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Estado de Minas

Operários que trabalham em obras na Savassi misturam sonho e realidade

Eles passam o dia em uma região que só faz parte de suas fantasias. Moram longe e acordam de madrugada para trabalhar em uma das obras mais polêmicas de BH


postado em 17/06/2011 06:00 / atualizado em 17/06/2011 06:13

As operárias Célia Oliveira e Nucélia Nonato descobrem que o glamour da região nobre tem preço alto(foto: Beto Novaes/EM.D.A press)
As operárias Célia Oliveira e Nucélia Nonato descobrem que o glamour da região nobre tem preço alto (foto: Beto Novaes/EM.D.A press)


Mateus nunca havia posto os pés na Savassi, Região Centro-Sul de Belo Horizonte. Mas, em compensação, atualmente não sai de lá. Passa pelo menos 10 horas por dia em uma das áreas mais nobres da cidade. Isso porque é operário das obras de revitalização da Praça Diogo de Vasconcelos e entorno. “É a primeira vez que venho para estes lados. Sempre ouvi falar daqui pela TV, principalmente do Pátio Savassi, que é bonito. Estou neste serviço há pouco tempo e por isso não consigo falar muito bem do que acho da Savassi, mas parece interessante”, diz o servente de pedreiro e auxiliar Mateus Paulo Rodrigues, de 22 anos, que atua na implantação de fibra ótica e reformulação da rede de telefonia.

Morador da Rua Ana Alvarenga Campos, no Bairro Céu Anil, em Ribeirão das Neves, no limite de BH, região metropolitana, Mateus consegue ver uma semelhança curiosa entre o lugar no qual vive e onde trabalha: a grande quantidade de terra, entulho e poeira. Mas com um detalhe: na Savassi, esse caos, alvo de reclamações de moradores e comerciantes, é passageiro, pois a reforma está prevista para ser concluída em 12 meses. “Se bobear, minha rua tem mais poeira e bagunça do que a obra na Savassi, porque não é asfaltada. Quando chove, tudo vira lama. E ainda há uma parte com esgoto a céu aberto. Já reclamamos várias vezes, mas não adiantou. Moro lá desde que nasci e nada muda.”

Pelo menos três ruas do Céu Anil sofrem do mesmo mal. Em uma delas, os moradores bancaram a pavimentação, com mão de obra fornecida pela Prefeitura de Ribeirão das Neles, que reconheceu os problemas. Acrescentou que o projeto de recuperação inclui drenagem e pavimentação e faz parte das ações do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC II). Mas depende de verba da União.

Enquanto as crianças que moram na Rua Ana Alvarenga Campos, incluindo a irmã de Mateus Paulo, Jéssica Rodrigues, de 11, e o sobrinho, Cauã, de 1, filho de Claubert Rodrigues, de 24, também operário na Savassi, brincam entre a poeira, o mato e o entulho, o servente segue com a enxada na mão para agilizar o serviço na Rua Pernambuco, mas reclamando dos problemas de sua região. “Alguém precisa fazer alguma coisa por aquele lugar.”

Aliás, o Céu Anil é carente de serviços, de hospital, shopping e áreas de lazer. A diversão de parte dos moradores são as quadras poliesportivas e os bares. “Queria que tivesse pelo menos cinema e uma lotérica. Uma obra como a da Savassi eu nunca vi por lá. Aliás, obra mesmo só as mais simples”, conta Mateus Paulo.

Ele confessa que não está satisfeito com o serviço na Savassi. Ganha R$ 640, cesta básica e transporte. Uma Kombi fornecida pela empreiteira o leva ao Céu Anil e o traz diariamente à Rua Pernambuco. “Trabalho nisso porque preciso ajudar minha mãe e tenho que pagar as prestações de um carro, mas não gosto muito. Queria fazer concurso para a Guarda Municipal, mas não posso pagar cursinho. Apesar dos problemas do Céu Anil, não gostaria de sair de lá.”

Espiada no luxo

Um grupo de 14 mulheres se juntou aos quase 70 homens, entre funcionários de empreiteiras, da prefeitura, da Copasa e de empresas de telefonia que trabalham na revitalização. A vaidade feminina não fica sufocada sob a poeira e o entulho e elas não deixam de dar uma espiada nas lojas. “O comércio da Savassi é diferente. Lojas bem arrumadas e roupas bonitas. Mas caras”, diz a auxiliar de pedreiro Nucélia Nonato, de 24, que mora com o marido e um casal de filhos no Bairro Novo Aarão Reis, Região Norte de BH.

Com a colega Célia Oliveira, de 32, Nucélia aproveitou a hora de almoço para olhar a vitrine de uma loja de roupas femininas na Rua Antônio de Albuquerque. Célia é caloura em construção civil. Estreou na reforma da Savassi. Moradora de Ibirité, na Grande BH, gasta duas horas para chegar ao trabalho “A obra é importante e estou gostando. Aliás, tudo é diferente aqui. É um bairro organizado. Fui doméstica, mas esta é a vida que quero.”

Já Helaine Aparecida, de 29, trocou o trabalho de diarista pela obra. Mora no Bairro Sevilha B, em Ribeirão das Neves, e quer seguir carreira na nova área. “Sou ajudante, mas quero ser servente e depois pedreira. Aqui, ralamos muito, mas temos os direitos reconhecidos e somos bem tratadas.” Ela nunca esteve em uma obra em local aberto e observa como transeuntes comerciantes e comentam as atividades dos operários. “Uns reclamam, mas outros até reparam no nosso serviço, falam que acham legal ver mulher na construção civil.”


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