Falta de planejamento em obra de revitalização transforma o coração da Savassi, área tradicional de Belo Horizonte, num mar de poeira e espanta clientes de lojas, bares e restaurantes, principalmente nos quatro quarteirões fechados há dois meses e ocupados por máquinas e operários. Comerciantes instalados no miolo da Praça Diogo de Vasconcelos, mesmo favoráveis ao projeto, dizem ter perdido até 70% da clientela desde março e criticam o cronograma de obras estabelecido pela prefeitura em parceria com a empreiteira, além de temer atrasos. E, para piorar, o fechamento de dois quarteirões da Avenida Getúlio Vargas (sentido Serra), a partir de terça-feira, promete embaralhar o trânsito por dois meses. Hoje, depois do horário de pico do almoço, e amanhã serão feitos testes que determinarão as devidas adequações.
A prefeitura fechou três quarteirões sem saída (Antônio de Albuquerque e Pernambuco) e um quarto na Pernambuco, entre as avenidas Cristóvão Colombo e Getúlio Vargas, disseminando os serviços em vez de concentrar forças em um de cada vez. O que, para comerciantes, é um erro semelhante ao que ocorreu na reforma dos dois estádios da capital para a Copa’2014. De uma só vez foram fechados Mineirão e Independência, obrigando os times da capital a jogar em Sete Lagoas. Além disso, no caso da Savassi, durante dias consecutivos parte do canteiro de obras fica às moscas.
Os comerciantes queriam que a prefeitura fizesse as intervenções por módulo. Ou seja, depois de encerrado o trabalho em um quarteirão, fosse fechado o seguinte e assim por diante, o que diminuiria os transtornos para quem trabalha e frequenta a região. “Há uma semana que ninguém vem trabalhar neste quarteirão”, diz Júlio Bicalho, gerente de uma livraria na Rua Pernambuco, relatando que os operários e as máquinas estão concentrados nos outros três quarteirões. Enquanto isso, a freguesia some: “Quem vai sentar aqui para tomar uma cerveja ou um café?”, reclama, dizendo ter perdido 70% dos clientes.
Comerciantes devem ter, na próxima semana, audiência com o prefeito Marcio Lacerda (PSB) para tentar negociar uma solução para a obra. “O pessoal é favorável à intervenção, mas não do jeito que está sendo executada. O serviço ganharia agilidade se fosse feito por módulos”, diz o lojista Marco Antônio Maia. Ele afirma que nem mesmo água para diminuir a poeira a empreiteira joga, o que os obriga a ter um pano de chão na entrada do estabelecimento.
“Estão afastando o público da Savassi. As vendas caíram pela metade e, pelo ritmo, a obra vai demorar mais de um ano. Estão muito vagarosos”, critica Sebastião Bernardo de Abreu, dono de uma banca de jornais na Avenida Cristóvão Colombo, que, por causa das intervenções, teve de mudar de localização, perdendo visibilidade. O Estado de Minas entrou em contato com a prefeitura, que preferiu não comentar as críticas.
Análise da notícia
Não há como não dar razão aos comerciantes da Savassi, porque até mesmo um leigo em questão de trânsito sabe o que virá por aí com fechamento de pista na Avenida Getúlio Vargas. Isso sem falar nos meses de poeira e barulho. A ideia de tocar a obra por módulos poderia ser discutida e avaliada pelos técnicos da empreiteira. Pode ser uma solução. E, independentemente da forma como for conduzido o trabalho, o cronograma deve ser seguido à risca. É uma intervenção desejada, mas não pode se transformar em dor de cabeça para uma região de passagem e de comércio fiorte. (Arnaldo Viana)