierrez (sábado)
Lourdes (parte do bairro, sexta-feira)
Luxemburgo (quarta-feira)
Mangabeiras (sexta-feira)
Olhos D’Água (parte do bairro, quarta-feira)
Funcionários (Boa Viagem, quinta-feira)
Santa Lúcia (quarta e sábado)
Santo Antônio (quarta e sexta-feira)
São José (quarta-feira)
São Lucas (parte do bairro, terça-feira)
São Luiz (parte do bairro, quarta-feira)
São Bento (sábado)
São Pedro (sexta-feira)
Savassi (quinta e sexta-feira)
Serra (terça-feira)
Sion (quinta-feira)
Vila Paris (quarta-feira)
Programa Carroceiros
Serviço de retirada de entulho feito por carroceiros cadastrados na SLU. Eles fazem a retirada e levam o material para 29 unidades de recebimento de pequenos volumes (URPVs). Pode ser contratado pelo telefone 156.
Descarte – Lixo eletrônico
(Computadores, impressoras e equipamentos de informática)
Empresa de Informática e Informação do Município de Belo Horizonte (Prodabel): Rua José Clemente Pereira, 440, Bairro Ipiranga, telefone: 3277-6259
Material eletrônico em geral
(telefone, Ipod e celular)
Associação Municipal de Assistência Social (Amas): material eletrônico em geral, como telefone, iPod e celular. Enviar termo com lista de material, nome, CPF e RG para secramas@pbh.gov.br, telefone:
(31) 3277-5219
Eletroeletrônicos em geral
só não recebe tv, geladeira e fogão
ONG CDI Minas (Comitê para Democratização da Informática): Rua Garret, 628, Bairro Nova Granada, telefone 3373-2150
Pilhas usadas
(lanternas, rádios, controle remoto, relógios, celunos, telefones etc.)
Agências do Banco Real (Santander)
RESÍDUO EM MINAS
52 municípios com aterros sanitários
227 aterros controlados
385 lixões
94 usinas de triagem e compostagem