Jornal Estado de Minas

Nelson Hungria

Ação policial para recolher drogas, armas e objetos em celas deixa dois detentos feridos

Mudança de sistema revolta familiares

Pedro Rocha Franco
Por volta de 13h, fumaça preta no telhado dos seis primeiros pavimentos revelou a ocorrência de confusão durante a vistoria de agentes nas celas - Foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press

Dois detentos ficaram feridos ontem durante megaoperação pente-fino na Penitenciária Nelson Hungria, em Contagem, na Grande BHAgentes da Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds) fizeram uma vistoria nas celas da unidade para recolher drogas, armas e objetos irregulares mantidos pelos presosA ação deve continuar hoje e faz parte de uma intervenção da nova direção da penitenciária, incumbida de tratar com mãos-de-ferro os problemas da unidade.

A decisão, segundo um funcionário que preferiu não se identificar, teria revoltado agentes da Seds envolvidos num esquema de corrupção e facilitações para entrada de entorpecentes, celulares e outros objetosA secretaria nega a ocorrência de tumulto na penitenciária e informa que ninguém ficou feridoA explicação é de que dois detentos ficaram feridos depois de serem atingidos por armamento não-letal e foram levados a uma unidade de pronto-atendimento (UPA) por estarem sob custódia do estado.

Na semana passada, o secretário de Estado de Defesa Social, Lafayette Andrada, teria destituído o diretor-geral da Nelson Hungria, Cosme Dorivaldo Ribeiro Santos, devido à repetição de irregularidades na penitenciária e, em seguida, nomeado para seu lugar um antigo conhecido dos presos: Luiz Carlos Danúzio, ex-comandante da unidade e, diferentemente do antecessor, tido como linha-duraA operação de ontem seria deflagrada em segredo, mas, três dias antes, agentes penitenciários teria tomado conhecimento da intervenção e se revoltado com a alteração no esquema.

A mudança de postura no tratamento de presos e visitantes começou no fim de semanaAs mães e mulheres dos detentos foram proibidas de levar ovos de chocolate para comemorar a Páscoa e, além disso, em vez de um agente monitorando a visita, como de costume, três funcionários fizeram a vigilânciaOntem, com a operação pente-fino na penitenciária, o cadastro de visitantes foi interrompido por tempo indeterminado, revoltando parentes que se deslocaram até a unidade prisional para preencher a ficha de visita.

Vinda de São Paulo, a cozinheira Odília Dias Reis, de 65 anos, tentava entregar um documento ao filho, preso, segundo ela, por porte ilegal de armaEla chegou à penitenciária às 11h e, em poucos minutos, teria ouvido uma sequência de tiros e bombas“Conheço bem barulho de tiroDepois que a imprensa chegou, eles pararam
Não há necessidade de se fazer issoMas, se houve tiro, houve tentativa de rebelião”, diz.

Depois da chegada à penitenciária da equipe do Estado de Minas, por volta de 13h, não foi ouvido nenhum disparo ou barulho semelhanteMas fumaça preta subia da área superior da penitenciária, onde estão localizados os seis primeiros pavilhõesÀs mulheres, por meio de telefone celular, os presos contaram que os agentes da Seds estavam exatamente nesses locais, vistoriando as celas, enquanto os pavilhões da parte baixa estavam sem agentesOs presos não tiveram direito ao banho de sol.

De acordo com a assessoria de imprensa da secretaria, os estrondos faziam parte da operação e eram bombas de luz e som para “alertar os presos”Sobre a suposta queima de colchões e roupas, que teria gerado a fumaça preta, a assessoria diz desconhecer o fatoEm relação à substituição dos diretores, a informação oficial dá conta de que é uma mudança rotineira e comum nas unidadesOs dois presos atingidos por munições não-letais teriam resistido e tentado impedir a vistoria nas celasEles estariam presos no mesmo pavilhão destinado aos presos da facção criminosa paulista Primeiro Comando da Capital (PCC).

Suspeitas

A série de irregularidades relacionadas à principal unidade prisional de Minas, onde está detida a maior parte dos presos mais perigosos do estado, se repete há alguns mesesO goleiro Bruno Fernandes de Souza, preso há quase um ano sob acusação de ter assassinado a ex-amante, Eliza Samudio, por exemplo, tem várias regalias, como o benefício de ser mantido num pavilhão separado, em companhia do amigo Luiz Henrique Romão, o Macarrão.

Em fevereiro, o pintor Marcos Antunes Trigueiro, de 32, conhecido como Maníaco de Contagem, sofreu um ataque de outro preso enquanto tomava banho de sol
Com uma faca, ele foi atingido no peitoEm outra ocorrência, no mês passado, o universitário Frederico Flores, acusado de comandar o Bando da Degola, usou maconha nas dependências da penitenciária, o que foi apontado em laudo de sanidade mental feito pelo Instituto Médico Legal.