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Estado de Minas

Único luxo de operários na Savassi é a comida caseira

Operários, orgulhosos do trabalho na área nobre da cidade, se assustam com o preço dos restaurantes a quilo e se contentam com as marmitas preparadas em casa, à noite


postado em 17/06/2011 06:00 / atualizado em 17/06/2011 06:13

Rotina de José Alves começa às 4h, correndo para não perder o ônibus, e conta com o apoio da mãe, Maria Clemência, que prepara a marmita ainda à noite e cuida do neto, Felipe (foto: Novaes/EM.D.A press)
Rotina de José Alves começa às 4h, correndo para não perder o ônibus, e conta com o apoio da mãe, Maria Clemência, que prepara a marmita ainda à noite e cuida do neto, Felipe (foto: Novaes/EM.D.A press)


O betoneiro (encarregado de misturar o concreto) José Alves, de 51 anos, mora com a mãe, Maria Clemência Leite, de 86, e o filho, Felipe Alves Brito, de 16, em uma casa alugada, no Bairro Jardim Leblon, Região de Venda Nova. Viúvo, ele acorda às 4h para poder pegar duas conduções até a Savassi, onde começa, literalmente, a pôr a mão na massa por volta das 7h. “Saio no escuro e chego em casa no escuro. Ainda bem que moro perto do ponto final do ônibus, porque mesmo de madrugada ele anda lotado.”

O tempo de viagem até o serviço é de uma hora e meia a duas horas. Se sair 10 minutos atrasado, nem compensa mais pegar a condução, devido ao trânsito. Mas é a volta para casa que costuma ser mais longa, por causa, ironicamente, de outra grande intervenção em BH: a duplicação da Avenida Antônio Carlos. “Passo por um monte de obra para chegar à que trabalho. É até engraçado. Quando teve aquela tempestade, demorei três horas para chegar ao Jardim Leblon. É puxado.”

Enquanto está envolvido no canteiro de obras e já acostumado ao barulho das máquinas, a mãe o filho estão em casa, geralmente ligados em outro som, o da TV. “Como minha mulher morreu há 12 anos, é minha mãe quem cuida de tudo e do menino, que está no 1º ano do ensino médio. Eu estudava à noite, mas como chego tarde, tive que abandonar. Quando acabar a obra vou voltar para a escola.” José Alves cursava a 7ª série.

O operário se diz impressionado com a Savassi e só se queixa dos altos custos da região, especialmente a alimentação. “É muito bonito, como sempre imaginei. É bem cuidado, evoluído, parece que tem muita gente com dinheiro. É diferente de onde eu moro. Mas a comida é cara demais. Prefiro trazer a marmita de casa, porque os restaurantes da Savassi são o olho da cara.” Aliás, isso é regra entre os demais trabalhadores: a marmita no colo ou no refeitório na hora do almoço. Alguns até se arriscaram nos self-services da região, mas o preço os afastou. “Minha mãe, mesmo com 86 anos, é forte e prepara o jantar, que acaba virando meu almoço do dia seguinte. A marmita é melhor porque, além de ser comida caseira e gostosa, é mais em conta.”

O Jardim Leblon, segundo ele, também recebe algum serviço, como recapeamento, mas nada se compara ao que ajuda a executar na Savassi. “Lá no bairro, eles trocam de vez em quando um asfalto, mas na Savassi está bem completo. Parece que isso aqui vai ficar bonito. O único problema é que o pessoal, principalmente o do comércio, reclama demais do transtorno. Em 30 anos de profissão, nunca tinha visto isso.”

Para o betoneiro, o Jardim Leblon não precisa de obra tão grandiosa como a da Praça Diogo de Vasconcelos, mas se pudesse escolher alguma coisa a ser modificada, gostaria que fosse construído um hospital e mais postos de saúde. “A saúde é precária lá, mas no geral é um lugar tranquilo. O bairro é a minha cara, mas, para falar a verdade, se tivesse condições e pudesse escolher eu até moraria na Savassi. Gostei do lugar.”

De acordo com a Secretaria Municipal de Obras, não há projeto em andamento no Jardim Leblon. Com relação à saúde, a assessoria da Regional Venda Nova informou que o bairro tem um centro de saúde para atender uma população de cerca de 15 mil pessoas, que também podem se consultar nos postos dos bairros próximos, como Santa Mônica e Santa Amélia. Não há projeção para a construção de hospital na região.

A revitalização da Praça Diogo de Vasconcelos, ou Praça da Savassi, começou em 28 de março e faz parte do projeto Centro Vivo da Prefeitura de BH, que prevê novo desenho de piso nos cruzamentos, travessias elevadas e extensão dos calçadões. O investimento de R$ 10,4 milhões vai dar tratamento paisagístico à região, que inclui os quatro quarteirões das ruas Pernambuco e Antônio de Albuquerque. A praça vai ganhar fontes, jardins, bancos em granito, canteiros arborizados, nova iluminação e uma escultura. A previsão de término das obras é no primeiro semestre de 2012.


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