Jornal Estado de Minas

Centenária, Escola de Engenharia da UFMG forma gerações


A centenária escola de engenharia reúne uma lista de alunos e professores que ajudaram a fazer parte da história da construção da capital e do país. O ex-aluno Adelelmo Nunes Muniz é um deles. Ele negociou o asfalto da avenida Afonso Pena diretamente com Juscelino Kubitschek, prefeito de Belo Horizonte na época. “Ele me chamou e pediu para começar a obra no dia seguinte, às 23 horas. O trabalho tinha que ser feito à noite porque tinha muita gente que temia que o asfalto poderia acabar com a arborização”, lembra Muniz.



O engenheiro formou-se na escola em 1935. Ele nasceu um pouco antes da fundação da escola, já que completou 100 anos em dezembro do ano passado. Depois de se formar, Muniz fundou a própria empresa, a Menezes e Muniz, que trabalhava com asfalto. Como bom engenheiro, faz um cálculo rápido e afirma que sua empresa asfaltou mais de 5 milhões de metros quadrados de rua, em endereços como as avenidas Paraná, Olegário Maciel e Amazonas. O seu filho, Paulo Werneck Muniz, também estudou engenharia na UFMG. “Tinha alguns livros, mas meu filho acabou aproveitando e levando para ele”, diz Adelelmo, que é da época em que a Escola de Engenharia da UFMG era paga. Ele conta que pagava as mensalidades com a mesada dos pais.

O fundador da maior construtora para o público de baixa renda do país, a MRV Engenharia, também é formado na Escola de Engenharia da UFMG. O engenheiro Rubens Menin formou-se em 1978 na escola e no ano seguinte fundou a empresa, que é hoje uma gigante no mercado popular do país, presente em 17 estados e no Distrito Federal. O gosto pela engenharia veio da família. Os pais de Menin, Geraldo Teixeira de Souza e Maura Menin Teixeira de Souza, também são formados na escola. A mãe estudou em uma turma onde era a única mulher entre 23 alunos.

“Eu cresci nesse ambiente de engenharia. Tenho dois irmãos que também se formaram e foram professores da escola”, afirma Menin. A UFMG é hoje o maior fornecedor de engenheiros para a MRV, que conta com um programa específico de estágio e trainees com a escola. "Eu me formei no final de uma época áurea. Agora a profissão está em alta novamente e voltou a ser valorizada”, diz Menin.



Já o empresário Ítalo Aurélio Gaetani, diretor-superintendente da construtora Castor, faz neste ano 50 anos de formado na Escola de Engenharia. Entre as principais lembranças, ele traz a união da turma. “Na época não havia créditos, então a turma entrava e saía junta da escola. Era uma coesão que não se encontra mais nas turmas de hoje, pela modificação no sistema de ensino”, afirma.

“Bentas”

Beatriz Alvarenga Álvares foi uma das primeiras mulheres a se formar na escola de engenharia, em 1936. Na época a escola ainda era Universidade de Minas Gerais (UMG) e Beatriz lembra que os estudos eram pagos. “Não havia ensino gratuito como hoje”, diz. Logo depois de terminar o curso, ela foi convidada para ser professora de física da escola.“Naquela época não havia livro. O professor fazia os resumos, que eram chamados de benta, e os alunos estudavam por eles”, conta. As bentas eram as atuais apostilas. “Acho que o nome surgiu pelo fato de as bentas serem uma verdadeira benção. Sempre tinha um aluno que ficava responsável por datilografar e passar cópias para os colegas”, lembra. Ela lecionou por quase 30 anos e escreveu livros didáticos usados por várias gerações de alunos. Mesmo aposentada, mantém um laboratório de física anexo a sua casa, onde reúne material para ilustrar os fenômenos da vida real.