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O prédio de 80 anos conta com celas coletivas e individuais – destinadas aos que estão em surto ou em fase de adaptação no hospital –, além de refeitórios e pátios para banhos de sol. Os 177 internos (32 mulheres e 145 homens) cumprem não somente uma pena: pagam o preço por serem taxados não só de loucos, mas também de presidiários. De dentro das celas, o olhar dos detentos é o que mais impressiona. Uns encaram, outros indagam, há quem peça ajuda e também quem permaneça totalmente alheio.
Estudo recente de alunos da Faculdade de Medicina de Barbacena, coordenado pelo psiquiatra forense, professor e diretor de Atendimento do Jorge Vaz, Sebastião Vidigal, mostrou que a grande maioria dos internos é de alta ou média periculosidade e está trancafiada lá por ter cometido homicídio ou tentativa. Há casos como o do canibal de Serra Azul de Minas, na Região Central, que matou um amigo e preparou uma feijoada com o corpo. Há quase duas décadas no manicômio judiciário, o homem de sorriso largo estende a mão para a equipe e conversa amistosamente com o diretor-geral do manicômio, José Maria Fortes de Carvalho, sobre sua predileção por guloseimas, especialmente balas.
Outro caso assustador é o do viciado em crack conhecido como “Carneirinho”, que decepou o próprio pênis e o mandou para o diretor de um presídio. Também está sob custódia em Barbacena o detetive que esquartejou a mulher e a colocou dentro de uma mala, assim como o filho que assassinou os pais em Belo Horizonte.
Crimes
De acordo com o psiquiatra forense e diretor Sebastião Vidigal, por trás de todo delito está um histórico de desagregação familiar. Portanto, são comuns casos de pais que estupram filhos, filhas que matam a mãe e outros do tipo. “Quase ninguém aqui recebe visita de parentes ou amigos e essa situação se agrava quando o crime cometido tem aspecto familiar”, constata o médico. Vidigal acrescenta que é fundamental um tratamento não só à base de remédios, mas com participação de profissionais de várias áreas. “Não há como curar a loucura totalmente, mas é preciso tratar a psicose, com remédios e outras ações como atividades, terapias, esportes. Não tenho dúvida de que isso é fundamental para o tratamento dentro e fora de um sanatório. Mas acabar com eles, não há como. Na hora do surto, quem dá conta é o manicômio.”
Aos poucos, o Hospital Jorge Vaz começa a implantar um projeto intitulado Deu a louca no Manicômio, que envolve medidas para a reinserção social dos internos e um tratamento mais humanitário. Segundo o diretor-geral, José Maria de Carvalho, a iniciativa engloba atividades como pintura, desenho, esportes, música e horticultura. “A falta de ocupação para os presos é um grande problema e é nisso que o nosso trabalho tenta se concentrar. Em breve, devemos inaugurar uma quadra poliesportiva, mas precisamos de mais recursos para a implantação total do projeto.”