A situação da Praça Iron Marra, no Bairro Santa Amélia, onde oito moradores de rua foram vítimas de envenenamento domingo de manhã, pode ser encontrada em várias regiões da cidade, ocupadas pelos mendigos. O número dessas pessoas cresce a cada ano. O último censo da população de rua de Belo Horizonte foi feito em 2005, quando foram identificadas 1.164 pessoas morando nas vias públicas. Hoje, de acordo com estimativas da Pastoral Nacional do Povo da Rua, essa quantidade é bem maior.
Maria Cristina Bove Roletti, coordenadora da pastoral, se mostrou surpresa com o ato violento e lembrou que agressões contra a população de rua não são comuns em Belo Horizonte, ao contrário de outras capitais, como Maceió (AL), onde recentemente foram assassinadas 15 pessoas . Em São Paulo, acrescentou, dois mendigos foram amarrados em carroças de catadores de papel e queimados.
Intolerável
A secretária municipal adjunta de Assistência Social de Belo Horizonte, Elizabeth Leitão, disse ter ficado consternada com a agressão aos moradores de rua. “Não combina com nada que temos trabalhado em Belo Horizonte. A gente repudia uma situação dessa. É intolerável. Temos trabalhado no sentido de garantir os direitos da população de rua e nossas políticas públicas têm avançado”, disse a secretária. “Espero que essa violência seja apurada com muita agilidade e clareza. Não podemos tolerar uma prática dessa contra qualquer pessoa, principalmente com a população de rua que está numa situação de extrema vulnerabilidade. A sociedade belo-horizontina não merece atos como esses”, afirmou Elizabeth.
Quanto às frequentes reclamações da população da capital, que se sente insegura com a presença de mendigos em praças, ruas e casarões abandonados, e reclama que o número de pessoas nessa situação tem aumentado nos últimos anos, sem nenhuma ação para retirá-las das vias públicas, a secretária assegurou que o município tem uma política pública extremamente articulada para esta situação. “Temos uma equipe de abordagem em cada regional, que vai até os moradores de rua e trabalha com eles. Quando algum é usuário de drogas, temos atendimentos junto às secretarias de Saúde, de Assistência Social, Direitos e Cidadania e de Política Social”, afirmou.
Quadro estável
Em nota divulgada no domingo à tarde, a assessoria de imprensa do HPS e a Secretaria Municipal de Saúde (SMSA), que administra as Unidades de Pronto-atendimento (UPAs), para onde as vítimas foram levadas pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), informaram que os oito moradores de rua apresentavam quadro estável. “Todos relataram ter feito uso da mesma garrafa de bebida alcoólica e, após a ingestão, apresentaram, em sua maioria, os mesmos sintomas, como dores abdominais, náuseas, sonolência e diarreia. Entre as oito vítimas, uma era do sexo feminino”, disse a nota da SMSA.
Dois homens de 32 e 33 anos foram levados para a UPA Centro-Sul, um outro de 31e uma mulher de 24 para a UPA Pampulha, dois de 30 e 31 anos para a UPA Venda Nova, um de 21 anos para UPA Nordeste e um de 31 anos para o HPS. “Há suspeita de que todos tenham sido vítimas de envenenamento por chumbinho. Em sua maioria, as vítimas foram submetidas à lavagem gástrica, soroterapia e carvão ativado por sonda – procedimento usado para absorver substâncias prejudiciais do organismo. O quadro clínico de todos é considerado estável”, diz a nota. Os pacientes permanecerão em observação pelas próximas 24 horas. Ninguém chegou a entrar em coma.