“Perca um minuto da sua vida, e não a sua vida em um minuto.” Com esse antigo lema em campanhas educativas, o Batalhão de Trânsito da Polícia Militar (BPTran) tenta reduzir os índices de atropelamentos e mortes causadas por acidentes desta natureza em Belo Horizonte. Boa parte das vidas seria poupada se não fosse o descuido dos próprios pedestres. Muitos ignoram as passarelas e atravessam movimentadas avenidas entre carros e motos. Também não respeitam sinais abertos para veículos e aproveitam buracos nas grades dos canteiros centrais para cortar caminho de maneira arriscada. De janeiro a maio, 1.160 pessoas atropeladas foram atendidas no Hospital de Pronto-Socorro (HPS) João XXIII, média de 7,6 casos por dia. A maioria das vítimas é da capital.
Kubitschek (Via Expressa) com Rua Coração Eucarístico de Jesus, no Bairro Coração Eucarístico, na Região Noroeste, pessoas atravessavam as quatro pistas para veículos, duas em cada sentido do fluxo, bem debaixo da passarela. O tráfego no local é controlado por semáforos, mas não há faixas de pedestres. “Sei que é proibido e muito perigoso, mas, na pressa, não uso a passarela. Se tiver de ser atropelado, vai acontecer comigo até em cima do passeio”, argumentou o vigilante Charleston David Cardoso, de 21 anos.
De acordo com o comandante do BPTran, major André Luiz Mendes, a Avenida Cristiano Machado é uma das com maior incidência de atropelamentos na capital. Por isso, há passarelas ou semáforos nas principais travessias. Mesmo assim, há quem prefira disputar a pista com os carros e motocicletas, como no cruzamento com a Rua Professor Pimenta da Veiga, no Bairro Cidade Nova, Região Nordeste, onde o pedestre precisa transpor duas faixas para carros e a pista exclusiva para ônibus.
No Anel Rodoviário, corredor de trânsito mais movimentado de BH, pelo qual passam 100 mil veículos por dia, o descuido dos pedestres com a vida é constante. No km 20, sobre o viaduto São Francisco, no bairro de mesmo nome, Região Noroeste, as pessoas aproveitam as fendas abertas na mureta que divide os dois sentidos da rodovia e atravessam no meio dos carros. Não há gradis nem passarela. “É um dos pontos críticos do Anel, pois há paradas de ônibus nas duas margens. Muitos desembarcam de um lado e atravessam para pegar outro coletivo no lado oposto”, diz o tenente Geraldo Donizete, da Polícia Militar Rodoviária (PMRv). Segundo ele, também ocorrem atropelamentos próximo ao prédio da PUC-Minas, no Bairro São Gabriel, na Região Nordeste. “Naquele ponto, há passarela, mas as pessoas a ignoram.”
Gradis danificados
Para impedir que pedestres corram risco em travessias, há gradis nos canteiros centrais das avenidas mais movimentadas da capital. Segundo a BHTrans, são gastos R$ 20 mil por mês na manutenção de equipamentos danificados. A principal causa são as batidas de carros, mas há casos em que parte do equipamento público é retirado ou depredado por vândalos, para facilitar a travessia. Na Avenida do Contorno, altura do número 7.900, no Bairro Cidade Jardim, Região Centro-Sul, um pedaço da grade foi retirado bem em frente ao Colégio Loyola e o espaço é usado por quem prefere ignorar a passarela localizada a poucos metros.
Problema que se repete em outras avenidas, como na Antônio Carlos, de acordo com o comandante do BPTran. “A depredação de gradis é maior perto do Conjunto IAPI (no Bairro São Cristóvão, Região Noroeste)”, afirma o major André. Na movimentada Praça Sete, no Centro, outro flagrante de desrespeito que pode levar à morte: pessoas não esperam o sinal verde para a travessia. “Infelizmente, há falta de cuidado dos pedestres, que são os mais susceptíveis a acidentes de trânsito. A maioria das vítimas de atropelamento é adulta, pois as crianças estão sob a vigilância dos pais”, disse o oficial.