Jornal Estado de Minas

Veja depoimentos de outras crianças que lutam contra o câncer



João Paulo completou 5 anos na semana passada, com direito a bolo, decoração do Ben 10, sucesso entre a meninada e uma infinidade de sonhos. “Quero viver até os 100 anos e ficar maior do que meu irmão Jonathan, que tem 14”, conta. Poderia ser um desejo ousado, mas não para ele, que já aprende a valorizar mais a vida. Há quase três meses na luta contra uma leucemia, o garoto que saiu de Turmalina, no Vale do Jequitinhonha, para se tratar em BH, a 500 quilômetros de distância da família, dribla a doença com a leveza típica da infância e planeja um futuro promissor. “Tenho tempo para tudo, quero fazer tudo.”



Por enquanto, ele só dispensa planos em relação ao cabelo, que ainda não pode ficar no estilo moicano, como o do ídolo Neymar, craque do futebol. “Tomei remédio e o cabelo caiu. Meu tio disse que, para minha cabeça ficar igual a uma bola de boliche só faltam os furinhos”, emenda o menino no conforto do novo lar, a Fundação Sara, casa de apoio a crianças e adolescentes com câncer.

Há três meses fora de casa, a mãe do menino, a dona de casa Maria de Lourdes Francisca da Silva, de 43, tenta dosar as informações sobre a doença e a acostumar a família à nova rotina, que deve persistir por mais dois anos. “Nesse momento, infelizmente, só posso ser mãe do João Paulo, é o que falo para os outros três filhos, que estão com meus irmãos”, diz Lourdes, que parou de trabalhar. Mas, se no início a dor foi grande, ela conta que a doença “invasiva e chocante” trouxe compensações. “Se não fosse por um motivo tão triste, poderia dizer que sou feliz. Conheci pessoas solidárias, vi que o sorriso do filho vale ouro.”

"Quero cuidar de pacientes como fui cuidado"


Marcos Fonseca da Silva, de 13 anos (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)


“Levantava às 5h, atravessava o rio de barco e andava dois quilômetros até pegar o ônibus para a escola. Voltava para casa às 12h30, fazia o dever e depois ajudava meu pai na roça. O que mais gosto é de tocar vaca no pasto.” É com saudade que o adolescente Marcos Fonseca da Silva, de 13 anos, conta da rotina cumprida até o fim do ano passado na cidade natal, Araçuaí, no Vale do Jequitinhonha, a mais de 650 quilômetros da capital mineira. Em tratamento em BH, o menino acabou de passar por uma cirurgia para retirar um tumor maligno na cabeça e espera autorização dos médicos para começar a radioterapia. Abrigado com o pai, o agricultor Dorival Borges da Silva, de 63, na casa de apoio Fundação Sara, em Belo Horizonte, ele, além de aprender a jogar videogame, descobriu, com a doença, sonhos que vão muito além da cura. “Sinto que estou melhorando. Pretendo voltar para a escola e me formar para ser médico. Quero cuidar de pacientes como fui cuidado.”



"Estamos aproveitando o tempo para ser feliz"

Maria Eduarda, 3, portadora de leucemia (foto: Alexandre Guzanshe/EM/D.A Press)


“Volta para brincar com a gente!” Quem escuta o convite de Maria Eduarda, de 3 anos, jamais imagina que, nos últimos seis meses, ela divide a rotina de brincadeiras com as sessões de quimioterapia no Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), no Bairro Santa Efigênia, na Região Centro-Sul de BH. Uma anemia, em dezembro, foi o primeiro passo para a descoberta de uma leucemia. “Ficamos 14 dias no hospital em janeiro. Chegamos em BH sem família, sem saber de nada”, conta a mãe da garota, Lília de Oliveira Costa, de 24, que deixou o trabalho e o marido em Ipatinga, no Vale do Aço, para acompanhar o tratamento da filha.
As duas foram acolhidas pela casa de apoio Fundação Sara, no Bairro Serra, na Região Centro-Sul, onde ficam quando não estão no hospital. “Ela está ficando uma semana no hospital e uma em casa. Mas até Ipatinga são quatro horas de viagem. É desgastante, então, por enquanto, estamos na fundação. O bom é que Duda não tem noção da doença, nem do perigo e é por isso que a recuperação é boa. Já tentei buscar respostas para esse câncer, mas agora entreguei na mão de Deus. Estamos aprendendo a aproveitar o tempo para ser feliz.”

Sonhos que combatem a força da fatalidade

“Tenho 15 anos e um câncer terminal. Criei esta lista porque há muitas coisas que ainda quero fazer na minha vida. Algumas são possíveis, outras continuarão como um sonho. Meu blog é para documentar este tempo precioso com minha família e amigos, fazendo tudo que gosto. Só temos uma vida... Vamos vivê-la!” É dessa maneira que a jovem inglesa Alice Pyne se apresenta no perfil do blog que criou há 15 dias para compartilhar com “alguns amigos” sonhos que pretende realizar até o fim da vida. O diário virtual ganhou repercussão internacional e, em menos de uma semana, mais de 230 mil internautas passaram a acompanhar Alice. Com a iniciativa, além de milhares de seguidores, a garota conseguiu arrecadar cerca de R$ 75 mil em doações para pesquisas sobre o câncer.



Frente a um diagnóstico pessimista, a adolescente, que tem um linfoma (câncer no sistema linfático), decidiu aproveitar o máximo da vida “antes de ir embora”. A ideia de fazer o blog veio dos conselhos da mãe. “A mamãe sempre me diz que a vida é o que a gente faz dela e, por isso, farei o melhor que puder.” Com maturidade de uma guerreira, ela fala naturalmente sobre a doença: “Estou lutando contra um câncer por mais de quatro anos e agora sei que ele está me vencendo e não parece que vou ganhar esta. Penso que meu câncer, particularmente, seja muito forte. Isso é difícil, pois sei que fiz o máximo e que também sou forte e determinada.”

No topo da lista de 17 desejos está o sonho de fazer com que todo mundo assine a lista de doadores de medula óssea. Alice também pretende inscrever sua cachorra Mabel num concurso, nadar com tubarões, fazer uma sessão privada de cinema com as melhores amigas, participar de uma sessão de fotos com a irmã e três amigas, fazer uma massagem nas costas, ver baleias, ter um Ipad roxo, arrumar o cabelo (se alguém puder fazer algo com ele), viajar em um trailer, desenhar uma caneca cuja venda seja revertida em caridade, ficar em um quarto de chocolate no parque de diversões.

Entre os sonhos, há aqueles que ela não tem expectativa de realizar, como ser uma treinadora de golfinhos e viajar para o Quênia. Mas também desejos já concretizados, como conhecer a banda Take That, no último fim de semana. “É preciso também saber o limite da medicina e lembrar que a morte é um evento natural na vida de todo mundo. Não é questão de quanto mais tempo melhor, mas de ter qualidade de vida. Temos que dar chance ao tempo que resta”, afirma o presidente do Comitê de Oncohematologia da Sociedade Mineira de Pediatria, Joaquim Caetano de Aguirre Neto, ao tratar sobre casos de pacientes terminais como Alice. (FA)

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