Belo Horizonte agora tem em mãos um diagnóstico completo de cada porção que forma a capital. O mais detalhado estudo do IBGE, o Censo, traçou os pormenores de todos os bairros, mapeando peculiaridades antes desconhecidas da população e do poder público: do mais populoso (Sagrada Família, na Região Leste, com 34,3 mil pessoas) ao com maior proporção de mulheres (Vila Cônego Pinheiro, também Leste, com 59,3 homens para cada 100 mulheres) e velhos (Cidade Jardim, na Centro-Sul, com 331,9 idosos para cada grupo de 100 pessoas com até 14 anos), lembrando um traço típico de Copacabana, no Rio de Janeiro.
Antes do Censo 2010 não havia possibilidade de estabelecer as divisões entre bairros em BH, o que dificultava a proposição de políticas públicas. Por isso, a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) e o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) fizeram um estudo para delimitar esses limites. “Em termos de políticas públicas é uma fonte riquíssima. Podem-se criar medidas específicas para um certo bairro”, indica a economista e doutora em demografia do IBGE Luciene Longo.
Se antes já se aferia que a população da cidade estava envelhecendo, agora é possível identificar que o Bairro Cidade Jardim é o que apresenta, proporcionalmente, o maior número de idosos em relação aos que se encontram na faixa etária até 14 anos. Um quarto dos moradores tem mais de 65 anos. Os quatro seguintes (veja arte ao lado) também estão na Centro-Sul.
Solteira e feliz, aos 80 anos, a enfermeira aposentada Maria Helena Caminha de Aguiar ama o Bairro Cidade Jardim, na Região Centro-Sul de BH. Moradora há 30 anos, ela diz ter muita tranquilidade para caminhar à tarde, fazer compras ou simplesmente ler uma revista na Praça Professor Godói Betônico. “O comércio aqui é muito bom, a gente encontra de tudo. Vou sempre à igreja, visito meus parentes, faço supermercado e não preciso de carro para os compromissos e lazer”, comemora.
Na tarde dessa sexta-feira, depois de algumas comprinhas, Maria Helena descansou num banco sombreado da praça. “Só mudaria daqui se fosse para a Vila Paris, que é bem pertinho”, afirmou. Vaidosa, considera o tempo um verdadeiro escultor, e não tem do que reclamar da passagem dos anos. “Tudo pode ser uma obra de arte, inclusive o envelhecimento.”
Num outro banco do espaço público, em frente à Igreja de Santo Inácio, a viúva Léa Moreira, de 85, curtia a tarde ao lado do filho Edgard Moreira Júnior, de “61 anos e nove meses”, solteiro. Léa, como Edgar, só tem elogios à infraestrutura da região. “Estou muito bem aqui.”
Ranking nacional
Na lista nacional de proporção entre idosos (acima de 65 anos) e crianças e adolescentes (até 14 anos), o Cidade Jardim aparece na oitava posição, com 3,3 vezes mais pessoas do primeiro grupo em relação aos mais novos. Mas o índice nacional pode apresentar uma distorção. Ao se analisar a taxa a partir do bairro belo-horizontino, a diferença entre os demais é apenas pontual. No caso do líder do ranking entre os 14 mil do país, o Clube de Campo, em Piracicaba (SP), são 46 vezes mais pessoas com mais de 65 anos em relação a crianças e adolescentes de até 14 anos. Lá está localizada a primeira cidade geriátrica do Brasil: o Lar dos Velhinhos de Piracicaba, que atende mais de 300 pessoas.
Densidade em dois extremos
Com população quase quatro vezes maior que Capim Branco, na Grande BH, o bairro mais populoso da capital é dos mais antigos, tem um cotidiano meio parecido com o interior, mas se assusta com o trânsito e a violência. No Sagrada Família, na Região Leste, ao lado do filho André Felipe, de 16 anos, o advogado Edval Alves da Cruz Júnior, de 55, credita à proximidade com o Centro um dos motivos para a concentração populacional, conforme os dados do Censo 2010. Ele, o filho e mais de 34 mil pessoas residem lá. “Moro no bairro há 28 anos, sou do tempo em que havia uma igreja católica no lugar do supermercado. Então, conheço bem”, afirma Edval, que se queixa da falta de agências bancárias, “a não ser na divisa com o Floresta”.
Na tarde dessa sexta-feira, o movimento de veículos era incessante na Rua Conselheiro Lafaiete, mas, na Praça Nilo Peçanha, nada tirava a calma de uma dezena de homens dedicados ao jogo de damas. André Felipe apontou uma questão incômoda, a falta de segurança em alguns trechos. “Muitas famílias têm origem no interior de Minas e há também muitas casas”, destaca o advogado.
Mas, por tratar-se de um bairro antigo e extenso, o que chama atenção na lista dos mais populosos é a segunda colocação: o Buritis. Localizada na Região Oeste, a área sofre com a explosão demográfica nas duas últimas décadas, sendo praticamente o oposto do Sagrada Família. Nascido na década de 1980, é distante do Centro, tem população mais jovem, principalmente casais, e, de longe, se destacam os prédios. “O bairro está bem inchado, mas vem aí o Buritis 2, com a construção de 2 mil unidades nos próximos três anos”, adianta Frederico Papatella Padovani, diretor administrativo de uma imobiliária.”
Aglomerados
Se os bairros centrais exibem mais concentração populacional e maior número de idosos em relação a crianças e adolescentes, nas vilas e favelas há duas características marcantes: maior média de moradores por domicílio e maior proporção de mulheres para homens. Entre os cinco bairros que lideram o ranking de média de pessoas por imóvel, todos estão em aglomerados: Barão Homem de Melo 2ª Seção; São Francisco de Chagas; Vila Suzana 2ª Seção; Vila Batik e Mirtes. E é também nas vilas e favelas que são encontradas mais mulheres em relação aos homens. No Cônego Pinheiro 2ª Seção, vizinha ao Bairro Santa Efigênia, por exemplo, a cada 100 mulheres são identificados 59 homens. A única exceção entre os cinco primeiros deste índice é o Bairro Boa Viagem. Antes classificado como Funcionários, é o terceiro da lista, com 66,6 homens para cada mulher.