As obras na praça da Savassi, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte, que despertam polêmica e queixas entre moradores e lojistas, atingiram em cheio um setor muito mais vulnerável, por estar nas calçadas, sem a segurança do comércio convencional: as bancas de jornal. Na semana que vem, uma das mais tradicionais da área vai ter de sair do local em que está há 28 anos, em um dos quarteirões em processo de revitalização. Seus donos manifestam uma preocupação que é comum aos responsáveis pelas estruturas semelhantes espalhadas pela região.
Segundo ela, o espaço tornou-se muito mais do que apenas um local de venda de jornais e revistas e passou a servir como ponto de encontro para moradores e frequentadores da Savassi. “As pessoas chegam aqui, entram, batem papo. Senhoras mais velhas se sentam nas cadeiras para poder escolher melhor o que vão levar. Como vai ser se a banca ficar menor? Esse espaço não vai atrapalhar em nada o passeio, ainda mais que, pelo projeto da prefeitura, a calçada vai até ficar maior”, argumenta.
Nessa sexta-feira, o casal entregou na prefeitura um abaixo-assinado com 2 mil assinaturas, reivindicando que a banca continue no mesmo local e com as mesmas dimensões. “Mais do que a gente, quem está reivindicando são nosso clientes, porque a banca faz parte da história da Savassi e não tem porque ser prejudicada por uma obra que só vai trazer benefícios para todos por aqui”, afirma Elizabete.
Como a Albuquerque, pelo menos cinco bancas da região estão sendo afetadas pelas obras. Outro jornaleiro que anda preocupado é Nelton Barbosa Lima, de 59 anos. Dono da Banca Porto, na Avenida Cristóvão Colombo com Getúlio Vargas, bem na praça Diogo de Vasconcelos, ele foi obrigado a se transferir para alguns metros acima. É a segunda vez, em 45 anos no ramo, que vê seu estabelecimento mudar de lugar. “Eu ficava no quarteirão fechado da Pernambuco, bem na praça mesmo. Há cinco anos me mudaram. Agora, tive que sair de novo.”
Mas, para ele, nada é pior do que a indefinição. “O que mais incomoda é que não sei ainda para onde vou, ou se a banca vai mudar de tamanho. Nada foi informado e só espero que eles tenham sensibilidade de me colocar em um local visível e de grande circulação de pessoas. Meu movimento já caiu demais com essas obras e, se eu for ficar escondido depois que elas acabarem, vai ser complicado”, reclama.
Sem queixas
Já do outro lado da praça, também no cruzamento da Getúlio Vargas com Cristóvão Colombo, mas em sentido oposto, o jornaleiro Vander Elias, de 60 anos, é só elogios para a reforma da Savassi, mesmo que tenha sido forçado a deixar o ponto onde trabalhou durante quase três décadas. “Como é que eu ia ficar lá, no meio da obra? Barulho, poeira, transtorno é normal. As pessoas têm que entender que toda mudança envolve sofrimento, pessoal ou não. Faz parte da vida, mas também há benefícios. Nunca é possível agradar a gregos e troianos”, diz. Apesar de contabilizar grande queda nas vendas, Vander acredita que a revitalização trará vantagens para todos. “Está sendo feito o que tem que ser feito. A gente perde agora, mas vai ganhar no futuro, porque vai ficar muito bonito”, destaca.
A Secretaria Municipal de Obras informa que a Administração Regional Centro-Sul, responsável pela região da Savassi, vai convocar os donos das bancas, no que classifica como momento oportuno, para tratar do assunto. Já com relação às modificações nas bancas, de acordo com a Secretaria Municipal de Regulação Urbana, a prefeitura tem prerrogativa de alterar o padrão, modelo e o tamanho de estabelecimentos, principalmente se eles estiverem inseridos em um novo projeto urbanístico, como é o caso da Savassi.