Donos de casas noturnas de Belo Horizonte já se posicionaram contra o Projeto de Lei 839/09, de autoria do vereador Paulinho Motorista (PSL), que prevê a mudança de um hábito antigo nesses ambientes: o uso de garrafas de vidro para venda de bebidas. “É um projeto inconstitucional que vai gerar prejuízo de mais de R$ 1 milhão às casas noturnas, que somam entre 150 e 200 na cidade”, garante o presidente do Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de Belo Horizonte e Região Metropolitana (Sindhorb), Paulo César Marcondes Pedrosa.
O projeto já foi aprovado em 2º turno na Câmara Municipal e aguarda sanção do prefeito Marcio Lacerda (PSB). “Contamos com o bom senso do Executivo para vetar esse projeto. Já pedimos uma reunião com o secretário de Governo, Geraldo Valadão, e não queremos nem pensar na possibilidade de entrar com uma ação de inconstitucionalidade”, afirma Pedrosa.
Para Paulo César Pedrosa, não cabe ao Legislativo a decisão de como servir seus produtos aos clientes. “Isso deve ficar a cargo do empreendedor”, defende. Ele acredita que, se passar a valer, a norma provocará o esvaziamento dos espaços e a migração dos fregueses para outras casas noturnas de cidades vizinhas e a consequente redução do quadro de funcionários.
Apesar de classificar as casas noturnas como estabelecimentos que cobram entrada ao público e que sejam destinados à apresentação de shows artísticos e eventos desportivos, o presidente do sindicato afirma que o texto poderá confundir até mesmo a categoria. “O projeto não esclarece se a proibição é válida também para locais que cobram couvert artístico ou consumação mínima.”
Fama
Como justificativa para elaboração da proposta, o vereador cita a preocupação com a violência nos estabelecimentos e a garantia da integridade física dos frequentadores. Mas, para Pedrosa, o argumento não se sustenta. “Estamos falando de uma cidade que faz sucesso pela fama dos bares e casas noturnas e não de um lugar conhecido pela violência. O projeto é contraditório. Isso repercute mal. Cria uma imagem que a cidade não tem”, referindo-se aos 12 mil pontos comerciais que dão a BH o nome de Capital dos Botecos. Segundo ele, os casos de violência já registrados ocorrem fora dos ambientes citados no projeto. “Ele está usando casos isolados para punir todo o setor”, afirma. Para ele, o assunto é de competência dos órgãos de segurança e não do Legislativo.
Para quem está à frente das casas noturnas, a medida também causou incômodo. “Trabalhamos com públicos distintos há 22 anos e não temos histórico de violência com uso de garrafas”, afirma o diretor das boates Roxy e Josefine, na Savassi, Região Centro-Sul de BH, Alexandre Guimarães. Ele afirma que, se virar lei, o projeto vai interferir negativamente nas vendas. “Vendemos cervejas long neek e garrafas de bebidas destiladas, como whisky e espumantes. Não combina servir uma bebida dessas em copos de plástico”, disse. Procurado, o vereador Paulinho Motorista não atendeu o telefone nem retornou às ligações.