Em 2009, o engenheiro civil André Luiz de Oliveira, de 37 anos, doutor em hidráulica e saneamento básico, trocou o cargo na Diretoria de Projetos da Superintendência de Desenvolvimento da Capital (Sudecap) pelo de professor na Universidade Federal de Uberlândia (UFU). Ele só decidiu assumir outra vaga em concurso público depois de muita reflexão. Pesou na balança o fato de que, na cidade do Triângulo Mineiro, encontraria a mesma estrutura urbana de Belo Horizonte, sem precisar enfrentar o trânsito caótico da capital a caminho do trabalho. Com isso, poderia passar mais tempo ao lado da mulher, a fisioterapeuta Ana Flávia Mayrink Gonçalves e Oliveira, de 31, e da filha, Manuela, que tinha acabado de nascer. Dois anos depois, a família mora em um apartamento a menos de 500 metros da UFU, no Bairro Santa Mônica. “Morava na Pampulha e trabalhava no Centro de BH. Naquele ritmo, não iria acompanhar o crescimento da minha filha. Uberlândia foi a grande oportunidade que tive de conciliar crescimento profissional com mais qualidade de vida”, resumiu o engenheiro.
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A fórmula do crescimento tem outros ingredientes. Destaque em agronegócios, telecomunicações e call center, movimentada por multinacionais, Uberlândia é o maior centro atacadista da América Latina. Tem uma atividade comercial intensa e posição geográfica privilegiada, próximo às divisas de Minas com São Paulo, Goiás e Mato Grosso do Sul. O município é cortado por importantes rodovias, como as BRs 050, 365, 267 e 452. “Esta gente toda não é daqui, veio de fora. Com o cruzamento das rodovias e ferrovias, todo o movimento passa por aqui. Uberlândia não tem nada de Minas, nenhum contato comercial com BH. Quando fui estudar na capital, em 1967, a estrada para lá ainda não era asfaltada. Aqui é uma mistura de São Paulo com Goiás, basta observar o sotaque”, afirma o uberlandense Eduardo Jorge Hubaid, de 61, professor da UFU.
A influência dos estados vizinhos é notória pelas ruas de Uberlândia. Pessoas desfilam com camisas de clubes de futebol que não representam Minas. O trânsito está cheio de veículos com placas de municípios paulistas e goianos, mas também há muitas do interior mineiro: Patrocínio, Monte Alegre de Minas, Perdizes... Formado em direito, Luiz Henrique Leonardo Batista morou no polo do Triângulo há alguns anos e voltou para a cidade há dois, desta vez como cantor de música sertaneja, carreira que iniciou em BH. “Em um raio de 500 quilômetros de Uberlândia, meu trabalho é divulgado pelo principal cenário sertanejo do Brasil, o Sul goiano, o Noroeste de São Paulo e o Triângulo”, disse.
CONTRASTES
O relógio da Catedral de Santa Terezinha, na Praça Tubal Vilela, no Centro, soa seis vezes anunciando o início da noite, tradição preservada em muitas cidades do interior de Minas. Mas a aglomeração de pessoas nos pontos de ônibus mostra outra realidade, reflexo dos números apontados pelo Censo 2010. “Os coletivos estão passando mais cheios e não sobra espaço para viajar sentada”, lamenta a estudante de agronomia Jéssica Firmino de Abreu, de 19, moradora do Bairro Granada. Nos horários de pico, um dos principais problemas causados pelo boom populacional vem à tona. “Aparentemente, a rede viária de Uberlândia é adequada, mas a situação é diferente. Gargalos estão se formando no trânsito e os acidentes se tornando frequentes. Os indicadores do problema são o aumento do tempo de viagem e as longas filas nos semáforos”, afirma o professor de economia dos transportes da UFU Carlos Alberto Faria. Natural de Uchoa (SP), ele mora em Uberlândia há 31 anos.
Os principais corredores de trânsito da cidade têm os mesmos nomes de vias importantes de BH: Getúlio Vargas, Afonso Pena, Olegário Maciel, João Pinheiro, Santos Dumont. Todas vigiadas pelo sistema de monitoramento eletrônico Olho Vivo. No ano passado, foram 3.226 roubos na cidade, média de 8,8 por dia, segundo a 1ª Delegacia Regional da Polícia Civil. “O recorde de tempo que fiquei em um engarrafamento foi de cinco minutos. Como vim de BH, isso não representa nada. Mas para quem é de Uberlândia, que não está acostumado, deve ser um grande transtorno. Quanto à violência, a gente sabe que existe, mas a sensação de segurança é bem maior do que na capital”, afirma o engenheiro André.
Censo 2010 (População)
1º) Belo Horizonte
2.375.151 (2.238.526 em 2000)
2º) Uberlândia
604.013 (501.214 em 2000)
3º) Contagem
603.442 (538.017 em 2000)
4º) Juiz de Fora
516.247 (456.796 em 2000)
5º) Betim
378.089 (306.675 em 2000)
6º) Montes Claros
361.915 (306.947 em 2000)
7º) Ribeirão das Neves
296.317 (246.847 em 2000)
8º) Uberaba
295.988 (252.051 em 2000)
9º) Governador Valadares
263.689 (247.131 em 2000)
10º) Ipatinga
239.468 212.496 em 2000)
Fonte: IBGE