Grande parte da população de Santa Luzia, na Grande BH, sofre com os transtornos causados pelo tráfego pesado na cidade, depois da interdição, há uma semana, da ponte no Rio das Velhas, no km 454 da BR-381. Dia e noite, carretas, caminhões, ônibus e carros de passeio causam um barulho incessante, levantam poeira, corroem o asfalto das vias urbanas, prejudicam a mobilidade dos moradores, abalam construções e afetam pontos comerciais. A situação, que já é caótica, pode ficar pior com a decisão da Prefeitura de BH de manter a Festa do Trabalhador, domingo, na Via 240, no Bairro Aarão Reis, Região Norte da capital, um dos acessos à MG-020, que leva a Santa Luzia. O Exército adiou para hoje avaliação na BR-381 para instalação de ponte provisória.
Em nota, a BHTrans informa que os desvios serão sinalizados com faixas para orientação dos condutores, e agentes de trânsito vão monitorar e fiscalizar o tráfego. Segundo a empresa, 19 linhas de ônibus da Estação São Gabriel e linhas do DER terão seus itinerários alterados. A funcionária pública Marcônia da Costa, de 44 anos, do Bairro Boa Esperança, em Santa Luzia, não concorda com essas avaliações. Além de ter de suportar o congestionamento, as idas e vindas à capital ficarão mais longas. “Vou ter de passar pelo Bairro São Benedito, o que aumenta o trajeto entre 15 e 20 quilômetros.”
Caos geral
Pelas estreitas ruas de Santa Luzia, que hoje absorvem grande parte do fluxo da BR-381, há muitas reclamações. Os problemas batem à porta de Djalma Vieira Dias, de 69 anos, na Rua Baldim, no Bairro da Ponte: “O carro nem sai da garagem mais. O barulho me faz acordar às 4h. O estresse já subiu”, afirma, em meio ao movimento de caminhões e carros. A filha, Cláudia Márcia Vieira, de 41 anos, engrossa a lista de reclamações: “Não conseguimos assistir a televisão ou falar ao telefone, é muito barulho”, explica. Com a mistura de fuligem e poeira no ar, a loja de roupas da filha e o bar do pai estão fechados dois dias.
Na casa do motorista José Wilson dos Reis, de 42 anos, no Conjunto Morada do Rio, surgiram as primeiras trincas no teto da cozinha. “É barulho o dia todo, poeira e dificuldade de nos locomovermos na cidade”, afirma. Segundo ele, os filhos já apresentam problemas respiratórios devido ao ar poluído. A Escola Estadual Altair de Almeida Viana, na Rua Baldim, no Bairro Rio das Velhas, pediu ajuda da Polícia Militar para auxiliar a entrada e saída dos 750 alunos em três turnos de aulas. A orientadora Uiara Vaz Penna diz que mais medidas serão necessárias. “Precisaremos de um quebra-molas, placas de sinalização e mais policiamento. Temos ainda alertado os pais para que não deixem os filhos virem sozinhos para as aulas”, conta a orientadora.
Os lojistas também sofrem com a nova rotina. Na Rua do Comércio, tradicional ponto de compras de Santa Luzia, não há mais vagas de estacionamento e caminhões causam problemas. “Na segunda-feira, uma carreta cortou o fio de telefone que chega à minha loja”, diz Humberto Faria, dono de uma agroveterinária. Outras duas lojas também ficaram sem a comunicação. Até a tarde dessa quarta-feira, o fio não havia sido trocado.
A Prefeitura de Santa Luzia tenta amenizar os problemas, apesar de reconhecer as limitações. Nessa quarta-feira equipes municipais estreitavam a entrada para a chamada Ponte Velha, um dos pontos de ligação entre a Rua do Comércio e o Centro Histórico, pois caminhões estavam ignorando as placas e pondo em risco obras de arte. “Deixaremos uma passagem de 2,6 metros de largura, o que impedirá o tráfego de caminhões. Esta ponte foi condenada há muito tempo para o tráfego pesado”, explica o superintende de Trânsito e Transporte, Schneider Carvalho.