A ciclovia da Região Centro-Sul de Belo Horizonte, chamada de Rota Savassi, com 2,8 quilômetros de extensão, pontapé do projeto que planeja implantar 138 quilômetros de pistas para bicicletas na capital até 2020, está prevista para ser inaugurada mês que vem, mas já foi atropelada pelo desrespeito e pelo vandalismo. Ao longo da Rua Professor Morais, no Bairro Funcionários, blocos de concreto, que delimitam a via, estão quebrados e carros estacionam no trecho exclusivo para ciclistas. A depredação obrigou a BHTrans, empresa que administra o trânsito da capital, a refazer parte do serviço.
A má notícia é que o exemplo de incivilidade não aparece apenas na nova ciclovia – que está dentro do investimento de R$ 1,16 milhão em 18 quilômetros de pistas a serem implantados até o fim do ano – e deixa rastro em parte dos 22 quilômetros já existentes. Na avaliação do coordenador do grupo Mountain Bike BH, Humberto Guerra, militante da causa, trata-se de reflexo de pessoas que ainda não veem a bicicleta como meio de transporte. “E não adianta só implantar ciclovias, mas mostrar o valor da bicicleta”, afirma o ciclista, que trocou o carro por uma bike, desfazendo o mito de que a montanhosa BH não combina com a “magrela”.
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Na Avenida Tereza Cristina, que corta bairros da Região Noroeste e Oeste, ao depósito de entulho e à invasão de carros, que obrigam o ciclista a passar junto aos carros, se soma uma via mal planejada. Situada abaixo do nível da pista de veículos, a ciclovia fica alagada mesmo com chuva mais fraca. “Há uns pedaços muito ruins para andar, com muitas poças. A manutenção aqui é rara”, afirma o servente de pedreiro Bruno Aparecido Gonçalves, de 21.
Com tantos problemas, o estudante Felippe Kennedy, de 19, que também trafega diariamente pela Tereza Cristina, e nessa segunda-feira se arriscava em meio aos carros, conta que já foi quase atropelado. “Temos que fazer muitos desvios.” Tarefa mais complicada para o vendedor de pães Rafael da Silva, de 17, que leva a mercadoria na bicicleta. “Sempre há carro estacionado na ciclovia.”
Enquanto os ciclistas ficam suscetíveis a acidentes, os motoristas que estacionam nas ciclovias têm a justificativa na ponta da língua. “É rapidinho, parei só para pegar um dinheiro com um cliente”, diz José Maria Duarte, de 46. Na tarde dessa segunda-feira, ele desviou o carro dos blocos de concreto da Avenida Professor Morais e o parou na área de tráfego exclusivo de bicicletas, onde antes havia vagas de estacionamento rotativo. “Esta ciclovia tirou 40% do movimento da minha loja. Em 28 anos, nunca vi ciclista aqui. Não justifica uma obra dessa”, afirma o empresário Paulo Justino Gomes, de 51.
Educação
O coordenador de projetos de trânsito da BHTrans, José Carlos Ladeira, lamenta a depredação e diz que, além de implantar as pistas, o programa Pedala BH promove campanhas educativas para incentivar o uso da bicicleta. “Enquanto o cidadão não perceber que a ciclovia é de todos, vai ser complicado. Os moradores têm que denunciar as destruições.” Sobre as pistas antigas, Ladeira afirma que a ideia é incorporá-las à administração da BHTrans, função delegada às regionais.
Para o mês que vem, estão previstas a inauguração da ciclovia da Região Centro-Sul; da Avenida Américo Vespúcio, no Bairro Caiçara, Região Noroeste; e na Via 240, na Região Norte. A construção da pista do Barreiro começa nas próximas semanas. Inicialmente planejada para este ano, a revitalização da ciclovia da Avenida Doutor Álvaro Camargo, em Venda Nova, será adiada, pois a via será usada como desvio quando for iniciada a duplicação da Avenida Pedro I.
Ciclovias que serão construídas até o fim do ano
Risoleta Neves, na avenida de mesmo nome, na Região Norte
Barreiro, nas avenidas do Canal e Afonso Vaz de Melo
Américo Vespúcio, na avenida de mesmo nome
Savassi, na Rua Professor Morais, Avenida Bernardo Monteiro e Rua Piauí
Andradas, na Avenida dos Andradas, Rua Itaituba e Avenida Elísio de Brito: obra contratada
Ciclovias já existentes
Lagoa da Pampulha, na Avenida Otacílio Negrão de Lima, entre a Igrejinha São Francisco e o Museu de Artes da Pampulha
Avenida Tereza Cristina, trecho próximo à Via Leste/Oeste
Avenida dos Andradas, com início na Avenida Silviano Brandão até a Avenida do Contorno
Avenida Dr. Álvaro Camargo, em Venda Nova
Avenida Vilarinho, em Venda Nova
Fonte: BHTrans