Apesar de todos os anos, enxurradas de campanhas alertarem mulheres brasileiras sobre a importância de um diagnóstico precoce para o câncer de mama, a principal aliada nesta guerra no Brasil, a mamografia, não está na batalha como deveriaDos 1.645 mamógrafos disponíveis na rede pública nacional, 50,87% estão abaixo da capacidade de realização de examesA situação, que preocupa especialistas e deixa em alerta as mulheres acima dos 40 anos, fez com que o Ministério da Saúde organizasse uma auditoria dos equipamentos em 780 municípiosNessa quinta-feira, uma força-tarefa foi instituída: ela terá 10 dias para compor a estratégia de atuação e 60 dias para entregar um relatórioA investigação bate à porta de Minas Gerais, onde dos 219 aparelhos do Sistema Único de Saúde (SUS) 49,3% têm baixa produtividadeNada menos que 114 municípios mineiros passarão pelo pente-fino do ministério, que mantém os nomes dos lugares em sigilo para não atrapalhar a operação
Considerado o segundo estado com maior número de mamógrafos, perdendo apenas para São Paulo, com 400 aparelhos na rede pública e à frente do Rio Grande do Sul, com 141, Minas Gerais, segundo estima o Instituto Nacional do Câncer (Inca), registra todos os anos, média de 4 mil novos casos de câncer de mama em mulheres“O índice de máquinas ociosas no estado é preocupante, daí, o papel efetivo da mamografia perde sua eficácia”, alerta o presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM), regional Minas Gerais, João Henrique Penna ReisEle ressalta que o problema é a ponta do icerberg para as condições dos exames atualmente“Muitos aparelhos estão em lugares onde não há demanda nem profissional capacitado para manipulá-losEm outros locais, há demanda, mas falta o equipamento
O cenário mineiro foi surpresa para a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES)“É um absurdoÉ falta de compromisso com o câncer dos gestores locais de saúde”, ressalta o coordenador estadual do Programa de Prevenção do Câncer de Colo do Útero e de Mama da SES, Sérgio Bicalho, que alega que o estado não gerencia os aparelhos das prefeiturasBicalho diz que não é possível mensurar quantas mulheres estão deixando de fazer o exame de mamografia no estado“Existe um déficit regional, nas cidades mais pobres, como as do Norte e Nordeste.”
A Sociedade Brasileira de Mastologia chegou a se reunir com o Ministério da Saúde para expor a situação“Os países desenvolvidos têm uma forma de rastreamento oficial, acompanhando de perto os exames dessas mulheres: elas recebem um convite de agendamento dos exames, até com horário marcadoNo Brasil, há essa recomendação mas a organização não ocorre dessa formaCom isso, a cobertura fica precária”, reclama João Henrique Penna, lembrando que um mamógrafo tradicional chega a custar US$ 100 mil (R$ 158 mil); os com tecnologia digital, U$ 150 mil (R$ 237 mil)
“Se comparado ao benefício que ele traz, o equipamento, se bem usado, reduz custos na saúde pública
CAPITAL Em Belo Horizonte, onde são 25 equipamentos, apesar de a secretária-adjunta municipal de Saúde, Suzana Rates, orgulhar-se do equilíbrio entre oferta e demanda na capital, com 100 mil exames feitos no ano passado para uma capacidade de 110 mil, o aparelho no Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (HC/UFMG) está desde fevereiro sem operar, por problema em uma das peçasA previsão, de acordo com o hospital, é que ele volte a funcionar no fim de maio ou início de junhoDe uso interno, os pacientes do HC estão fazendo os exames em outros hospitaisBelo Horizonte tem em média 900 novos casos de câncer de mama em mulheres por ano, e segundo Suzana, o SUS paga por cada mamografia nas duas mamas o valor de R$ 45Em apenas uma das mamas, o custo é de R$ 22,5.