Eles rejeitam o passado em busca de uma vida errante e se transformam em problema social que resiste às abordagens e desafia o poder público. Seja por brigas familiares, abandono ou separação matrimonial, preferem as ruas a conviver com antigos problemas em casa. Acabam atolados na solidão e nos vícios – da droga e do álcool, principalmente. Aos 50 anos, o homem que se apresenta como Luiz Vida é o típico morador de rua – rótulo que ele rejeita, preferindo ser classificado como um peregrino. Afinal, filosofa, “o termo não condiz com a verdade”. “As ruas são ocupadas pelos carros, não há espaço para outros.”
Há três meses de volta aos bancos da Praça Carlos Chagas, onde fica a Assembleia Legislativa de Minas Gerais, depois de morar por 10 anos em Brasília, Luiz diz rejeitar dinheiro, em troca de um modo de vida mais “espiritual”, aprendido na comunidade Vila São Jorge, distrito do município de Alto Paraíso, em Goiás. Também rejeita a mendicância. Questionado sobre como consegue comida para sobreviver, aponta para os pombos que sobrevoam a praça e faz referência a uma passagem bíblica: “Eles não plantam nem colhem e todos os dias comem para sobreviver. Eu sou muito mais importante. É claro que Deus também iria me abençoar.”
Luiz se compra a uma tartaruga, carregando seu casco para onde vai. A “casa” se restringe a duas malas, onde guarda os utensílios da cozinha e do quarto. A sala de estar é o banco de praça e as honras da casa são feitas por ele mesmo, disposto a conversar com quem se aproxima. “Renunciamos a uma vida para nos adaptar a outra. Cansei da vida que eu tinha. Tudo que é repetitivo é enjoativo”, resume.