Aproveitando a precariedade do sistema de transporte coletivo intermunicipal na Região Metropolitana de Belo Horizonte e a insatisfação dos usuários com os ônibus cada dia mais cheios e demorados, os perueiros se organizam para absorver uma demanda crescente de quem tem pressa e pouca consciência dos riscos que corre. As rotas clandestinas mais movimentadas ligam Ribeirão das Neves a BH, passando por Contagem, via BR-040. Nessa rodovia é registrada a maioria das multas aplicadas às vans que transportam pessoas de forma irregular, mas também há linhas da capital para Betim, Nova Lima e municípios de todos os cantos de Minas Gerais. Desde janeiro de 2009, a BHTrans fez 2,2 mil apreensões de veículos de perueiros circulando na cidade. Mas trata-se de um serviço muitas vezes semelhante ao de enxugar gelo.
Muitos veículos clandestinos são reincidentes e chegaram a ser apreendidos até 15 vezes. A van placa CVV 2487, de Contagem, que acumula dívida de R$ 1.585,46 relativa a 18 multas, já foi parar nove vezes no pátio da BHTrans. Outra placa que aparece na lista da empresa é a CQH 1937, Sprinter de Belo Horizonte que acumula 35 multas desde 2008, muitas por transporte clandestino de passageiros e lotação excedente. A soma dos valores das penalidades chega a R$ 3.745,65, mas seu proprietário também recebeu o licenciamento de 2010.
A passagem de perua de Neves a BH custa R$ 4,85, segundo André Saleme Teixeira, de 21, que trabalha como cobrador, auxiliando Denis. De acordo com ele, há tarifas mais baratas, como a da rota Betim/BH (R$ 3,65). Para tentar fugir da fiscalização, os perueiros se comunicam por meio de rádios instalados nos veículos. Avisado por um colega da presença da viatura da BHTrans na Avenida Vereador Cícero Idelfonso (antiga Delta), no João Pinheiro, Região Noroeste da capital, Denis passou por dentro do bairro, pela Rua Mariano Procópio, mas acabou sendo surpreendido mais à frente. André teve de devolver o dinheiro aos passageiros, já que a viagem foi interrompida.
Além do Código de Trânsito Brasileiro (CTB), a BHTrans é amparada por duas sentenças judiciais, da 2ª e 11ª varas da Fazenda Municipal, para tentar frear o avanço dos perueiros na capital. A empresa informa que a fiscalização é feita pelas unidades integradas de trânsito, parceria com o Batalhão de Trânsito da Polícia Militar e o Departamento de Estradas de Rodagem de Minas Gerais (DER-MG). Os principais focos do problema são a Avenida Oiapoque e outras vias do entorno da rodoviária, além da Rua Aarão Reis, ao lado da Praça da Estação, também no Centro.
Segundo a BHTrans, quando os perueiros atuam só dentro da cidade, ficam sujeitos a multa de R$ 2 mil e apreensão do veículo, liberado apenas com determinação da Justiça. Nas linhas intermunicipais, com partidas de fora da capital, o automóvel é liberado mediante pagamento das despesas do pátio e de possíveis pendências com taxas e multas. Por lei, os reincidentes ficam apreendidos por 10 dias. Além do transporte remunerado de passageiros sem licença, os clandestinos têm uma longa ficha de infrações de trânsito. As mais comuns são estacionar em ponto de embarque e desembarque de coletivos, não usar o cinto de segurança, excesso de velocidade e falta ou deficiência de equipamentos de uso obrigatório.