O betoneiro (encarregado de misturar o concreto) José Alves, de 51 anos, mora com a mãe, Maria Clemência Leite, de 86, e o filho, Felipe Alves Brito, de 16, em uma casa alugada, no Bairro Jardim Leblon, Região de Venda NovaViúvo, ele acorda às 4h para poder pegar duas conduções até a Savassi, onde começa, literalmente, a pôr a mão na massa por volta das 7h“Saio no escuro e chego em casa no escuroAinda bem que moro perto do ponto final do ônibus, porque mesmo de madrugada ele anda lotado.”
O tempo de viagem até o serviço é de uma hora e meia a duas horasSe sair 10 minutos atrasado, nem compensa mais pegar a condução, devido ao trânsitoMas é a volta para casa que costuma ser mais longa, por causa, ironicamente, de outra grande intervenção em BH: a duplicação da Avenida Antônio Carlos“Passo por um monte de obra para chegar à que trabalhoÉ até engraçadoQuando teve aquela tempestade, demorei três horas para chegar ao Jardim LeblonÉ puxado.”
Enquanto está envolvido no canteiro de obras e já acostumado ao barulho das máquinas, a mãe o filho estão em casa, geralmente ligados em outro som, o da TV“Como minha mulher morreu há 12 anos, é minha mãe quem cuida de tudo e do menino, que está no 1º ano do ensino médio
O operário se diz impressionado com a Savassi e só se queixa dos altos custos da região, especialmente a alimentação“É muito bonito, como sempre imagineiÉ bem cuidado, evoluído, parece que tem muita gente com dinheiroÉ diferente de onde eu moroMas a comida é cara demais Prefiro trazer a marmita de casa, porque os restaurantes da Savassi são o olho da cara.” Aliás, isso é regra entre os demais trabalhadores: a marmita no colo ou no refeitório na hora do almoçoAlguns até se arriscaram nos self-services da região, mas o preço os afastou“Minha mãe, mesmo com 86 anos, é forte e prepara o jantar, que acaba virando meu almoço do dia seguinte
O Jardim Leblon, segundo ele, também recebe algum serviço, como recapeamento, mas nada se compara ao que ajuda a executar na Savassi“Lá no bairro, eles trocam de vez em quando um asfalto, mas na Savassi está bem completoParece que isso aqui vai ficar bonitoO único problema é que o pessoal, principalmente o do comércio, reclama demais do transtornoEm 30 anos de profissão, nunca tinha visto isso.”
Para o betoneiro, o Jardim Leblon não precisa de obra tão grandiosa como a da Praça Diogo de Vasconcelos, mas se pudesse escolher alguma coisa a ser modificada, gostaria que fosse construído um hospital e mais postos de saúde“A saúde é precária lá, mas no geral é um lugar tranquiloO bairro é a minha cara, mas, para falar a verdade, se tivesse condições e pudesse escolher eu até moraria na SavassiGostei do lugar.”
De acordo com a Secretaria Municipal de Obras, não há projeto em andamento no Jardim LeblonCom relação à saúde, a assessoria da Regional Venda Nova informou que o bairro tem um centro de saúde para atender uma população de cerca de 15 mil pessoas, que também podem se consultar nos postos dos bairros próximos, como Santa Mônica e Santa AméliaNão há projeção para a construção de hospital na região
A revitalização da Praça Diogo de Vasconcelos, ou Praça da Savassi, começou em 28 de março e faz parte do projeto Centro Vivo da Prefeitura de BH, que prevê novo desenho de piso nos cruzamentos, travessias elevadas e extensão dos calçadõesO investimento de R$ 10,4 milhões vai dar tratamento paisagístico à região, que inclui os quatro quarteirões das ruas Pernambuco e Antônio de AlbuquerqueA praça vai ganhar fontes, jardins, bancos em granito, canteiros arborizados, nova iluminação e uma esculturaA previsão de término das obras é no primeiro semestre de 2012.