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Estado de Minas LIÇÕES DE ESPERANÇA E VIDA

Crianças e jovens mineiros mostram que não encaram o câncer como sentença de morte


postado em 19/06/2011 07:10 / atualizado em 19/06/2011 09:31

Maria Eduarda, de 3 anos, e a mãe, Lília, têm o apoio da Fundação Sara enquanto a menina luta contra uma leucemia(foto: Alexandre Guzanshe/em/d.a press)
Maria Eduarda, de 3 anos, e a mãe, Lília, têm o apoio da Fundação Sara enquanto a menina luta contra uma leucemia (foto: Alexandre Guzanshe/em/d.a press)


Apenas 15 anos, disposição de sobra e um câncer terminal. Diante de um diagnóstico pessimista e depois de quatro anos lutando contra a doença, a inglesa Alice Pyne emocionou o mundo ao criar um blog em que lista ações que pretende cumprir “antes de ir embora”, como ela prefere dizer. São desejos marcados pelo entusiasmo da adolescência e, em contrapartida, pela maturidade de quem, ao enfrentar desafios de gente grande, precisou pensar nos limites da vida.

Mas, se, na Inglaterra, os anseios de Alice foram alimentados por um horizonte finito, do outro lado do Atlântico, jovens brasileiros, em Minas Gerais, mostram que o câncer deixou de ser sentença de morte. Pelo contrário, para quem tão novo encara a doença, ela pode se transformar em lição de esperança e combustível para sonhos de uma vida inteira.

Cinco dias antes de Alice criar o blog, no início deste mês, o exemplo de solidariedade partiu de Governador Valadares, no Vale do Rio Doce. Em tratamento contra um câncer na cabeça, o estudante Arthur Gonçalves, de 17 anos, foi surpreendido ao ver colegas de sala de cabelos raspados, num ato explícito de apoio. Arthur faz parte do grupo de 9.386 novos casos da doença em crianças e adolescentes estimados pelo Instituto Nacional do Câncer (Inca) este ano no Brasil. Com base nessa estatística, a Sociedade Mineira de Pediatria calcula que Minas Gerais concentrará 960 dessas ocorrências e Belo Horizonte, 170. Dados mais recentes do Inca mostram que, entre 2000 e 2003, a capital mineira registrou 467 casos de câncer entre pessoas de até 19 anos.

A estimativa do instituto é de que, do total de 490 mil casos previstos da doença no país para este ano, cerca de 3% sejam em crianças e adolescentes. A baixa incidência no grupo que representa cerca de 38% da população brasileira torna a doença rara. Ainda assim, é a segunda causa de mortalidade nessa faixa etária, atrás apenas de causas externas, como acidentes. Os tipos mais comuns são as leucemias, quando há falha na produção do sangue pela medula óssea; os linfomas, que atingem o sistema linfático; e os tumores no sistema nervoso central e na medula espinhal.

Apesar disso, o câncer está longe de ser atestado de óbito, principalmente entre os mais novos. “A gente sempre viu o câncer como uma foice ou uma forca. As taxas de sobrevivência em crianças e adolescentes chegam a até 80%. É uma doença com grande potencial de cura e os mais jovens respondem bem melhor ao tratamento”, afirma o presidente do Comitê de Onco-Hematologia da Sociedade Mineira de Pediatria, Joaquim Caetano de Aguirre Neto. A prova está presente no sorriso da adolescente Kelly Rogéria de Lima Santos, de 17. Há um ano e meio, ela venceu uma leucemia contra a qual lutou desde os 12. “Não perdi minha adolescência, acho que ganhei outras experiências. Apesar de estar todo mundo em tratamento no hospital, era bonito ver a alegria e a confiança dos pacientes”, conta, emocionada.

Na casa de apoio Fundação Sara, no Bairro Serra, na Região Centro-Sul da capital, sete crianças e adolescentes do interior de Minas, em tratamento contra o câncer na capital, vivem, junto dos familiares, os desafios trazidos pelo câncer e tentam, com a leveza característica dessa faixa etária, driblar a saudade de casa e a dor do tratamento, sem deixar de sonhar. “Quero jogar bola, virar jogador de futebol e conhecer o Neymar. Mas, agora, não posso me machucar porque minhas plaquetas estão baixas”, conta João Paulo, de 5, que deixou, na companhia da mãe, Maria de Lourdes Francisca da Silva, de 43, os três irmãos em Turmalina, no Vale do Jequitinhonha, para se tratar em Belo Horizonte.

“Vemos que essas crianças são especiais, sempre tentam lutar pela vida. Elas são uma fortaleza”, define a superintendente de assistência social da Fundação Sara, Telma Campos dos Anjos. E como, tão novos, enfrentar uma doença que altera a vida da família inteira? “A nossa orientação é nunca mentir e enganar. A grande postura é ter esses pacientes como aliados. É importante que tenham noção do que vai ocorrer com eles. Tem que funcionar como um jogo contra a doença, seja na cura, seja no alívio do sofrimento”, diz o pediatra oncologista Joaquim Caetano.

Serviço

Interessados em fazer doações à Fundação Sara podem entrar em contato pelo telefone (31) 3284-7690


Conheça um pouco mais sobre o câncer

O QUE É
O câncer é uma doença que envolve a multiplicação descontrolada de células anormais. Esse fenômeno pode ocorrer em qualquer lugar do organismo.


CAUSAS
A doença é causada por uma propensão genética, associada a fatores ambientais como tabagismo, consumo de álcool, sedentarismo e obesidade. Em crianças e adolescentes, ainda não há evidências científicas que definam os fatores de risco. A grande resposta para o câncer infanto-juvenil está no fato de que, nessa faixa etária, o organismo está em desenvolvimento. Durante a multiplicação intensa das células, algumas delas podem apresentar defeito e se transformar em foco de um tumor.


FAIXA ETÁRIA
A maioria dos casos de câncer infantojuvenil é descoberta na faixa etária de 4 a 5 anos. O outro pico de incidência é entre adolescentes a partir de 14 anos.


TIPOS COMUNS
As leucemias, quando há falha de produção de sangue na medula óssea, são os tipos mais frequentes de câncer na infância e adolescência. Também são recorrentes linfomas, tumores nos gânglios do sistema linfático, situados principalmente no pescoço, axila e virilha, além dos tumores do sistema nervoso central e medula espinhal.


COMO IDENTIFICAR
Em crianças e adolescentes, o câncer geralmente não se apresenta a partir de sintomas específicos. A febre persistente, sem causa definida, é um sinal de alerta. Ínguas que não desaparecem também podem ser um indicativo. No caso de câncer na retina, o reflexo branco no olho em fotografias faz parte do diagnóstico.


PREVENÇÃO
Como as causas em crianças e adolescentes ainda não estão bem definidas, a prevenção é um desafio para o futuro. A recomendação é fazer o controle médico periodicamente com um pediatra.


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